| loving you was dumb, dark and cheap |

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"Tudo o que você diz deixa um gosto amargo em minha boca . Estou feliz que você não esteja por perto." 
 refiningfire via ssweet-dispositionn | Tumblr

🌙

Meus músculos estavam paralisados dos pés a cabeça.
— Oi. - O sorriso simples da garota a minha frente me fez questionar mais uma vez o porquê de estar ali.
Meus olhos encararam a figura vestida com apenas uma camisa com estampa de The Strokes alguns tamanhos maiores que o seu que iam até metade de suas coxas.
— Eu... - Foi a única coisa que saiu de minha boca antes de automaticamente girar os calcanhares em direção de volta ao elevador.
Minha cabeça girou enquanto apertei incessantemente o botão como se aquilo fosse apressar a chegada do elevador.
— Miami? - Foi o questionamento que ouvi antes das portas metálicas se abrirem a minha frente e ao adentrar o cubículo de relance antes das portas fecharem consegui, ainda sentindo um leve desconforto me tomar por completo, vi Keana ainda parada a porta numa expressão neutra enquanto sob ombro da garota parada, mais atrás; Lauren, vestida desleixadamente apenas com uma camiseta e uma espécie de calcinha boxer.
O elevador finalmente se fechou e me senti sufocada ali dentro.
Quando o som característico que indicava a parada do elevador no andar soou, disparei para fora dele o mais rápido que consegui, o incomodo pela distância que havia percorrido correndo até ali começou a me abater, até que sem resistir muito mais, deixei minhas me levarem ao chão. Apoiada apenas em um poste de iluminação na calçada permiti a sensação que me sufocava tomar conta de mim. Algumas lágrimas finalmente deram as caras e as deixei cair sem impedimentos.
— Mas que porra? - O tom de voz conhecido demonstrava uma mistura de surpresa e... preocupação!?
Não me dei ao trabalho de tentar olhar a garota que chegou rápido demais ali para quem estava com um dos pés engessados.
— Miami, o que 'tá fazendo aqui a essa hora?
Finalmente limpei minhas lágrimas na tentativa d fazê-las pararem, porém ao me dar conta da pergunta feita meu controle foi quebrado, já que eu não tinha uma resposta que fizesse algum sentido real para estar ali, e em meu atual estado.
— Não importa, pode voltar pra sua casa, 'tá tudo bem... - Murmuro ainda sem encara-la.
— Fala logo que merda tá aconteceu Camila. - Sua voz me atinge de uma forma que não sei explicar, porém, como em um passe de mágica, meu choro parece ter sido engolido, já que eu não consigo mais faze-lo. — eu vou precisar te bater 'pra falar?
— Meu namorado... - Minha mente repassa as lembranças do que aconteceu e me apresso em corrigir — meu ex namorado, ele...
E não consigo terminar. As palavras estão em minha mente. A afirmação tem uma formação coerente em minha mente, mas elas simplesmente parecem se negarem a sair.
— Vamos, levanta. - Lauren diz com seu conhecido tom de impaciência.
Eu olhei e Lauren permanecia com a mesma camiseta, porém, agora estava com um short preto e os pés calçados de qualquer jeito com seus All Star pretos desbotados.
— Anda Miami, não temos todo o tempo do mundo!
Assisti a garota tatuada atravessar a rua de frente ao seu prédio e caminhar em direção a picape azul estacionada, que só então eu percebi estar ali.
Meio atordoada eu a segui. Me acomodei no banco do passageiro ao lado dela e alguns segundo depois de conseguir me recompor, perguntei o óbvio:
— Onde estamos indo?
Lauren suspirou antes de responder.
— Eu preciso trabalhar e você de alguma coisa com álcool.
— O que? Não, claro que não, eu não bebo.
— Hoje vai. E chega desse mimimi, eu não vou andar com gente que chora por macho escroto que fez merda.
— Ele não é escroto...
— Ah sim, então digamos que essa sua crise de choro é de felicidade porque ele te pediu em casamento e você não aceitou porque é nova demais e quer estudar?! - Ironizou.
O silêncio nos acompanhou até a caminhonete parar no estacionamento pequeno de pedregulhos ao lado do bar Mistic.
Diferente dos dias em que havia vindo ao local, entramos por uma porta de ferro lateral que foi aberta por uma das chaves em um molho nas mãos de Lauren.
A garota ascendeu as luzes do lugar ainda fechado e jogou as chaves sob o balcão antes de ir até uma das geladeiras do local e tirar uma long neck, abrindo-a antes de deslizar em minha direção.
— O som daqui é conectado via bluetooth, a senha é RedLabel, pode ouvir o que quiser conectando seu celular, vou arrumar as coisas. - Lauren diz saindo detrás do balcão e eu apenas concordo de forma silenciosa.
