Ele (Prólogo parte 3)

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Eu não consigo dormir.

Depois de tudo aquilo, meu coração simplesmente está desesperado, como uma arritmia. Sempre que fecho os olhos, os abro no mesmo instante, sem conseguir relaxar e descansar.

Dormir nunca foi problema, mesmo que nos últimos dias eu dormisse em excesso, a falta de sono nunca foi realidade para mim.

A Espécie é inteligente pela necessidade. Cria por necessidade. Mas há muitas coisas que eu não sei.

Muitas delas me afetam e me envolvem diretamente. Pisco com força, mantendo os olhos fechados. Ele estava perto demais, com algum esforço ainda sinto sua respiração tocar minha pele. Toque.

Passo os dedos pelos olhos com certa força, os fechando novamente, já que teimavam em abrir e relembrar aquele dia estranho.

Não há drones passando.

Me levanto, vendo o relógio marcar três e quarenta e dois da manhã. Logo deveria estar de pé. Olho o janelão de vidro, me aproximando dele para ver a noite. O céu inteiramente negro, numa imensidão vazia, o muro branco cercando tudo, de forma que apenas o buraco negro acima de tudo era visível. O céu parecia um buraco negro. Olho para baixo, por instinto.

Meu coração falta saltar pela boca, como se tivesse sido surpreendido, levado um tipo de susto. Ele. Olhando para a minha janela, agora olhando para mim. Está longe, muitos andares abaixo. Mas eu sei que é ele. De alguma forma... Não poderia ser outro.

Ele está olhando diretamente para mim agora. Minhas mãos estão frias, as palmas deslizando na barra de ferro em que me apoio, como se estivessem úmidas. Minha garganta seca como se precisasse do líquido há dias. Meus lábios se abrem sozinhos, buscando mais ar. Mas não era como aconteceu naquele corredor. Era diferente.

Meu corpo parecia reagir.

O que você está fazendo aí embaixo? O que tanto olha? Por que você está aí? Não posso perguntar nada disso.

Aperto meus olhos com força, virando de costas para ele, me voltando para dentro de meu quarto. Quando volto a olhar de soslaio, prendendo minha respiração, não há ninguém.

Sento-me na cama, suspirando e me deixando cair deitado de costas sobre ela. É como se de repente eu notasse.

Em meu quarto, cada coisa e cada objeto tem seu devido lugar. É assim em todo o meu apartamento. Mas agora é como se a cama estivesse na cozinha, o fogão no banheiro, o chuveiro abrisse deixando a água sair pela janela. Dentro de mim. Dentro de mim algo estava fora do lugar. Não era como uma cama na cozinha. Era como um livro faltando na estante. Algo que somente eu sou capaz de perceber.

Mas não me lembro qual é o nome do livro.

É dia. O relógio desperta, apesar de que eu não preciso dele hoje. As coisas são úteis, até você não precisar delas. Aquele som hoje me pareceu inútil.

Tiro as roupas no quarto, sem comer primeiro, tomando o um banho mais longo. A água cai quente em minha cabeça, e tento pensar em algo que não seja aquilo. Penso nas telas. Penso em Taehyung e seu comportamento atípico. Penso. Penso.

Meus dedos enrugados. Vinte para as seis. Saio apressado da cabine, me trocando e tentando secar os cabelos ao mesmo tempo. É dia Um de novo.

O mês treze ainda está longe, mas é resultado da mudança da contagem. Calço, e me analiso no espelho. Cabelos úmidos ainda, mas é o melhor que posso fazer agora. Saio.

_Bom dia Sunhe.

Ela para seu trabalho por um instante, me olha, e murmura um cumprimento. Contagem Dois. Vou apressado, com passos largos até o prédio. Apressado. Apressado. Não posso olhar para trás agora, mas sei que ele esteve bem naquele ponto, essa madrugada. Apressado.

NÓS | Jikook [CONCLUÍDA] (BETANDO)Where stories live. Discover now