No primeiro grito que Felipe deu, Mateo me olhou sorrindo e beijou minha testa.
- Nosso menino chegou...
Assenti emocionada e sem conseguir falar uma palavra eu apenas sorri.
Em seguida nossa Natálie veio.
Tudo foi um borrão rápido, desde a minha festa de 18 anos onde conheci Mateo, engravidei, então ele me tirou da casa dos meus pais, nos casamos no cartório onde apenas minha família participou, larguei tudo e então ele me trouxe para os EUA, em Nova York. E então hoje, quando minha bolsa estourou antes da hora e tivemos que correr para o hospital para uma cesariana de emergência.
Agora eu olho apaixonada para os meus filhos um em cada braço de Mateo, eles dormem já alimentados e quentinhos.
- Durma. Você precisa descansar. Eu não vou pregar os olhos um minuto olhando essas coisinhas maravilhosas que nos fizemos.
Sorri e assenti.
- Eu estou mesmo exausta. Me chame qualquer coisa...
Ele assentiu e eu apaguei.

6 anos depois

Mateo me olhava raivoso quando eu dizia que não estava afim de ir ao casamento de uns amigos do trabalho dele.
- Eu preciso ir.
Rugi de raiva.
- Natálie esta queimando em febre, Felipe não esta muito longe dela... Eu não vou largar meus filhos aqui, doentes pra atender um capricho seu. Se quer ir puxar o saco do seu gerente vá sozinho.
Me virei e o deixei no andar de baixo da nossa casa e fui até o quarto de Natalie que dormia agitada na cama pela febre.
- Ela já está medicada querida. Isso passa logo.
Recebi o abraço de Márcia nossa ajudante e fiquei ali até ouvir Mateo batendo a porta do nosso quarto.
- Ele é um idiota. Nunca ia deixar os dois aqui pra ir atrás dele numa merda de casamento de aparências.
Márcia negou e acariciou meu rosto.
- Isso vai passar.
Suspirei e me deitei com Natálie e Felipe na cama de casal grande do quarto de hóspedes.
- A mamãe ama vocês.
Eu disse abraçando o corpinho deles junto do meu.
Não sei quanto tempo passou mas acordei com Márcia me chamando e me passando o telefone.
- Quem é?
Ela negou com a cabeça e eu peguei o telefone me sentando.
- Alô?
- Mariana?
- Eu mesma.
- Sou David. Amigo do Mateo. Ele esta muito alcoolizado. Estou ligando pra saber se você pode vir busca-lo.
Rugi raivosa e quase desliguei o celular, mas pensando melhor e usando a minha compaixão pelo pai dos meus filhos resolvi escutar.
- Qual é o endereço? Pode me mandar via SMS? Chego em alguns minutos.
- Claro. Espero você.
Desliguei e vestindo um sobretudo grande caminhei até meus filhos que dormiam serenos e quase sem febre.
- Eu volto num minuto. Não acordem por favor... A mamãe ama vocês...
Sorri cobrindo melhor os dois e fui até a sala peguei a chave do meu carro, em seguida sai.
- Aquele imbecil... Como você consegue Mateo?? Seus filhos estão doentes...
Suspirei segurando o volante com mais força.
Droga.
Até sozinha ele me faz falar, de tão puta que me deixa.
Nem meu trabalho eu fiz hoje. Gemi chorosa... Eu precisava terminar uma leva de quadros para a exposição da semana que vem.
- E esse merda nem pra me ajudar...
Suspirei irritada, e no próximo segundo eu vi uma coisa atravessando na minha frente, enfiei o pé no freio, assim que eu tentei gritar...  Minha voz apagou junto com meu cérebro.

***

- Já fazem duas semanas Diana. Os médicos querem que eu decida.
Escuto meio aérea.
- Você não vai fazer isso... Nunca. Minha irmã vai voltar. Eu acredito nisso.
Diana esta aqui. Meu corpo todo dói. Ao menos não tenho dor nas pernas.
Tento abrir os olhos mas falho. Assim que tento me mexer o esforço faz com que eu apague mais uma vez.

***

- Minha irmã linda... Preciso que você acorde. Mateo esta ficando maluco.
Sinto Diana acariciar meus cabelos, e então um beijo na minha testa.
- Meus sobrinhos estão lindos, e já saudáveis. Eles melhoraram da virose. Mas chamam a mamãe. E eu sinto a sua falta. Eu sei que demorei a vir, mas meu trabalho me consome. Eu juro que vou te ouvir, vou me mudar pra perto de você, e vou te ajudar no que precisar. Você vai superar isso.
Ela já chorava e eu me esforcei no máximo para me mover e tentar abrir os meus olhos. Em vão. O que eu teria que superar... Todo esse esforço me deixou exausta, e eu apaguei mais uma vez.

