Capítulo 11 - Bots building bots

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Para a minha sorte ele não me desmontou nem me deu nenhum choque, mas ele arrancou toda a minha pele artificial. Eu não me via daquele jeito desde o acidente no apartamento do Kevin, eu estava com literalmente um esqueleto de metal exceto meu tórax que era maciço, pois a bateria e sistema de resfriamento, parecido a um pulmão e um estomago para a água, estavam ali protegidos. Como sempre o pior era o meu rosto, meus olhos azuis com aparência humana se perdiam no rosto de metal e os dentes brancos, agora todos expostos, me davam um visual tenebroso.

Eu permanecia travado e os homens de Gonzalez me levavam para cima e para baixo como um boneco, sempre ouvia xingos e maldiçoes de "como eu era pesado", por fim eu fui colocado dentro de uma caixa apertada e sem nenhum buraco por onde podia entrar alguma luz. Eu nunca fui claustrofóbico, mas aquilo me deixou em pânico, associando a eu não poder me mexer e nem gritar, só sentindo eu ser levado, primeiro por pessoas e depois um carro foi horrível! Foram as piores horas da minha vida.

-Depois do que pareceram horas terríveis, eu sou transportado para algum lugar e a caixa é aberta e eu vejo um galpão enorme, cheio de máquinas e alguns robôs de vários modelos todos com suas formas de metal carregando caixas ou operando máquinas maiores. Eu estava no meio de uma fábrica de computadores. Eu vejo um homem alto e magro, loiro com os olhos verdes conversando com Gonzalez.

-É isso? - o homem pergunta olhando para mim.

-É. Ele não se adaptou bem aos meus negócios e decidi vender- Gonzalez.

-Eu não sei...- ele fala pensativo.

-Ei! Qual é! Eu nunca vendi nada pra você que não valia a pena.

-Não sei onde ele pode se encaixar. Talvez... - ele não termina e Enrico interrompe.

- Arnold se ele der algum problema é só dizer LMA5 pause! E para ativá-lo online! Qualquer coisa é só dar um choque nele- ele fala despreocupado.

-Ok!- ele por fim concorda.

E assim eu fui vendido, como uma coisa qualquer. O homem que se chama Arnold, me colocou para operar uma máquina de placas de vídeo, eu devia operá-la e supervisioná-la o dia todo, parando apenas para me carregar quando estivesse com 15% de bateria. Os outros robôs eram máquinas sem alma, não havia ninguém como o Bryan e escapar era impossível, pois como o processo era todo feito por robôs não tinha troca de turno e o galpão era lacrado.

As poucas pessoas que vinham ali eram funcionários do galpão em frente, eles batiam e caçoavam dos robôs, empurrando-os, batendo-os e atrapalhando o seu serviço, uma vez eu os vi jogando ácido em um pobre robô transportador, esses homens eram cruéis.

Assim passaram se os dias, eu pouco a pouco fui me perdendo, parei de tentar planejar uma fuga e nem dormia mais, eu nunca precisei, só dormia um pouco por costume, para a minha mente não ficar maluca, isso me tornava humano. 

Eu me conformei em ser uma máquina útil para sempre, eu já nem me perguntava mais como estaria o Bryan e a Janet ou o Kevin... Só me preocupava em trabalhar e em recarregar. Como os outros robôs só obedeciam a programação, alguns robôs eram tão primitivos que não faziam nada além de bipes, eu não conversava e nem falava mais. Pouco a pouco o brilho da alma nos meus olhos artificiais morreu, eu me tornava frio e indiferente com tudo menos a função. Já não me importava com os robôs que ficavam sem bateria e paravam de funcionar, tendo que ser levados até uma tomada e plugados por alguma pessoa; também não me importava com os robôs que por não terem manutenção adequada e ou por fazer algo além de suas capacidades, quebravam e eram descartados e logo substituídos; e nem ligava para os trabalhadores fazendo bullying com os outros robôs. Eu era agora apenas um objeto com uma missão.

Os dias foram passando, eu não me preocupava em fazer as contas, para mim, todo dia era igual, pelo menos no clube eu tinha alguém para conversar e mesmo os clientes sendo sádicos e nojentos eram uma distração. Um dia atípico eu voltei um pouco ao que eu era, sem muito da vontade de antes, mas por causa de memórias, algo em mim renasceu.

-Anda robô estupido! -Um trabalhador de capacete falava enquanto chutava um robô transportador e este desequilibrava e caia no chão, mas sem deixar as caixas caírem.

Aquilo me revoltou, eu estava carregando numa tomada e estava em 78%, sem pensar duas vezes eu me soltei do cabo na minha nuca e fui em direção a cena.

-Ei! Por que vocês não cuidam das suas vidas hein!? - eu grito para os três caras que estavam espancando o robô, estava desacostumado a falar pelo tempo e talvez não tenha saído tão alto.

-Eita! O que é isso? - outro trabalhador com um macacão azul fala assustado.

-Deve estar com defeito- um terceiro de óculos de proteção explica.

- Deixem ele em paz!- eu falo levantando o robô do chão e este sai sem olhar para trás continuando sua função.

-Você fala demais, vamos acabar com você!- o primeiro de capacete fala e pega uma barra de ferro que estava no chão.

-Quem você acha que é!? Hein!? Você é só uma lata velha! - o de óculos de proteção fala pegando uma corrente de ferro grossa.

- Pega ele! - o macacão azul fala pegando uma chave inglesa e acertando no meu rosto.

O que aconteceu depois não ficou certo para mim, eu só sabia que eu estava levando golpes e mais golpes, chutes e bordoadas com as coisas, acho que teve uma hora que um dos homem jogou um bloco de concreto em mim e então eu apaguei. Acordei já estava escuro e minha visão estava turva, sem foco, também não conseguia me mexer direito, mas eu consegui ouvir Arnold falando um pouco a minha frente ao que parece agachado.

-Que pena ele nunca me deu trabalho...-ele fala baixinho para outro homem- PODEM DESCARTAR!-ele grita e tudo fica escuro.

AliveWhere stories live. Discover now