Olhei para a bebida em minha frente. O balcão já estava molhado pelo degelo da garrafa. Suspirei apoiando meus braços sob a madeira escura. Por fim, me dei por vencida; peguei a garrafa dando um gole generoso enquanto sentia o líquido gélido e amargo descendo por minha garganta.
Apertei a garrafa entre os dedos.
— Porquê... - Murmurei com a lembrança das vozes de Taylor e Shawn, então, tomei mais um gole grande do líquido.
Havia um caixa de som posicionado bem acima das prateleiras de bebidas, e só percebi sua existência quando uma música começou a soar.
Uma batida começou. Não reconhecia a melodia nem mesmo a letra, mas algo me fazia apenas ouvi-la. Meu momento foi cortado, ao ouvir algo bater contra o balcão. Meu olhar chegou a uma caixa posicionada no meio do plano de madeira.
Lauren, cantarolava algo que parecia ser o mesmo que era reproduzido pelo caixa de som. A garota trabalhava em recolher gargalos vazios de banidas e substituir com novos cheios até a boca retiradas da caixa.
A encarei alguns instantes. Instante que se seguiram preenchidos apenas por meu olhar em Lauren; a música que era reproduzida ao fundo e a garota em silêncio fazendo seu trabalho como se eu não estivesse ali.
Foi então que entendi no meio dos meus pensamentos embargados pelo álcool que eu não era acostumada a beber e misturava meus pensamentos; aquela era a forma de Lauren de dar o espaço que eu precisava.
Foi a forma da garota tatuada respeitar o meu momento e ainda sim dizer que estava ali.
E essa fora uma das constatações mais difíceis de tentar entender, porque estávamos falando de Lauren Jauregui. Uma incógnita ambulante. Mas, naquele momento decidi não pensar muito sobre o assunto. Meu peito tentava competir com a dor física da minha cabeça, e tudo que eu menos queria era pensar.
Percebi só então a ausência da garota tatuada, olhei ao redor sem conseguir encontrá-la em meu campo de visão, voltei a olhar para as prateleiras cheias de bebidas e algo me incomodou.
Abandonei a banqueta onde estava e me aproximei das garrafas usando a escadinha para ficar na altura certa e me concentrei apenas em organizar as garrafas.
— Você só pode tá de sacanagem... - Ouvi a voz de Lauren porém ignorei seu comentário — sabe que quando um monte de gente bêbada tiver por aqui fazendo pedidos um atrás do outro isso vai virar uma bagunça de novo não é?
— Tanto faz. - Disse quase em um sussurro observando satisfeita meu trabalho.
— Sabe que é algo desnecessário e mesmo assim 'tá fazendo?
— Sim, o que me importa é minha satisfação momentânea, me sinto bem vendo organizado agora.
— Então é do tipo que mesmo que quebre a cara no fim você chega lá só pra ter a certeza que isso vai ser esse mesmo o fim, só pela sua satisfação momentânea?
Encarei Lauren alguns segundos, e ela não vacilou seu olhar nenhum segundo, realmente queria uma resposta e eu não sabia o que dizer exatamente.
— Onde está seu gesso? Você não devia estar de repouso? - Digo tentando mudar o foco da conversa de mim para algo mais produtivo.
Lauren revirou os olhos e suspirou.
— Aquela bota de merda era um saco, sinceramente, eu precisava usar um canudo 'pra coçar meu pé, então só tirei ela.
— Mas a ideia não é ser confortável, é te ajudar a melhorar.
— Sério?! - Revirou os olhos.
— Pelo menos se sente melhor?
— Sim.
— Certo.
Desci das escadinhas de auxílio e voltei para próximo ao balcão onde eu estava.
— Você e Keana... hum... voltaram? - Perguntei mais diretamente do que soou na minha cabeça.
Lauren paralisou o que fazia no mesmo instante.
Houve um breve momento de silêncio entre nós duas e o único som perceptível era a música que ainda soava em um som baixo pelos caixas.
Eu tinha dito algo errado, e soube disso pelo silêncio vindo da garota tatuada.
— Não voltamos. E isso não vai acontecer.
A voz dela soou roucamente baixa. Quase como um sussurro para si própria.
— Lauren...
— Nem comece Camila, eu não vou falar sobre isso com você.
Não usei palavras para responder, deixei que mais uma vez o silêncio se fizesse presente e quando ele se tornou pesado me levantei.
— Eu vou indo pra casa, obrigada pela companhia Lauren.
A garota agora estava ocupada arrumando as cadeiras em seus devidos lugares, já que as mesmas estavam viradas em cima das mesas.
