21ª Semana

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Pela primeira vez chego em casa depois da aula e minha mãe está na sala. Seus olhos vem direto na minha direção e eu quero fingir que não a vejo, assim como faz comigo, mas não consigo.

- Oi mãe. – digo baixo, já seguindo pro quarto.

- Ligaram da sua escola. – paro e olho pra ela – Eles querem que seu pai e eu vá lá conversar com eles, sobre...

Ela não termina a frase, mas entendo quando olha pra minha barriga.

- Sinto muito, eu tentei esconder...

- Não ia conseguir pra sempre. – ela levanta do sofá – Como você está? O diretor disse que houve comentários e brincadeiras com você.

Meu coração palpita com a preocupação, mas tento não criar tanta expectativa encima disso.

- Já passou. – dou de ombros não querendo criar alarde – Todos só estavam curiosos para ter certeza do que já veem.

- É só isso mesmo? Não estão te maltratando ou algo assim?

- Não. – garanto a ela – E também Matheus e Sabrina me defendem. Sabrina mais que Matheus, na verdade.

Mamãe entorta a boca quando cito o nome da minha amiga, só que nem ligo, eu não podia ter tudo de uma vez, pelo menos ela não criticou Sabrina.

- Se está tudo bem, então pode ir trocar de roupa e comer, o almoço está esfriando.

E sem mais ela passa por mim e segue para o quarto. Ali se ia a chance de um dialogo, mostrar que eu sentia falta das conversas com ela, de sermos mãe e filha. Toco em minha barriga, sentindo um leve aperto no peito e acaricio.

- Quero que saiba que não importa as burradas que fizer, eu vou estar sempre do seu lado tá? – digo baixinho.

Fugo e seguro as lágrimas, não precisava disso agora. Respiro fundo e vou ate a cozinha, me sirvo com bastante comida e sigo pra o quarto. A porta do quarto da minha mãe está entreaberta, olho brevemente para dentro e consigo a ver sentada na cama, lendo a bíblia. Entro em meu quarto e coloco o prato na mesa de estudo, deixando minha mochila no chão e sentando.

Começo a comer e pensar em como estavam as coisas. Se na escola todos notavam, então logo na igreja também notariam. Meus pais disseram que não contariam nada, isso tinha que sair da minha boca, mas eu percebia o olhar deles quando eu estava falando com meus amigos, era como se estivessem se segurando para não contar a todos o que eu tinha feito, a pecadora que eu era. Amanhã a tarde, depois de dar aula aos alunos do catecismo, eu conversaria com o padre e contaria o que fiz, me confessaria e então seria desligada de tudo que eu participava ativamente, só ficaria no grupo de jovens e iria as missas no domingo.



Após a aula do catecismo sentei com os alunos e confessei a eles que aquela era a ultima, que outra pessoa iria dar aula a eles, e bem... isso me tocava fundo e lágrimas vieram. Ninguém entendeu bem o que estava acontecendo e eu dei uma desculpa qualquer para não poder ser mais professora deles, e no fim o carinho deles me fez cair num choro doloroso, porque esperei tanto para ser professora e agora havia perdido isso.

Encontro com o padre depois, que fica preocupado ao ver meus olhos e nariz vermelhos após o choro. Sento com ele no confessionário e conto o motivo do meu choro e porque havia me despedido da minha turma. Ele se surpreende porque quando marcamos a data do casamento ele não sabia do motivo, afinal meus pais disseram que iam guardar o segredo, que era algo que eu devia contar. O padre não me julgou, mas me deu concelhos e pareceu feliz que eu casaria antes da criança nascer, que daria um lar para ela, só que ao invés disso me deixar aliviada, fico pensativa.

32 SemanasOnde histórias criam vida. Descubra agora