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Diana apareceu mais tarde no quarto, e não fez pergunta nenhuma. Tenho certeza que Théo contou tudo pra ela.
- Você quer tomar banho agora?
Diana disse baixo.
Assenti e me esforcei para levantar.
- Não fica fazendo força... Mari, me chama que eu ajudo. Por favor. Ontem você caiu...
Minha irmã fungou.
- Me desculpa não ter te contado nada.  Eu só queria evitar que você se sentisse mais pessimista com tudo.
Assenti.
- Só não mente mais pra mim.
Ela assentiu e me ajudou a ir pra cadeira se esforçando muito.
- Vou conversar com Théo. Você não vai conseguir sozinha.  Será que ele nos arruma uma ajudante?
Ela me olhou.
- Por que não chama ele pra ajudar?
Tirei minha blusa e joguei em cima da cama.
- Não sei. Ele me pediu que fizesse um exercício hoje. Mentalizar que estou andando. Caminhada e corrida. Achei que ele me faria ficar em pé, ou que me passasse exercícios físicos. Não mentais... Não estou mais tão otimista quanto estava.
Minha irmã amarrou meu cabelo e parou na minha frente.
- Você esta se fazendo de burra Mari?
Seu cérebro precisa ser a sua força. E se você mentalizar isso... Quem sabe ele te faça fazer aquilo que tanto imagina.
Théo tinha um ponto. E eu me envergonhei de ter perguntado aquilo pra ele.
- Como acha que vou me sentir com ele me dando banho.?
Minha irmã sorriu maliciosa.
- Na verdade, eu te dou banho tranquilamente, mas se você quer aquele homem lindo esfregando as mãos em você... Eu não vou me opor...
Lhe dei um tapa e minha irmã foi gargalhando até o banheiro.
-  Vem, a ducha esta ótima.
Minha irmã chamou do banheiro e eu fui. A cadeira motorizada me deixaria preguiçosa.
- Quero andar pela casa e ver como esta tudo.
- Théo pediu que você ficasse de molho hoje. Forçou seus músculos na viagem e no tombo que levou.
Amanhã convida ele pra te carregar por ai, aqueles braços fortes aguentam.
Sorri. Minha irmã ainda me faria passar vergonha.
- Natalie e Felipe estão dormindo, Liz esta com eles no quarto novo.
Afonso ficou com o de hóspedes...
A olhei e minha irmã já negou com a cabeça.
- Achei que ia convidar ele para o seu quarto.
Minha irmã desligou a ducha assim que terminou.
- Amanhã mesmo vou falar com Théo para que ele venha ficar período integral. Uma folga por semana... Um bom salario... Afonso disse que ele é sozinho aqui, mora em uma pensão...
Assenti receosa mais sabia que ele seria melhor ele ali caso algo acontecesse.
Já era noite, jantamos torradas com chá e fomos pra cama acabar com aquele cansaço.
No dia seguinte eu acordei e assim que me movi uma dor aguda travou meu quadril.
- Aiiiii...
Gemi me contorcendo. Meu relógio marcava 5h da manhã. Eu nunca dormi tão pouco...
Fiquei parada e me lembrei de Théo.
Ele me pediu que fizesse 2 horas do exercício de mentalizar movimentos com a perna. Achei isso...
- Ridículo...
Neguei e suspirei arrumando o travesseiro. Dormir em um posição só a noite toda vai ser difícil.
Inquieta resolvi fazer o Théo pediu. Ele não falaria nada atoa, e como Diana disse, quem sabe meu cérebro entende de uma vez por todas que tudo o que eu quero é andar...

2 horas imaginando que estava correndo pelo parque com as crianças foi bom...
Mas não fez diferença alguma. Continuei, e de olhos fechados senti minha perna repuxar. Abri os olhos e com uma força tremenda sentei na cama rindo. Ri auto mesmo de pura alegria...
- Diana...
Gritei pela minha irmã que apareceu descabelada na porta do meu quarto e eu gargalhei ainda mais...
- O que foi? Mari??
- O exercício é ótimo. Minhas duas pernas repuxaram... Foi muito bom... Eu vou conseguir... Eu vou voltar a andar Di...
Minha irmã sorriu pulando na cama e abraçando e logo Afonso apontou na porta com o rosto amassado tentando vestir uma camisa.
- O que aconteceu?
