Capítulo 2

60 15 1
                                    

Todo mundo pensa que somos perfeitas
Por favor, não deixe-os olharem pelas cortinas

Dollhouse, Melanie Martinez

Eu estava exausta de todos aqueles concursos. Finalmente consegui um descanso, uma pausa para não precisar treinar desfile, fala e expressões faciais. Para cada concurso que eu me preparava, precisava dominar e ensaiar todas as técnicas para vencer. É como estudar para uma prova, só que nesse caso, ao invés de estudar para escrever, você estuda para controlar seu próprio corpo. Queria muito controlar minha mente, como controlava o resto do corpo. 

Decidi pegar um pouco no celular, minha mãe sempre estava de olho em minhas redes sociais e quando eu não estava a fim, ela mesmo pegava meu celular para interagir com meus seguidores. Abri o Instagram e vi os comentários de uma foto que postei. Eram sempre comentários do tipo "Linda" "Gata" "Que beleza". Eu odiava tudo aquilo que eu representava na internet, mas não podia largar tudo para trás assim. Não queria ser ingrata. Mas, francamente, algumas horas eu queria MUITO dar uma respostinha malcriada para alguns.

Curti o máximo de comentários que pude e larguei o celular de lado, redes sociais eram tóxicas ao extremo pra mim. Sentei em minha escrivaninha e separei um papel A4. Peguei os lápis que ainda tinha e desenhei. Era uma paixão secreta que eu tinha e até puxei um pouco do meu pai.

Eu desenhava aos poucos e a imagem que se formava era uma menina com aparência de princesa. Ela se olhava no espelho porém, através dele, a imagem que refletia era uma de aparência monstruosa e desproporcional. Mas o monstro parecia feliz.

Quando eu estava terminando de colorir, minha mãe entrou no quarto. 

— O que você está fazendo, Charlotte?

— Eu tô… desenhando.

— Isso é coisa de idiota! Coisa de pirralho. Anda, vamos fazer um tratamento nessa pele!

— Mãe, deixa eu só terminar

— Agora!

— Só vou colorir…

Minha mãe observou meu desenho e o pegou de minha mão. Eu tentei pegar de volta mas ela era bem mais ágil. Segurei as lágrimas com o coração aflito e ela pôs o papel aberto bem de frente ao meu campo de visão. Começou a rasgar toda a obra que eu tinha feito sem dó e eu implorava pra ela parar. Não satisfeita, ela amassou o que sobrou e jogou no lixo do banheiro.

Era apenas um desenho, mas para mim era importante. Achei o cúmulo, mas assenti.  Minha mãe não costumava ser ruim, só que muita gente estava me criticando atualmente e ela se preocupava com isso afetar minha imagem. Descemos e minha mãe fez uma limpeza de pele em meu rosto. Quando voltei para o quarto, chorei. Odiava aquela vida fútil e superficial.

O auge dos 20Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon