IX - As duas faces de uma mesma moeda

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De Kim Jisoo:

"Pediu perdão a Deus pelos seus pecados, e clemência por gostar de fazê-los."


Dois anos atrás.

Jisoo estava numa pequena sala que cheirava a mofo. A lâmpada amarelada tremulava sobre o rosto das garotas a sua frente. Era primavera, o tempo estava abafado e não era diferente naquela saleta, somado a ansiedade que exalava de todas elas, parecia verdadeiramente uma nova versão do inferno. As meninas tinham idades e personalidades diferentes, e de alguma forma, todas eram únicas. Gostava de aprecia-las numa forma de fazer o tempo passar rápido, mas se encolhia minimamente com um olhar mais prolongado, segurando, nervosa, sua saia rosa de tule.

Era visível que aquele mundo não pertencia a ela. Praguejou internamente, a ideia foi uma grande loucura da sua cabeça. Dançar no estúdio de balé da igreja era seguro, correto e o esperado para alguém como Jisoo, porém, já há algum tempo não queria mais fazer o que se era o esperado, tinha raiva dos pares de olhos condescentes e amorosos, tratando-a como se fosse de vidro, um pequeno arranhão e se quebraria, diziam palavras gentis da mesma maneira que se dirigiam a crianças de colo.

Estava ali procurando reações diferentes.

A porta da pequena sala se abriu e todas as garotas se mexeram, inquietas. O mesmo homem que as avaliou apareceu com um bloco de notas nas mãos. A estatura baixa e os cabelos rosa poderiam fazê-lo parecer cômico, mas a atitude de Jiyong deixavam claro o oposto.

- Agradecemos a todas as meninas que se dispuseram a tentar a vaga de dançarina principal da Street, vocês tem talento, não se esqueçam disso.

Jisoo mordeu o lábio inferior, controlando suas pernas que tremilicavam. Ela não passaria, ou pior, Jiyong descobriria que ela não tinha idade o suficiente para ficar acordada até tarde, muito menos dançar em um pole dance, e chamaria a polícia. Onde estava com a cabeça para ir até o outro lado da cidade sozinha? Não poderia demorar muito ali sem que sua mãe suspeitasse do seu paradeiro, sem ter que tranquilizar Rosé, sempre no seu pé.

Teria que inventar mais mentiras, passou a mão pela testa suada, levantando os olhos e quase caindo da cadeira de susto. Todos na sala a encaravam, vários pares de olhos confusos, outros raivosos a fitavam sem ao menos piscar, e no centro Jiyong sorria grande.

- Não está feliz com o resultado, Kim Jisoo?

- Ah, claro, eu... - engoliu em seco, sorrindo sem graça. - Eu só... fiquei surpresa.

- Podemos conversar melhor lá dentro, o resto das meninas estão dispensadas.

Levantou-se com o resto das garotas, indo em direção contrária a saída. Apertou as mãos na saia de tule, ridiculamente não se lembrou se levar uma roupa mais apropriada e foi com a mesma que ensaiava na igreja. Se ao menos tivesse prestado um pouco mais de atenção, não estaria com mais perguntas sem respostas.

- Não consigo entender o porquê está surpresa, quando te vi não consegui pensar em mais nenhuma candidata...

- Eu passei mesmo? - arregalou os olhos, prendendo a respiração assim que Jiyong fechou a porta, deixando-os sozinhos numa sala de escritório, aos fundos da boate.

- Claro, como eu anunciei lá fora.

- Ah sim... eu ouvi... acho.

Ele parou antes de se sentar, segurando o sorriso ao encará-la.

- Você é especial Kim Jisoo, estavámos procurando uma garota diferente e você me aparece com saias de tule e com os cabelos em coque, como se tivesse sido deixada na porta pela mamãe.

O último ano do resto das nossas vidasDove le storie prendono vita. Scoprilo ora