Capítulo 12

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Se pudéssemos encontrar uma razão pra mudar
Procurando pelas respostas

Cigarette Daydreams, Cage The Elephant

Me encarei de frente ao espelho e me recordei de tudo. Todos os prêmios que ganhei por ser "bonita" e por seguir um padrão.

Você abre os olhos e de repente percebe que toda a sua vida é uma mentira. Tudo aquilo é uma porra de castelo de plástico.

Aquilo não combinava mais comigo. Aquele corpo não era meu, aquelas roupas não eram minhas e eu me sentia totalmente estranha. Aquela não era eu.

Então, eu decidi tacar o foda-se.

Peguei uma grana que tinha ganhado de alguns dos concursos e saí de ônibus para o centro para comprar roupas que eu quisesse. A grande quantidade foi preta e muitas não combinavam nada com nada, mas eu simplesmente gostava delas. Comprei uma jaqueta de couro que vestia perfeitamente em meu corpo e também alguns tênis, que substituiriam aqueles saltos desconfortáveis. Já sentia um peso se livrar de meus ombros.

Fui em um salão simples e que não tinha muita gente, perguntei a cabelereira se ela podia abrir espaço para mim. Cortei meu cabelo que era longo e castanho, ficou na altura dos ombros. Também pedi para que ela o platinasse. Ficou desidratado, mas não importei, eu gostava. Em casa trataria melhor.

Fui até uma loja de tatuagens e pedi para que furassem a lateral de meu nariz e minha orelha. Sempre fui louca para pôr piercings.

Por último, tatuei a borboleta que havia desenhado em outro dia. Abaixo da borboleta, pedi para o tatuador deixar escrito "recomeçar".

Comprei alguns livros legais que eu era doida pra ler, não eram clássicos, eram mais pra ficção adolescente, mas isso me atraía ao extremo.

Resolvi sentar e olhar o movimento da rua. Estava com várias sacolas e com um sorvete do MC Donald's na mão. A boca bem lambuzada, limpei com minhas próprias mãos.

Peguei meu celular e resolvi desabafar. Aproveitando meu novo visual, estava a fim expor o momento de transição que eu estava passando para quem me seguia. Eu sumi por semanas e devia uma explicação. Abri o Instagram e decidi fazer uma live.

- Oi pessoal! Sei que estou um pouco diferente, mas é a Charlotte Abels falando.

Eu... Eu não sou mais essa pessoa que vocês conhecem. Isso sempre foi como... Como uma máscara, como um plástico. E eu decidi mudar e ser eu mesma: Essa menina estranha que vocês estão vendo... Mas, eu tô feliz assim!

E eu acho que vocês também deviam desapegar das coisas materiais e ouvir o coração de vocês. Não escutem os padrões, não neguem quem vocês são!

A essa altura, eu já tinha mais de mil espectadores.

- Sério, todo mundo é maravilhoso do jeito que é e vocês simplesmente não precisam se adequar a sociedade. Eu aprendi isso com 20 anos. Não deixem se tornar tarde para entender o valor da vida. Eu estarei desativando minhas redes sociais públicas e espero que entendam. Eu estou feliz e espero que vocês também encontrem essa felicidade.

Recebi uma enxurrada de críticas do tipo "você está horrível" mas não me importei. Eu me amava e não precisava ficar me reafirmando. E daí, se eu estava feia ou gorda? O que isso ia acrescentar daqui 20 anos?

Dentro dos comentários, também haviam pessoas me encorajando a ser eu mesma e pessoas dizendo que eu era um exemplo.

Sorri para o nada. Eu sentia um alívio tão reconfortante em meu peito. Vi 15 chamadas perdidas de minha mãe. Ela com certeza tinha visto o vídeo.

Ao chegar em casa, me deparei com uma cena lamentável e assustadora. Minha mãe estava jogada no chão, chorando de soluçar e haviam alguns jarros quebrados pela casa.

Achei que ela havia se machucado, mas felizmente não.

- Mãe? - larguei as sacolas no chão e ela me olhava com nojo

- Eu não... eu não criei você pra isso! Meu deus, o que eu fiz de errado? O que eu vou dizer para meus amigos?

- Porra, mãe! Que saco! Eu não aguento mais todo esse drama. Cacete! - falei bem irritada.

- Eu vou tomar banho e quando descansar, a gente conversa.

Fui para meu quarto e bati a porta com raiva. Tomei um banho gelado para relaxar. Teria uma conversa séria de uma vez por todas para resolver aquela palhaçada. Estava exausta do comportamento fútil de minha mãe.

O auge dos 20Onde histórias criam vida. Descubra agora