10 - Lascívia em Indefesos

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Capítulo 10

Conto 4 – Lascívia em Indefesos



Tempo presente.

Evagrius Ponticus sobrevoava algum lugar da Terra pelo Plano Espiritual ao lado de São Gregório. Como sempre, estava em sua caçada por pecadores que pudesse limpar a alma ou condená-los ao inferno. E em algum lugar do Brasil, em uma cidadezinha do interior, acontecia uma festa regional que reunia todo tipo de gente. E com certeza haviam muitos pecadores naquele lugar.

A festa durava dias, e seu maior evento ocorria durante a noite, quando bandas locais, e às vezes grandes artistas, lotavam a festa com seus shows. Grande parte do público gastava seu dinheiro com bebidas alcoólicas, e isso incluía até mesmo os menores de idade. As barracas de bebidas quentes eram as que mais faturavam nesse tipo de festa, especialmente por serem eventos que acontecem na época do frio. Os jovens aproveitavam para beber, fumar, às vezes até cheirar, e transar nos locais mais escuros e reclusos.

O povo dançava na frente do palco ao som de uma banda sertaneja local. Os mais animados, com copos de cerveja ou vodka na mão, dançavam frente ao palco. Já as famílias e os casais mais tradicionais preferiam se manter afastados da confusão. A festa acontecia próxima a uma praça, cuja qual normalmente ficava vazia durante a noite. Mas naquele dia foi difícil para o casal encontrar um banco livre onde se sentar.

O casal em específico, por sorte, encontrou um banco onde havia apenas uma garotinha sentada de olhos fechados. A mulher se sentou ao seu lado enquanto seu marido permaneceu de pé. Juntos eles assistiam ao show enquanto comiam uma pipoca quentinha. Ajudava no frio, já que não bebiam. A mulher percebeu que a garotinha ao seu lado acordava, e logo após caía no sono novamente. Estava arrumada demais para ser uma mendiga. No entanto, estava claramente cansada, com mais sono do que podia lidar. E mesmo assim ela não saía do banco. Curiosa, a mulher decidiu puxar assunto.

— Oi, tudo bem? — Sabia que a garota não responderia, talvez porque estava acabando de acordar novamente. — Você tá perdida? — Insistiu.

— Não, moça, tô não — ela respondeu.

— Mas você tá quase dormindo aí — disse a mulher, mas percebeu que a garota havia dormido de novo. — Olha isso — disse para o marido. — Dormiu de novo. — Ouviram juntos a garotinha roncar no banco da praça, mesmo com o barulho alto do show sertanejo.

— Ela tá muito cansada — disse o homem. — Mas por que não vai pra casa?

— Vai saber... — a mulher deu de ombros e continuou assistindo ao show da praça.

Não estavam tão distantes do palco. Mas estavam à uma distância em que o som do show não os incomodava. Estava um ambiente agradável para conversar e aproveitar a noite fria e estrelada. Durante uma conversa entre o casal, a jovem garota acordou.

— Que horas são? — perguntou, esfregando os olhos.

— Vai dar meia noite — disse a mulher. — Quantos anos você tem?

— Tenho oito.

— E por que tá sozinha aqui?

— Minha irmã me deixou aqui — ela respondeu, um tanto cabisbaixa. — Ela disse que ia voltar pra me buscar.

— E até agora não voltou? — A mulher ficou impressionada.

— Ela até apareceu depois de me deixar aqui — disse a menina. — Tava com um garoto. Mas depois ela sumiu, e não voltou pra me buscar.

— Tá ficando tarde — disse a mulher olhando pro marido. — Você mora aqui perto?

— Sim, mas não sei o caminho de noite. É muito escuro. E não posso andar sozinha.

O Caçador de PecadosOnde histórias criam vida. Descubra agora