4 - Apenas Um Comércio

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Capítulo 4

Apenas Um Comércio



Século IV. Constantinopla, capital do Império Romano.

As ruas de Constantinopla estavam vazias. Parte da culpa era da forte chuva caindo sobre a cidade. Uma mulher corria de mãos dadas com sua filha, tentando erguer seu vestido com a outra mão para não sujá-lo na lama. Estavam voltando para casa, obviamente atrasadas demais. Durante o caminho, na calada da noite, surge um homem saindo de um beco, as assustando. Sua toga estava imunda, seu capuz estava molhado e seu cheiro era horrível.

— Senhora, me ajude! — ajoelhado ele suplicou, erguendo as mãos.

— Quem é você? O que quer?

— Preciso de dinheiro, senhora... Não tenho o que comer... — ele chorou. Então ergueu a cabeça, revelando sua identidade.

— Evagrius? O pregador, é você? — ela perguntou, aproximando-se dele.

— Sim, sou eu! — ele não a reconhecia.

— Maldito pecador! Não te darei uma moeda sequer! — gritou puxando sua filha para longe dele.

— Me ajude, senhora! — Evagrius tentou correr atrás dela, mas tropeçou e caiu ajoelhado ao chão.

Um relâmpago cortou o horizonte, iluminando a cidade. Mãe e filha correram pela chuva e escaparam do mendigo. O pregador, ajoelhado no chão, chorou. Olhou para o céu, vendo as nuvens tamparem a visão das estrelas e o universo além. Baixou a cabeça e fitou suas lágrimas misturarem-se com as gotas da chuva.

***

Amanheceu. Evagrius permanecia jogado ao chão. Trajado com sua toga rasgada e imunda, ele vagou pelo centro de Constantinopla pedindo por esmola. Mas ninguém lhe deu atenção. Foi ao subúrbio da cidade, andando por becos sujos e ruas fétidas, até alcançar uma feira. Lá haviam peixes, frutas, legumes e carnes à venda. O cristão andou por entre as barracas, esbarrando em alguns romanos, as analisando calmamente. Verificou qual seria mais fácil de roubar comida. Avistou uma barraca com apenas um vendedor.

Enquanto este vendedor oferecia suas frutas à um romano, Evagrius aproximou-se lentamente pela lateral da barraca. Esta era a hora perfeita. Mas algo chamou sua atenção, assim como a todos ao redor.

Um pequeno garoto surgiu na rua saltando sobre uma barraca, correndo em desespero. Evagrius o vê de longe. O garoto gritava com uma voz alta e grossa demais, descomunal para seu tamanho e idade. Ele também corria rápido demais para uma criança comum.

Cristãos imundos! Jamais dominarão o mundo! — o garoto gritava com uma voz abissal. — Todos servirão ao símbolo amarelo!

O garoto esbarrou em uma idosa, a lançando ao chão, e continuou correndo pela rua, costurando entre as barracas.

Jamais irão nos impedir! — Parou ao lado de Evagrius, então olhou em seus olhos. — Não está morto o que eternamente jaz inanimado. — Tornou a correr.

Evagrius sentiu uma presença maligna vinda do garoto. Uma aura sombria o cercava. O jovem corria gritando feito louco, esganiçando sua garganta com uma voz abissal. Ao esbarrar em um homem alto, acabou caindo. Jogado ao chão, ele começou a se debater, rolando de um lado para o outro, gritando tanto quanto antes.

Cristão imundos! Deus abandonou vocês!

— Socorro! Me ajudem! — surge uma mulher correndo em direção à criança.

O Caçador de PecadosOnde histórias criam vida. Descubra agora