4

1.2K 74 0
                                    

Diana dirigia quando doutor Afonso me veio a cabeça.
- O que achou do doutor Afonso Di?
Numa freiada brusca ela parou no meio da estrada vazia.
- Mulher você quer me matar?
Gritou abrindo as janelas e colocando a cabeça pra fora respirando fundo.
Gargalhei como a dias não fazia e ela me olhava ainda espantada.
- Só perguntei o que você achou dele... Não a data do casamento.
Ela voltou a dirigir.
- Que casamento? Ta maluca Mari?
Ele é só seu médico.
Sorri de lado, estiquei a mão e peguei meu novo celular com meus contatos já salvos de volta e o novo número de doutor Afonso.
- Vou pedir pra quele faça uma visita lá em Montauk.
Minha irmã teve uma crise de tosse e me olhou engolindo a seco.
- Você vai me matar de vergonha. Já prevejo isso.
Ri mais uma vez e ela enfim estacionou na garagem da sua casa.
- Você tem certeza que vai deixar seu trabalho pra me ajudar?
Com um olhar feio ela tirou meu cinto.
- Eu vou falar pela última vez. Não quero nunca mais ter que repetir.
Disse colocando a minha cadeira ao lado do banco do carro.
- Eu sou a sua irmã mais velha... Quando se mudou pra cá, eu já morava a 1 ano sozinha. E meu sonho sempre foi trazer você comigo... Infelizmente aquele traste te trouxe antes, mas ainda sim fiquei feliz. Meus sobrinhos foram e são a minha alegria. Os fins de semana com eles, eram os melhores do mundo... Nossas idas ao shopping era meu motivo pra sair antes do horário do trabalho feliz da vida. Eu já trabalhei o suficiente para me sustentar o resto da minha vida. E agora eu cansei de viver longe. Quero ser a irmã que não fui a anos atrás... Por favor. Não me pergunte isso nunca mais. Eu te amo Mari, e vou fazer o que foi preciso pra te ajudar, nos vamos superar juntas... E vamos continuar juntas.
Suspirei chorando e a abracei apertado.
- Eu amo você também. Obrigada...
Nós duas ficamos naquela choradeira até a hora de dormir. Ela me escutou, me deu colo pra chorar tudo o que eu não chorei desde que recebi a primeira noticia de que não andaria mais.
Mateo só levou as crianças no fim do dia seguinte. E disse um adeus definitivo acenando de longe pra mim. Ele entendeu bem o recado de não me toque nunca mais.
A mãe de Mateo, dona Dulce chorou horrores quando contei que estaria indo embora. Deixei as portas da minha casa totalmente abertas pra quando ela quisesse ver os netos.
O antigo dono da casa em Montauk, disse que eu poderia me mudar assim que eu quisesse, mas me aconselhou a ir 1 semana depois, já que a temporada de chuvas lá estavam atrapalhando a estrada que leva até a casa. Uma coisa que eu preciso arrumar, com tanto barro como se passa lá numa emergência.
- Você não vai mais sair desse quarto? O sol esta tão lindo Mari. Por favor não se isole.
Diana entrou no quarto e se sentou na beira da minha cama.
- Estou apenas arrumando tudo para nossa mudança. Sinto que estou te deixando maluca com as crianças. Sua casa esta uma bagunça de brinquedos.
Minha irmã riu e tocou meus joelhos.
Olhei pra sua mão e pedi a Deus que eu sentisse algo mas nada vinha, nem uma leve pressão. Nada.
- Esta tudo bem. Isso não me incomoda.  Os beijos que ganho no fim do dia recompensa qualquer coisa.
Sorri. Meus filhos são muito educados e amorosos com a tia preferida de todas.
- Vou preparam um lanche pra você. Não consigo acreditar que deu anemia profunda nos seus exames.
Saiu resmungando pra fora do quarto e eu recostei nos travesseiros.
Nossa casa em Montauk já esta toda mobiliada e com todos os equipamentos que vou precisar para as fisioterápias, acessível para cadeira de rodas... Tudo lindo como sempre sonhei. Meu ateliê de pintura no ponto mais alto e todo de vidro pra ter a vista mais perfeita de todas...
Era meu grande sonho andar por toda quela redondeza com as crianças, brincar no gramado e na piscina maravilhosa que tem lá... Mas vai ser impossível.
4 dias depois, dona Madalena, a cozinheira, e o senhor Edvaldo, seu marido, me deram carta branca para voar pra lá. A chuva estiou e a estrada já estava em fase final de asfaltamento. Me custou uma pequena dúzia de quadros vendidos mas foi um bom investimento já que a prefeitura de lá me deu 3 anos de jardinagem grátis pra todo o meu quintal.
As crianças perguntavam do pai todos os dias. E eu chorava com Natalie quando ela se despedia do pai no telefone.
- Vai passar princesinha. Papai ama você, ele só precisa ficar longe agora pelo trabalho.
