Gritos

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Ele me olha, como se ainda não tivesse certeza do que dizer, sua boca se mexe levemente, mas não é capaz de produzir som sozinha.

E no escuro, nos olhamos, apenas a iluminação de fora entrando pelo apartamento. Jimin se escora na parede, colocando os braços por trás do corpo, enquanto sento em minha cama, sobre minhas mãos espalmadas no colchão, e pés pendurados por conta disso.

Esse era mais um dos momentos em que não precisávamos falar nada?

Não parece, porque me sinto estranho, tenso, e cheio de algo que me incomoda, tanto quanto o silêncio.

_Eu... _ele começa, tomando toda a minha atenção, mesmo que não tenha erguido a cabeça, estou concentrado em sua voz, até mesmo sua respiração.

_Eu tenho muitas coisas para te dizer, e te mostrar, mas de repente... Não consigo organizar meus pensamentos, _Ele murmura, e assinto devagar. Siria passa entre nós, fazendo sua ronda e limpando quaisquer partículas de poeira.

Apenas o som de seu sistema, um zumbido extremamente baixo, pode ser ouvido.

_Mas eu vim, porque realmente senti sua falta. E porque não pudemos nos falar antes. _continuou, mas nem mesmo assim encontrei forças o suficiente para encará-lo e falar de volta.

E isso estava me desesperando por dentro.

Depois de passar o dia dopado, lentamente sinto o que realmente tinha por baixo das doses do remédio: medo. Tenho medo, do que já passou. A agonia de caminhar pelos corredores do laboratório, pensando que tinha sido descoberto. Não foi nada fácil passar por isso sozinho, mas então...

_Eu estava preocupado com você, e não pude vir até você, porque caso estivessem te vigiando... Tudo iria pelos ares. Mas a tristeza me consumiu, pensando que algo tivesse acontecido.

Jimin ficou preocupado, e triste.

Engulo em seco, sentindo a agonia crescer dentro de mim. Não podemos apenas...

_Eu não dormi, esperei você chegar, tentei ouvir qualquer sinal vindo da parede, te esperei na cabine... Mas você...

O interrompo, quase saltando de meu lugar, abrindo meus braços até encontrar e acolher seu corpo, apertando o tecido de sua roupa de dormir com força entre meus dedos.

Jimin parece surpreso, mas não demora a me abraçar, enquanto desando a falar. _Sinto muito. Sinto muito, muito por te fazer ficar triste e preocupado. _falo.

Queria explicar o que tanto sentia, mas ou não seria suficiente, ou seria demasiado.

Então me contento em abraçar seu corpo cansado.

Jimin acaricia meus cabelos e minhas costas, enquanto meus olhos e nariz ardem, e aquecem, a ponto de produzir lágrimas. Eu não tenho a memória de que algo assim tenha me ocorrido em uma situação que não fosse uma de minhas crises, ou no dia em que pedi Jimin para que falasse comigo, num de nossos primeiros contatos.

_Tudo bem... Tudo bem... O importante é que está aqui, comigo, agora. Nada aconteceu. _começou a falar, enquanto eu tentava recuperar minha respiração. _Shh...

E mais uma vez, passamos o tempo assim.

Ele pergunta se fizeram alguma coisa. Respondo sobre os remédios. Ele fala que vai garantir que eu coma e melhore logo. Agradeço, assentindo contra seu ombro.

Mas não nos soltamos, de alguma forma.

Ele parece realmente cansado, e escora na parede, enquanto ainda estamos atrelados. Sinto seu cheiro direto de sua pele, inspirando o ar em seu pescoço, sentindo também sua textura. E ele tem razão, está tudo bem, e estamos seguros aqui.

NÓS | Jikook [CONCLUÍDA] (BETANDO)Where stories live. Discover now