XI - Inesperado

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De Roseanne Park:

"e talvez as coisas fosse assim na maioria das vezes, as partes que escondemos de quem amamos é tão necessária como as partes que deixamos à mostra. "



Seus pés cambaleavam como se estivesse bêbada, mas incrivelmente naquela noite não tinha ingerido nenhuma gota de álcool. Estava sóbria a pedido de Jiyong, queria ver com os próprios olhos o que ele não podia lhe contar e agora que finalmente viu não queria acreditar. Encarou os pés, como se implorasse para que andassem em linha reta, mas acabou se encostando nos muros do fundo da boate, a respiração saindo em jatos fortes e quentes, hiperventilando apenas por lembrar-se do que viu há minutos atrás.

- Ande, Rosé, você precisar voltar pra casa... - resmungou em meio às lágrimas. Os soluços ecoavam em meio a música abafada, a batida era a única coisa reconhecível, ritmada junto ao seu coração.

Logo depois levantou-se, e passos cambaleantes como os seus se juntaram a música.

- Como veio para cá hoje? - A voz de Jisoo se tornou mais próxima, mas não se atreveu a olhar para trás. - Park Rosé!? Quem te trouxe aqui?

- Isso não te interessa! - berrou. - Já pode parar de fingir se importar comigo.

- Eu não sei do que está falando, eu nunca deixei de me importar com você.

Rosé respirou fundo, engolindo um soluço ao se virar para Jisoo. Doía encará-la daquela forma, era como ver uma garota parecida com a sua, mas ao mesmo tempo totalmente diferente. Pelo menos os cabelos castanhos estavam de volta e a peruca rosa foi deixada para trás, as lágrimas dela brilhavam junto ao glitter da maquiagem.

- Não se finja de burra. Agora você anda por aí como se fosse...

- "Como se fosse" o quê, Rosé? Uma santa? A porra da garota que todo mundo gosta de pisar e zoar e que é idiota demais pra revidar?

-... Como se fosse minha amiga! Mentindo pra mim, pedindo que eu me afaste desses lugares... - Uma onda de soluços interrompeu a sua fala, mas prosseguiu. - Você me diz para não frequentar boates e é a merda de uma stripper...

- Eu te peço para não vir aqui porque isso só te faz mal - rebateu Jisoo, suplicante. - Por quê o que nós duas fazemos é completamente diferente...

- Claro que é! Eu não sou uma pu...

- Não termine. - A voz dela era afiada. Jisoo era afiada, determinada, encarando-a dentro dos seus olhos como se enxergasse sua alma. Não se lembrava de uma época que a ouviu usar aquele tom de voz, que a ouviu soar tão firme assim. - Não ouse terminar essa frase, Roseanne.

- Hipócrita. - riu, desacreditada. - Você é uma hipócrita! Foi por isso que me afastou, não é? Para poder ser uma puta?

Rosé riu, era gostoso desobedecê-la, e quando a palavra saiu dos seus lábios evitou encarar os olhos de Jisoo. A distância entre as duas era significativa. Kim Jisoo tinha os cabelos ondulados, rebeldes, descendo como uma castata pelo tronco quase desnudo. Os olhos marcados por uma maquiagem brilhante, escura, que realçava seus olhos. Nunca a viu nem ao menos com um batom, mas ali o que preenchia a sua boca era um vermelho vinho. "Você nunca vai conhecer alguém completamente, nem se passar o resto da vida ao lado dela" era a verdade que pairava entre as duas. Era a constante que crescia dentro de Rosé: não reconhecia aquela Jisoo, como Jisoo também não a reconhecia, e talvez as coisas fosse assim na maioria das vezes, as partes que escondemos de quem amamos é tão necessária como as partes que deixamos à mostra.

O último ano do resto das nossas vidasWhere stories live. Discover now