Quando seu olhar chegou a mim e acreditei que alguma resposta viria, nossa atenção foi direcionada a terceira figura que surgiu.
— Oh, Camila, que bom ver você de novo. - Scarlett disse sorrindo ao deixar algumas sacolas de qualquer jeito em uma das mesas.
— Olá Scarlett. - Sorri recebendo um abraço inesperado da mais velha.
— Me chame apenas de Scar. - Ela me soltou e me segurou pelos ombros — o que aconteceu querida? Parece um pouco abatida... Lauren fez alguma coisa?
— Hey! - A garota tatuada protestou enquanto curiosamente olhava os conteúdos das sacolas.
Eu sorri um pouco pelas reações.
— Não, Lauren não fez nada, apenas tentou me ajudar.
— Ah é?
— Sim, ela me deu uma cerveja.
— Ah, isso fui eu quem ensinou. Independente de quão bom ou ruim o momento esteja...
— ...uma cerveja gelada sempre ajuda. - Lauren completou.
As duas fizeram um hi-five e eu apenas sorri da cumplicidade das duas apesar de todas as diferenças.
— Hum, bem, eu estou indo. Obrigada pela cerveja Lauren. Foi bom rever você Scar. - Forcei um sorriso. Não era falso, só não me sentia bem o suficiente para rir melhor que aquilo.
— O prazer é meu, apareça quando quiser! - Scarlett se aproximou me dando um abraço.
Lancei um último olhar para Lauren, e desci da banqueta indo em direção a porta da frente, que estava destrancada, mas, com a placa escrita "fechado" virada para fora.
O vento gélido me atingiu e eu apenas me abracei tentando me esquentar um pouco mais. Comecei a caminhar em direção a minha casa depois de lembrar que no momento em que sai de casa a única coisa que lembrei de pegar foi meu celular, fones e as chaves, o que fazia ter que caminhar algumas quadras de volta.
— HEY MIAMI! - Ouvi a voz de Lauren e só então parei e olhei para trás, vendo a garota caminhar com as mãos no bolso do casaco que vestia vindo em minha direção.
— Não ia trabalhar?
— Eu vou, mas Scarlett vai ficar pra me cobrir na abertura. Vamos, vou te deixar em casa. - A garota começou a caminhar a pequena distância que havia ultrapassado de volta ao estacionamento de pedregulhos do bar. Meu primeiro pensamento foi negar, mas, a repassar o caminho que teria de fazer andando de volta para casa, acabei cedendo em ter a companhia da garota tatuada.
Com passos meio imprecisos cheguei a caminhonete e sentei novamente no banco do carona. Ainda não havia conseguido distinguir se minha visão estava meio turva pelo álcool ou se meus pensamentos estavam tão embaralhados que aquilo era uma conseqüência.
Quando tirei meu celular do bolso, meu fone de ouvido - que só então percebo estar no bolso do meu short - veio junto, então, apenas conectei-o ao celular soltando a música aleatória da minha playlist, e Gravity do John Mayer começou a tocar da parte que eu havia a pausado quando ouvia.
Fechei meus olhos deixando a música conhecida invadir meus pensamentos e dissolver instantaneamente todo o que os preenchia fora daquele momento.
Foi quando estava totalmente imersa em m vazio que minha mente me proporcionou, que um dos lados do meu fone do retirado que abri meus olhos em protesto. Percebi que a caminhonete estava parada em um sinal fechado e Lauren colocou o fone em sua própria orelha.
Não consegui dizer nada, apenas observei Lauren com meu fone ligado a sua orelha e eu olhar ainda preso a rua a nossa frente. Seu corpo levemente inclinado em minha direção pela curta extensão do fone para que não o arrancasse da minha outra orelha.
Aquilo era um ato normal, mas, vindo de Lauren que sempre parecia querer dizer algo nas entre linhas, não. Então, mesmo sem saber o que fazer, apreciei os segundos que se arrastaram parecendo uma eternidade dentro naquele instante.
Quando a sinaleira ficou verde novamente, Lauren corrigiu sua postura abandonando meu fone e focando inteiramente em dirigir os últimos minutos até minha casa.
— Hum... Obrigada. - Disse já do lado de fora da caminhonete, olhando Lauren pela janela.
— Não agradeça, apenas esqueça o babaca e siga em frente.
— Só temos como passar por um momento vivendo ele, caso contrário, estará lá para nos atormentar sempre que nos distrairmos.
A garota tatuada piscou parecendo estar sem reação, então, ligou a caminhonete.
— É melhor entrar Miami.
— Boa noite Lauren.
A garota apenas sorrio de leve e nos segundos seguintes acompanhei a picape azul se distanciar até sumir da minha visão.

B.L.U.E » camrenWhere stories live. Discover now