Ela assentiu ainda chorosa e se aconchegou ao meu lado dormente igual o irmão do outro lado e dormimos os 3 na cama, só acordando no outro dia com Diana dizendo que o caminhão que alugamos tinha chegado.
Nos EUA, você mesmo pode fazer sua mudança... Mas não é lá tão legal, já q vamos passar 2 dias na estrada.
- Mariana...
Diana me gritou azeda do seu quarto e eu sorri.
- Doutor Afonso disse que esta vindo pra cá ajudar...
Disse com uma careta não muito linda. Sorri e aplaudi mentalmente, vamos ter um bom dia.
Ela logo veio me ajudar da cama pra cadeira. Eu ajudei como pude até Afonso chegar.
- Isso que eu chamo de fortaleza em...
Disse assim que abri a porta pra ele, eu estava com algumas caixas de briquedo no colo e um espanador na mão boa.
Sorri pra pequena bonequinha que estava no colo dele.
- Finalmente vou conhecer a tão falada bonequinha.
A menina sorriu pra mim e Afonso a apertou lhe beijando. Natalie apareceu meio tímida e logo a arrastou.
- Venha Afonso. Diana estava louca pra você chegar e a ajudar.
Ele sorriu envergonhado e tenho certeza que assim q entrei no quarto de Diana com ele me acompanhando ela teve vontade de me matar.
- Mariana... Isso lá é jeito de me avisar que temos visita? Olha como estou.
Sorri pra seus cabelos ruivos como os da nossa mãe e cacheados num coque alto, as sardas mais evidentes pelo rubor denunciavam o quanto estava encantada com o doutor.
- Você esta linda Diana.
Ri e dei um leve empurrão em Afonso.
- Ajude essa mulher com suas caixas de perfume Afonso. Nem mesmo ela que vive falando que faz crossfit aguenta, eu olho as crianças.
Me virei pra sair assim que Diana perguntou se Liz tinha vindo junto.
Sorri e redirecionei minha cadeira pra cozinha onde ainda tinha algumas coisas da minha altura pra encaixotar.
No fim da noite já tínhamos acabado tudo e carregado tudo pro caminhão.
- Amanhã bem cedo a gente sai...
Diana disse deitada no tapete com Natalie e Felipe pendurados nela, Liz a pequena bonequinha envergonhada de escondeu no peito do pai.
- Eu vou pra casa. Amanhã bem cedo estarei aqui.
O olhei sem saber o que ele faria aqui.
- Combinei com Diana... Vou dirigindo o caminhão e vocês vão no meu carro. É mais confortável pra você e para ela que vai dirigir por 2 dias. Estou de férias do hospital a partir de hoje, Liz só volta para a escolinha em 5 dias com esse feriado prolongado.
Sorri feliz. Ia ser bom, não tinha ideia de como iria subir num caminhão e muito menos ideia de como iria sair de lá.
- Vai ser muito bom você lá com a gente. Assim você já sabe o caminho e volta sempre que quiser...
Ele sorriu e então olhou pra Liz que resolveu se soltar e gargalhava feliz com Diana que fazia cavalinho com os três.
- Eu só espero que não faça minha irmã sofrer. Só se aproxime se for pra ficar.
Ele assentiu ainda olhando os três brincando e eu só pude suspirar cansada. Eu preciso de fisioterapia... Meus músculos do quadril já estão reclamando e isso não é bom.
- Você já me conseguiu a fisioterapeuta?
Ele desviou o olhar pra mim e assentiu.
- Eu precisava falar com você sobre isso. Tenho um ótimo amigo no bairro ao lado do seu. Ele vive em uma pensão... Trabalha como enfermeiro chefe, na verdade trabalhava. Sua especialidade agora é fisioterapia.
Pensei que você poderia então ter os dois em uma pessoa só. Ele é enfermeiro e fisioterapeuta. Fez um ótimo preço... Ele largou tudo, familia, emprego... Pra se dedicar a fisioterapia. Quem sabe um dia ele te conte o motivo.
Disse me entregando um papel.
- Ai esta o telefone de contato dele, a lista de referências caso você queira e atrás o endereço dele, ele me mandou via fax. Pode confiar, Théo estudou por anos, e tem muita experiência. Vai te ajudar no que precisar.
Estava tudo detalhado.
Théo Mitchell's, 32 anos, solteiro.
Ele deixou vários contatos, isso mostra a sua profissionalidade e experiência.
- Vou entrar em contato ainda hoje. Estou sentindo meu quadril reclamar. Mesmo com Diana me ajudando com alguns exercícios para não irrigecer.
- Tenho certeza que ele vai dar um bom diagnóstico pra você, além de que vai te dar varias formas de se curar. Eu acredito muito em você Mari, te considero uma grande amiga...
Gargalhei.
- Amiga e cunhada né?
Afonso riu e se levantou pra pegar Liz que reclamou já que adorou a brincadeira nova que Diana inventou.
É... Nova vida.

NOS MEUS BRAÇOS (Conto) Where stories live. Discover now