Sorri respirando fundo.
- Fiz o exercício que Théo passou, aquele que eu tinha achado ridículo. Minhas duas pernas repuxaram. Minhas esperanças estão renovadas...
Afonso sorriu pra mim e olhei pra minha irmã que me encarava de olhos marejados.
- Eu sempre acreditei que um dia vai voltar a andar. A ter a sua vida normal... Sei que as vezes é difícil você acreditar, mas eu vou sempre estar aqui, positiva por você.
Sorri e a puxei para um abraço.
- Amo você...
Sussurei me separando dela e vendo meus dois bebês chegando no quarto, subiram na cama e vieram se aconchegar sonolentos em mim.
- Mamãe...
Os dois disseram em unissoro, Liz veio também subindo pelas pernas do pai e pedindo colo se aconchegou nele.
- Bom dia meus amores...
Eu disse beijando meus dois filhos. Eu sentia falta deles. Tínhamos uma rotina, que agora não teremos mais...
- Já que esta todo mundo de pé, vou fazer um café pra renovar a alma. Théo chega em 1 hora Mari, quer que eu te ajude em alguma coisa?
Assenti. Afonso saiu caminhando com a filha tendo meus dois bebes caminhando junto dele e de Liz.
- Se puder me ajudar num banho rápido e trocar o pijama...
Minha irmã sorriu.
- Você precisa me pedir coisas... Ainda esta com essa timidez?
Minha irmã me colocou na cadeira fazendo força, Afonso tentou ajudar ontem e ela só faltou bater nele.
Mais que tudo preciso aliviar pra ela, Théo realmente é mais forte que ela, e faria isso facilmente.
- Então amanhã seu enfermeiro particular vai te dar banho?
Belisquei a bunda de Diana que ligava a ducha, minha irmã só fez gargalhar.
- Bruta.
Ela disse me mostrando a lingua.
- Quero ver você beliscar a bunda do gostosão do Théo, ele vai gamar.
Gargalhei, minha irma não tinha papas na lingua perto de mim, Afonso chega e ela só falta cavar um buraco.
- Amo você, obrigada.
Disse assim que ela acabou de me ajudar com a sapatilha colorida que eu adorava usar em meu dia a dia.
- Amo você também. Théo já deve estar ai, vamos pra cozinha.
Ela foi na frente. Passei pela penteadeira e arrumei meus fios com a mão boa. Eu esperava conseguir levar o meu braço para o alto para pelo menos amarrar meus cabelos.
- Olá, bom dia. Como foi os exercícios?
Théo me assustou aparecendo na porta. Sorri e guiei a cadeira para mais perto.
- Bom dia, tive progresso... Acordei a casa toda quando minhas duas pernas se repuxaram.
Théo sorriu de orelha a orelha, e eu o achei ainda mais lindo.
Sorri com ele e ele caminhou mais pra perto, ajeitando minhas pernas na cadeira.
- Diana falou comigo, sobre ficar tempo integral. O que você acha disso?
Eu o olhei espantada. Théo, você tem 2 pontos comigo.
- Eu pedi que ela falasse com você, mas se você não pu...
Ele me cortou.
- Eu posso. Só quero saber se vai se sentir a vontade. Tenho uma amiga enfermeira...
- Não.
Fui eu a corta-lo dessa vez.
- Quero você.
Ele levantou o olhar pra mim e ergueu uma sobrancelha.
- Não quis dizer isso... Eu quis dizer que...
Ele gargalhou se levantando e caminhando até meus chinelos. Os pegou e se virou pra mim.
- Calma. Eu não pensei nada disso... Eu fico então. Sou sozinho Mariana. Ficar aqui significa companhia, e eu não sou o cara da solidão.
Assenti.
- É melhor que você use chinelos. Sapatos fechados podem fazer suas pernas incharem.
Assenti.
- Fora que você vai tomar seu café e nos vamos pra piscina. Tem biquíni? O sol esta quente hoje, ótimo dia para fisioterapia na água.
Ele disse tudo isso se ajoelhando e trocando meus sapatos. Assim que acabou foi empurrando minha cadeira até a cozinha, onde tomamos café juntos.
Théo já tinha  3 pontos. E naquele dia eu imaginava que no fim, ele já teria algumas centenas de pontos.

NOS MEUS BRAÇOS (Conto) Where stories live. Discover now