Capítulo 11

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Havia chegado o fim de semana e eu não via a hora de encontrar Chris de novo. Minha mãe passaria o dia fora para tomar um chá com suas amigas. 

Pus uma blusa arrumada e fui. Eu não me sentia bem naquelas roupas, sentia que aquilo não era mais eu. Eu não aguentava mais ver rosa no meu armário. 

Ao chegar na hamburgueria, Chris já me esperava e tinha pedido por mim. Eu havia dito que nunca tinha provado um e ele avisou que iria escolher. Eu estalei um beijo em seu rosto e ele ficou um pouco vermelho. Dei risada e me sentei com as pernas abertas. Era uma delícia sentir o ventinho. Eu não me importava mais. 

— Como está a sua jornada de descobertas?

— Eu ainda estou confusa, sei lá. Quero fazer muitas coisas, mas não sei por onde começar ainda. 

— Você não precisa escolher por onde começar. Só faça. A vida fica mais divertida quando você não pensa muito.

O hambúrguer chegou e eu vi aquela coisa montanhosa e recheada bem na minha frente. Meu paladar fez um pequeno musical e até chorou. Aquela porra devia estar deliciosa!

— Ué, cadê o garfo? - olhei confusa para Chris e ele riu de gargalhar. Quase se engasgou e continuei o olhando com cara de bunda. 

— Ok, foi mal! Bom, vou te mostrar como comer com estilo! 

Chris pegou o hambúrguer com as mãos segurando firme e o abocanhou com gosto. Eu senti uma pontada no coração e resolvi fazer também. Peguei meu hambúrguer e ele parecia quase sorrir pra mim, me pedindo para devorá-lo. Abri minha boca ao máximo que minha mandíbula permitia e dei uma mordida deliciosa. O cheddar adentrou minha boca primeiro que a carne e eu senti aquele creme se espalhar a medida que eu mordia. Era mágico, era delicioso, era sensacional. Minha boca estava toda suja e eu comecei a chorar de emoção. Aquilo era tão maravilhoso que eu não me contive. Quando tentei secar as lágrimas, sujei meus olhos de molho. Chris me olhava meio horrorizado e eu me divertia.

— Lottie, você tá bem? - ele inclinou a cabeça me encarando um pouco preocupado.

— Eu tô… eu tô ótima! Meu Deus, hambúrguer deveria ser uma pessoa. Eu com certeza me casaria com um hambúrguer. 

Ele notou que eu estava a vontade e começou a rir. Provavelmente pela minha cara lambrecada. Eu teria de lavar meu rosto antes de chegar em casa ou aconteceria um desastre maior. 

Nós conversamos sobre coisas aleatórias e tentamos esquecer o máximo sobre nossas famílias. Eu já me sentia totalmente cheia. Chris pediu mais um e dessa vez, eu que o olhei totalmente horrorizada. Uau, eu não aguentei nem um direito, por mais que estivesse divino. 

— Você aguenta comer mais? Uau!

— Aguento. É só uma desculpa pra ficar mais tempo com você. - ele deu de ombros e eu sorri. Apesar de meio bobo, Chris era uma joia rara. 

Passamos mais um tempo juntos e caminhamos até o ponto em que nossos bairros nos separavam. Chris parou me olhou nos olhos, abaixando a cabeça depois e um pouco tímido. Ele era meio estranho, mas eu gostava. 

— Olha, eu tenho uma coisa pra você. Mesmo uma pessoa tão boba como você, merece um presente às vezes. 

— Chris, me desculpa, eu não tenho nada aqui pra te dar… - suspirei pois achava injusto, fui pega de surpresa.

— Ei, relaxa… eu só queria te dar algo legal. Nem foi caro, então relaxa, só relaxa ok? 

Eu assenti e Chris me entregou uma caixa cheia de pequenos bombons. Em cada bombom estava escrito uma frase do tipo "quando se sentir triste", "quando se sentir feliz". Eu me emocionei, mas não deixei transparecer. Apenas o abracei apertado, Chris era maravilhoso para mim.

— Obrigada, eu amei…

Sussurrei em seu ouvido e nos olhamos por algum tempo. Chris apenas sorriu e se despediu. Fui para minha casa e pus a caixa dentro da bolsa, torci para que minha mãe não visse. 

Quando abri a porta, escutei a voz enraivecida e familiar 

— Onde você estava? Ei, isso é molho? Você estava comendo o que? 

— Estava em uma hamburgueria. E adivinha, sabe o que comem em hamburguerias? Hambúrguer! E veja só, estava uma delícia! 

Não vejo a hora de sair rolando por aí, vai facilitar o trabalho das minhas pernas. 

Minha mãe me olhava incrédula e eu apenas ignorei todo aquele drama. Aquilo era ridículo e não sei como aturei isso por todo esse tempo. Passei por ela e fui direto para o meu quarto. 

— Charlotte, você está de castigo!

— FODA-SE!

Corri para trancar a porta antes que a Barbie Hulk da alta classe invadisse meu quarto e me desse umas belas porradas pela boca suja. Abri minha bolsa enquanto minha mãe gritava como louca do lado de fora do quarto e peguei o bombom "para quando se sentir divina". Liguei o som em um volume razoável e botei meus indies "malucos" para tocar. Estava me sentindo plena! Divina!

Dancei por algum tempo em frente ao espelho e dei altas gargalhadas. Sentei em minha escrivaninha e desenhei uma Barbie desfigurada. 

Essa era a nova era de Charlotte Abels.

O auge dos 20Where stories live. Discover now