***

1 mês depois

- Abre os olhos Mariana. Com calma. Diminuam a luz por favor.
Minha cabeça doía. Mas eu me esforcei para abrir os olhos. E aos poucos fui deixando de ver sombras e vi o médico.
- Olá Mariana, eu sou o doutor Afonso. E estou aqui pra cuidar de você.
- Não acredito que você acordou...
Minha irmã se aproximou segurando minha mão e já chorando.
- Você consegue falar? Sente alguma dor?
Forcei os lábios e só consegui soltar um gemido agoniante de dor na cabeça.
- Minha cabeça dói. E eu estou com muita sede.
Sussurrei. E o médico andou até o canto do quarto pegando um copo adaptado com canudo e então assim que senti a água descendo pela minha garganta, foi dor misturada com alívio. Eu precisava de água.
- Se sente melhor?
Assenti.
- Certo. Mariana você ficou um mês e meio em coma. Sofreu um acidente, se lembra?
Assenti.
- Preciso fazer uns exames  básicos agora. E em seguida um enfermeiro levara você para a tomografia e uma grande bateria de exames.
Assenti.
- Com licença.
Disse assim que retirou minha coberta.
- Me diga se sente.
Disse tocando minhas coxas.
- Eu sinto.
Ele desceu as mãos e em seguida entrei em desespero. Nada.
- Eu não sinto nada.
Disse entrando em desespero total. Me movi na cama e nada. Eu não consegui.
- Não sinto minhas pernas... Eu não sinto...
Gritei e comecei um choro desesperado.
- Se acalme. Esta tudo bem Mariana, você passou por um acidente e esteve em coma, isso pode passar.
Disse me segurando.
- Posso soltar.? Lembre se que qualquer movimento brusco pode vir a te prejudicar.
Assenti.
- Doutor... Por que eu não sinto minhas pernas?
Ele me olhou e engoliu a seco.
- Não tenho certeza. Preciso de mais exames.
E então Mateo entrou pela porta.
- Mari, amor... Como se sente?
Disse vindo em minha direção e deixando a maleta do trabalho no chão.
- Não é uma boa hora Mateo.
Ele a olhou de cara feia e então ele segurou minha mão.
- Vou continuar Mariana.
Eu assenti para o medico sem forças para falar com Mateo, apenas apertei sua mão.
- Diga se sente.
Ele foi até os pés da cama e com uma agulha fina fincou no meu pé.
Gritei foi desespero.
- Não sinto nadaaa....
Chorei sendo amparada por Mateo.
- O que esta acontecendo doutor? Minha esposa não vai andar mais?
O medico suspirou e endireitou a postura.
- Preciso de uma tomografia antes de dar um diagnóstico certo.
Mateo assentiu e me abraçou acariciando minha cabeça. Em seguida se afastou e caminhou pra fora do quarto com o médico.
- Calma Mari, vai ficar tudo bem.
Eu só virei a cabeça para o lado e chorei mais.
O que vai ser de mim agora?
A enfermeira veio, e vê ajudou a chegar na sala de exames. Por mais 2 horas seguidas fiquei fazendo exames e mais exames.
Quando tudo acabou, e eu estava novamente no meu quarto, Mateo entrou e se sentou na cadeira do meu lado segurando a minha mão.
- Eu quero que me perdoe. Que me perdoe por ter te engravidado tão cedo. Por não ter te dado a chance de fazer uma faculdade de pintura em Paris, que era o que você sonhava quando nos conhecemos, apesar de não ter feito falta alguma...
Deu uma risada irônica.
- Já que você ganha mais que eu em 1 quadro que vende.
Soltei sua mão e ele me olhou.
- Eu quero que me perdoe por fazer você sair de madrugada sozinha pra ir me buscar bêbado naquela festa, quero que me perdoe por você estar assim... E eu queria que me perdoasse também pelo q eu vou falar e fazer...
- Mateo...
- Não. Me deixa falar...
Ele suspirou e me olhou nos olhos.
- Eu ia te falar naquele dia... Ganhei uma promoção. Sou diretor da  Magnu's agora. Mas essa vaga não é daqui, então... Eu estou te deixando, e indo para China. Eu estou pedindo o divórcio Mariana.
O meu mundo ruiu pela primeira vez ali.
Eu só sabia olhar para Mateo. Ele só podia estar brincando...
- Eu sei que não vai ser fácil para você... Eu só não quero perder essa oportunidade. Eu não posso deixar isso me parar Mari... Me entende? Se eu ficar, nem trabalhar mais vou poder, você vai precisar de mim 24 horas por dia... Você está paraplégica Mariana. E não vai mais andar...
Minha respiração ofegante fez que ele me olhasse nos olhos.
- Mari... Mariana??
Ele foi me chaqualhando e eu só sentia uma forte dor no peito minha cabeça foi pesando e de repente veio a sensação de que minha cabeça estava explodindo.
Aquilo era um AVC.
- Um medico... Por favor um médico... Ela esta tendo um infarto...
Foi o que ouvi Mateo gritar. E depois daquilo, não vi mais nada.
Ali estava, o meu mundo ruindo pela segunda vez.

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