Incômodo

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As luzes falham sobre minha cabeça, enquanto encaro Jimin, sem piscar, sem vacilar. Estou em completo choque, muito maior do que qualquer grau de terremoto já tenha causado.

Ele me encara, deixando de me tocar, ainda parado diante de mim. Alguns centímetros nos separam, talvez a distância de uma régua de mesa, mais do que qualquer outro já tenha feito, nessa intensidade. Ele está calmo, como o vento que balança a copa das árvores no fim de tarde. Respirando calmamente, ainda me encarando. Até começar a se aproximar de mim, aos poucos, analisando cada parte de meu rosto. Se aproxima mais.

_Os tremores acabaram, se mantenha em local seguro, dentro de seu apartamento. O Olho protege a Espécie. _A voz soou por todo o local, e notei que as sirenes e luzes não exerciam nenhuma tarefa. Tudo tinha voltado ao normal ao meu redor.

E Park Jimin está indo embora.

_Ei! _Chamo, indeciso sobre o que dizer, e ainda surpreso. Mas ele sequer me ouve, ou finge que não, sai pelo corredor, com a mão na boca, esfregando de leve, e depois puxando os cabelos para trás, saindo completamente da minha visão.

Estou estático na parede, com as costas coladas nela. Não consigo me mover imediatamente, e voltar para o meu apartamento. Jimin me tocou. Isso é estritamente proibido, principalmente quando havia aquilo na expressão dele. Emoções.

Tento respirar profundamente, me levantando, olhando ao redor, notando tudo absolutamente deserto, já que era tarde da noite. Subo pelo elevador, fechando os olhos. ainda consigo sentir a suavidade daquele toque, é como se meu cérebro tivesse gravado a sensação.

Porque ele me deu vontades.

Uma vez, quando pequeno, vi um vídeo de um animal, um cão, cujo os ancestrais costumavam domesticar, recebendo toques pela primeira vez na vida. Ele parecia gritar. Chorava desesperado, esperneava, saía do contato com o humano e voltava.

Fiquei apavorado, vendo que toques causavam aquela sensação tão pavorosa, porque me sentia assim nos tremores de terra. Automaticamente entendi que toques são prejudiciais a saúde, e trazem emoções, que são terríveis por si só, mas ainda piores por serem tão negativas.

Mas... Hoje eu entendo aquele cão.

Eu consigo sentir o desespero alastrar pelo meu corpo, me fazer querer correr, bater nas paredes do elevador. Porque é agonizante saber que vivi mais de vinte épocas sem conhecer essa sensação.

Minha mente está a mil, supondo e pensando muitas coisas ao mesmo tempo. Mas tudo para, quando chego ao corredor do meu apartamento. Ele passou por aqui agora a pouco.

Eu sempre tive reflexos de emoções, mas desde que tomasse os supressores, tudo estaria bem. Acontece que faz alguns dias que não tomo nenhum. E o toque dele, não me causou repulsa ou medo. Ou talvez tenha causado. Mas estavam atrelados a uma nova emoção, que desconheço completamente.

Se tivesse sob o uso dos supressores eu teria gritado? Teria denunciado Jimin?

Engulo em seco, me aproximando de sua porta, encarando-a fechada. Comprimo os lábios, analisando.

Não faço nada. Entro em meu apartamento, fechando a porta e me escorando atrás dela. Siria logo se aproxima, com seu meio metro de altura, quase graciosa. Eu preciso falar.

_Boa noite Jungkook. Passou da hora de dormir, já tomou os supressores hoje?

Encaro a lataria branca e pequena, com seus olhos de LED azulada. Engulo em seco, me aproximando e me agachando, ficando na altura da robô.

_Siria...

Ela não diz nada, esperando algum comando. Pondero. O que falaria com ela? O que ela poderia me responder além do esperado e educado pela espécie? Suspiro, encarando o chão.

NÓS | Jikook [CONCLUÍDA] (BETANDO)On viuen les histories. Descobreix ara