8

965 68 1
                                    

Enquanto guiava a cadeira pelo corredor em direção a nossa cozinha eu ouvia as gargalhadas das crianças, e antes que eu pudesse chegar a cozinha a algazarra delas me alcançou.
- Mamãe, vem brincar... Tio Théo esta fazendo cosquinha no Lipe.
Sorri para a minha princesa que se aconchegou no meu colo pedindo carona até lá de novo. Sorri nos guiando até lá e assim que cheguei pude ver meu filho pendurado pela perna, Théo o sacudia e meu filho só sabia gargalhar.
- Mamãe me ajuda...
Meu filho pediu minha ajuda sem querer que eu o ajudasse realmente.
Théo parou a brincadeira largando Felipe e me olhou sorrindo.
- Seus filhos são muito espertos... E lindos.
Sorri beijando a testa de Natalie que se contorcia se desviando das cócegas que Théo fazia nela.
- Vamos almoçar? Tia Diana deve estar maluca na cozinha.
As crianças riram e foram correndo ao encontro dela.
- Vamos conhecer a casa agora ou depois?
Achei realmente que ele não levaria esse pedido a sério. Os pontos não acabam...
- Acho que podemos ir agora. A não ser que esteja com fome...
Ele negou rápido.
- Não estou.
Se levantou e antes que eu pudesse falar algo me pegou nos braços e começou a caminhar em direção norte da casa.
- Quer começar por sua linda sala de jantar?
Assenti.
- Essa casa foi muito bem planejada para o conforto... E para os olhos.
Sorri e admirei tudo o que mandei por lá. Foi tudo sob medida.
-Era o meu sonho. Essa casa era de um senhor que alugava. Meu ex-marido me trouxe para a nossa lua de mel aqui. Foi um bom momento para mim, na verdade um consolo, já que compensou tudo passar minha lua de mel aqui sozinha.
Théo parou de andar.
- Como assim? Passou a lua de mel sozinha?
Sorri com seu comentário. Gostava que ele fosse curioso e não tinha medo de falar nada.
- Mateo recebeu uma ligação antes de pousarmos, ele precisava estar no trabalho em algumas horas novamente ou perderia seu emprego. Eu como não sou boba nem nada, mandei que voltasse mas me deixasse ficar aqui. Foram ótimos dias de inverno...
Théo fixou meu rosto e negou serio.
- Eu deixaria o emprego pela minha esposa.
Ele disse um tanto carrancudo. E eu só engoli a seco com a sua constatação me olhando fixamente, ele era intenso.
- Próximo ambiente...
Ele prosseguiu. E detalhe, não estava ofegante. Eu devia pesar uns 60kg com essa bunda enorme.
- Quer parar um pouco? Estou fora do peso...
Théo riu e me jogou pro alto me fazendo gritar e me agarrar mais nele.
- Posso fazer malabarismo com você. Se você esta fora do peso eu nem sei...
Suas covinhas eram lindas. Eu fui aos poucos soltando seu pescoço e o deixando menos sufocado.
- Você gosta de me apertar em...
Arregalei os olhos e novamente vi suas covinhas numa gargalhada que me fez querer rir junto, tamanha fofura.
- Você tem uma cara de bebê quando gargalha.
Seu sorriso se ampliou e ele parou diante do que eu me lembrava ser meu escritório. A casa era gigante.
- Minha mãe falava a mesma coisa...
Ele disse depois de um silêncio melancólico.
- Larguei o hospital a alguns anos porque não conseguia voltar lá depois de a perder.
- Eu sinto muito Théo...
Ele assentiu e com um sorriso caminhou pra outro cômodo.
Saímos da casa e passamos para casinha dos fundos que eu não tinha vindo nem a alguns anos atrás quando estive aqui.
- Aqui é o meu canto... Não decorei ainda, e provavelmente não vou. Sou acostumado com paredes brancas.
Depois de ver a casa toda aquele lugar foi o único em que ele se sentou me colocando do seu lado.
- Se encosta um pouco. Alguma dor?
Neguei.
- Eu quem deveria te perguntar...
Ele sorriu.
- Sou fortão...
Minha vez de gargalhar, mas parei assim que senti que seu olhar estava bem fixo em mim.
- Seu cantinho é bom e você não desfez as malas...
Ele assentiu caminhando ate elas e eu não sei o porque de Diana ter mandado ele pra cá.
- Não desfaça. Vá ficar no quarto de hospedes lá dentro da casa.
Ele se virou pra mim e negou jogando algumas almofadas da mala menor ao meu lado na cama.
- Prefiro aqui. Sou seu empregado, já passo tempo demais tirando sua privacidade.
O olhei com a cara mais feia que pude fazer.
- Primeiro... Você parece mais meu amigo, segundo... Você vai e ponto final. E se eu preciso de você rápido? Até chegar lá já morri de AVC.
Agora foi sua vez de fazer cara feia.
- Nunca desdenhe ou deboche disso. Palavras tem poder, sua mente também. Por favor... Nunca mais fale isso.
Engoli a seco e assenti. Ele e essa sua intensidade me deixa... Quente.
- Então vá para a casa.
Ele assentiu por fim e eu sorri vitoriosa.
- Diaba fingida.
Gargalhei sendo erguida novamente nos seus braços fortões, eu apertei seu pescoço e então apontei pra beira do penhasco.
- Ali montei meu estúdio. Pode me levar lá também?
Ele assentiu e andou ate lá depois de bater a porta.
Sorri assim que ele abriu.
- Do jeitinho que eu sempre sonhei... Ficou perfeito.
- Perfeito são essas pinturas. Foi você quem pintou?
Assenti tímida. Eu amanva pintar mas assinava meus quadros como anônima. Não queria aparecer nos tablóides e muito menos em sites de fofoca. Já apareci pelo acidente sem nem saberem quem sou imagina sabendo...
-São maravilhosos...
Sorri tímida.
- Pode rasgar os que estão fechados... Foi difícil um jeito de traze-los sem danificar.
Ele me sentou na poltrona grande que deixava o ambiente um pouco mais aconchegante. Ele olhou um por um em silencio.
- Quem é esse?? Um tanto...
Arregalei os olhos nem sabendo como aquele quadro existia.
- Hum... Esse é meu ex marido. Meu deus... Pode pegar ele e levar pra mim mais tarde lá pra frente? Esse vai para o lixo.
O quadro era de um tempo lindo do nosso casamento. Um tempo que passou como um estalo e nunca voltou.
Pintei Mateo somente de toalha da foto que tirei num hotel que ele me levou numa noite que saímos pra jantar. Eu já estava gravida de 5 meses e eu estava um tanto nervosa com tudo...
- Posso fazer isso...
Ele disse o colocando próximo a entrada do estúdio e quando voltou estava no telefone.
- Já estamos indo.
Disse e desligou rápido.
- Diana esta chamando pro almoço...
Assenti e assim que ele me pegou nos braços me senti tímida. Seu silêncio não era bom... Gostava dele falante.
- O que foi?
Perguntei antes que ele passasse da saida. Ele parou e continuou a me olhar como a alguns minutos atrás.
- Nada... Eu só estava pensando.
Sorri e ganhei um sorriso dele com covinhas.
- Aaaa covinhas...
Eu disse e ele sorriu ainda mais lindo.
Teríamos uma longa jornada pela frente. Minha meta agora era voltar a andar. Mas quem sabe o destino me levaria a outro lugar....

NOS MEUS BRAÇOS (Conto) Where stories live. Discover now