Capítulo Seis

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- Estou farta de viver com eles. – foi a primeira coisa que Jill disse, ao entrar de rompante em minha casa.

- Ei, ei. O que é que aconteceu?

Por segundos, Jill olhou para mim sem qualquer expressão. Quando comecei a ficar assustada, levantei-me e caminhei até ela, ainda parada à porta do meu escritório, e abanei os seus ombros. Jill demorou a focar-se em mim mas, quando o fez, vi claramente o momento em que os seus olhos sem encheram de lágrimas. Sem qualquer pergunta, puxei-a para mais perto e abracei-a com todas as minhas forças. Como instinto, provindo do facto de já nos conhecermos há quinze anos, ela envolveu o meu corpo com os seus braços e apertou-me de igual forma. Não sabia bem o que é que estava a acontecer, mas sabia que ela me iria contar quando estivesse preparada, portanto puxei-a até ao sofá que tinha no escritório. Sentei-a lá e, sendo que era um sofá individual, ajoelhei-me à sua frente.

- A Anna está sempre a levar pessoas para lá. Até o Jason já reclamou do barulho que ela faz. Não tens noção, Elsie, é todas as noites.

Observei a rapariga que considerava minha melhor amiga há mais de metade da minha vida por uns instantes, tentando processar tudo o que ela me estava a dizer. Jill não estava a mentir, porque Jason e Noah também já tinham desabafado sobre o facto de Anna levar amigos com ela para o apartamento todas as noites. Mas, ao contrário de Jill, os rapazes tinham reclamado de forma bem-humorada, quase como se achassem engraçada toda a situação. Eles próprios não tinham moral para falar, principalmente quando tendo passado por uma fase em que ajudavam o outro a arranjar acompanhantes. Algo me estava a escapar naquela situação e eu queria desesperadamente saber o que era, mas não sabia se deveria passar esse limite com Jill.

No entanto, a forma como Jill tinha acabado de desabar à minha frente e o facto de ela ter ativamente procurado a minha companhia significava que ela estava pronta para falar. Não eram raras as vezes em que ela achava que não estava pronta para contar, mas me procurava e esperava que eu perguntasse. Eu estava completamente confusa, e portanto não sabia se aquela era uma dessas situações, mas com uma expiração funda, preparei-me para abrir a boca e para perguntar o que queria perguntar.

- Jill... porque é que isso te incomoda tanto?

Os olhos azuis da minha melhor amiga voltaram a encher-se de lágrimas e ela tapou a cara. No entanto, eu sabia melhor que tomar isso como uma resposta. Ela queria contar-me o que se passava e o que pensava, mas ainda estava demasiado abalada. Sentei-me no chão, nunca largando os seus joelhos, e juntei os meus lábios um no outro, numa expressão pensativa. O corpo de Jill tremia um pouco mas estava visivelmente mais calmo do que minutos antes, e estava progressivamente a acalmar-se. De vez em quando, eu apertava os seus joelhos nas minhas mãos, para ela não se esquecer de que eu estava à sua frente e pronta para a ouvir, e ela respirava fundo sempre que o fazia.

Anna não tinha uma relação séria desde que terminara com Sam, aquele que tinha sido o melhor amigo de Harry durante a faculdade. A decisão de terminarem a relação tinha sido mútua e Anna tinha aparentado ficar bem mas não me tinha demorado mais que uns meses para perceber que ela estava a fingir. A primeira prova foi o facto de ela ter começado a fazer algo que nunca tinha feito: ir a bares e ativamente procurar pessoas com quem dormir pela noite e depois descartá-las. Não sabia se tinha acontecido o mesmo com Sam, não tinha como saber. Eles continuavam amigos e ocasionalmente ainda falavam, no entanto, e isso algo que me atrofiava quando confrontada com a maneira que Anna tinha arranjado para lidar com a situação.

Uns anos depois, talvez dois ou três, Anna, numa noite bêbada, tinha-me confessado que tinha desistido da ideia do amor. Que, se a sua relação com Sam não tinha resultado depois de tantos anos – quase cinco -, quando já se conheciam tão bem e já tinham aprendido a viver um com o outro, nada mais resultaria. Eu tentara convencê-la de que não era verdade, mas ela estava completamente intoxicada e a minha maior preocupação na altura tinha sido colocá-la na sua cama, não dar-lhe uma lição de vida. A partir daquela noite, no entanto, eu tentara falar várias vezes com a minha amiga sobre o assunto, mas ela era demasiado casmurra para me ouvir. Além disso, ela era a maior profissional a desviar assuntos.

Caminhos Cruzados // harry stylesOnde histórias criam vida. Descubra agora