O último ano do resto das nossas vidas

Prefácio: Depois do fim

5 anos depois

- Quando eu era pequena, me perguntaram o que eu seria quando crescesse e a resposta era princesa. Eu conseguia me imaginar de vestido longo e morando num castelo como nos filmes, esperando meu príncipe encantado como na história da Aurora ou uma fera que se transformaria num lindo rei como vi repetidas vezes em a Bela e a Fera... mas foi um desejo rápido. Assim que entrei na escolinha me perguntaram de novo o que eu seria e eu disse com orgulho: professora. Era a mulher que todas as crianças na minha sala se espelhavam... e não seria bom? Andar com uma flor presa entre a orelha e os cabelos, receber maçãs aos montes? Eu também achava isso quando tinha seis anos e continuei achando por um tempo...

No entanto, a adolescência chega e com ela mais perguntas do que respostas, de repente seus pais são um saco, seus amigos não são tão eternos quanto achou que seria e você precisa começar a pensar no futuro, não como uma fantasia bonita, com flores e maçãs, vestidos e príncipes... mas sim, em como irá escrever a sua história. É assustador, porque deixamos de pensar em alguém que vamos ser e temos que ser, deixamos de perguntar as nossas mães quando vamos lavar o cabelo, percebemos que o remédio ardido que elas passavam no machucado do joelho não cura as noites de insônia, o medo, a confusão e nem um coração partido.

É uma nova fase, ao mesmo tempo aterrorizante, desoladora, triste e necessária, é desafiante. Eu estou aqui hoje... vocês estão aqui hoje - Jisoo respirou fundo, o coração batendo rápido no peito, encarando a multidão de formandos abaixo. - Para viver os melhores anos do resto das nossas vidas. Conto com vocês.

A multidão se levantou, eufórica, depois da contagem regressiva vários quepes de formatura foram jogados para o alto.

Lisa bateu palmas, pulando e saltitando mesmo que estivesse longe demais, por ter chegado atrasada. Rosé não pode guardar lugar para ela e teve que se contentar em ficar nas últimas fileiras.

Mas pode escutar e ver muito bem Jisoo e seu discurso e o orgulho enchia seu peito.

- ESSA É A MINHA GAROTA! - gritou, balançando as mãos para tentar chamar atenção. - A MELHOR DE TODAS...

Sem querer acabou se desequilibrando, devido ao salto, e esbarrou em uma garota ao lado. Mal deu tempo de tentar se reorganizar, ou sentir vergonha, a mulher passou as mãos pela sua cintura, evitando uma provável queda.

Lisa só pode encará-la com uma expressão de vergonha, passando as mãos na franja castanha para colocá-la novamente no lugar.

- Desculpa! É que eu me empolguei... - sorriu. - Minha melhor amiga acabou de formar...

- Tudo bem, tá uma bagunça aqui. - Assim que ela sorriu os olhinhos formaram uma linha tênue e as bochechas se inflaram, adoráveis. Ela também usava franja, mas era uma curta que parava no meio da testa, um terninho despojado como o de Lisa ornava o corpo magro. Era o seu tipo, garotas que performam aquela dualidade intrínseca, uma quebra de expectativas que já conheceu há muito tempo atrás, e que procurava alguma parecida desde então. - Eu também estou por causa de uma amiga... deixa eu ver se encontro... ali! - ela apontou para outra garota, recebendo abraços perto de Jisoo. - O nome dela é Yeri.

- E eu posso saber o seu nome?

Lisa esperou que a mulher voltasse a olha-lá e sorriu, queria deixar claro suas intenções e ela pareceu entender.

- Kang Seulgi.

- Lalisa Manoban... mas pode me chamar só de Lisa.

- Tudo bem, "só de Lisa", sua amiga fez um grande discurso lá na frente.