Capítulo 8 - Tech Noir

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As noites foram se passando, noite após noite, cliente após cliente, homens e mulheres, jovens e mais velhos, sozinhos em sua maioria mas também algumas vezes em companha de mais pessoas e ou androides. Entre os clientes, éramos limpos rapidamente de uma forma eficiente e de dia nos éramos "esterilizados", éramos lavados com jatos de água que segundo meus sensores era de água quase escaldante, depois íamos para o setor de reparos, pois sempre havia os "clientes cruéis" aqueles que nos desfiguravam. Algumas vezes esse processo era feito durante as visitas dependendo do cliente. Após tudo isso, quando ia fechar, nós éramos carregados cada qual modelo ao seu método e íamos para aquele galpão. Eu nem pensava em fugir, primeiro para onde eu iria? E segundo eles tinham armas teaser com um choque suficiente para nos desligar por alguns minutos e eu não queria comprovar a ameaça do chefe que eu vim a saber se chama Enrico Gonzalez, fez quando eu acordei nesse lugar.

-Bryan -eu chamo o BRI40 com seu novo nome, escolhido por ele, não era justo que ele fosse chamado por um código impessoal- Ela veio ontem?

-Ela vem uma vez por semana, mais dias dependendo da sua disponibilidade- ele fala sempre monótono como se não fosse nada.

-Ela virá -eu falo para anima-lo – Ela gosta de você.

Bryan tinha uma cliente fixa, era uma advogada pelo que ele descobriu, seu nome era Janet Simmons e pelo que eu vi não era velha, tinha seus 27 a 30 anos era loira cabelo curto sempre de salto fino.

-Sou um robô adaptado para ser acompanhante e para o uso sexual. Sou apenas um objeto. -ele fala frio, mas eu percebo um pouco de amargura.

- Não fale isso...-eu consolo ele- Ela só vem por você.

- Sou o vibrador preferido dela, grande coisa!- Bryan sai do tom monótono e fala com certa raiva e deboche, desde que nós começamos a conversar, Bryan vinha se soltando cada vez mais e adquirindo maneirismos mais humanos, que até me surpreendiam, como agora.

- Bryan...Ela conversa com você. Você mesmo disse que ela fez perguntas pessoais, ela se preocupa como nós somos tratados. Ela até te perguntou se você pode ter emoções!

- Não significa nada- ele fala frio.

-Você só está assim por que ela não veio- eu brinco.

- Vamos! – ele fala, se dirigindo a uma espécie de vitrine onde os androides ficavam expostos e eram escolhidos pelos clientes e depois iam para os quartos.

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Quando nos reunimos novamente Bryan parecia mais feliz, saímos da limpeza e agora iríamos para a recarga. Todos os outros androides homens e mulheres, sentados em duas fileiras uma de frente para a outra tinham um olhar vazio somente nós conversávamos enquanto carregávamos, eu com um cabo USB na nuca e Bryan com um cabo abaixo da axila direita, sentado na minha frente.

-Não falei que você precisava conversar com ela- eu brinco.

-Só porque ela não me vê como uma máquina estupida não significa que ela se importa -ele fala fingindo indiferença, mas eu vejo outra coisa no seu semblante.

-O que foi? - pergunto suavemente.

-Ela disse que eu poderia fugir- ele me olha falando sério- Nós poderíamos viver juntos e ela conhece pessoas que poderiam me dar uma identidade falsa.

-Isso é maravilhoso! - eu falo empolgado.

-Você não entende...- ele desvia o olhar e encara uma parede.

-Eu sei que não vai ser fácil sair daqui mas...A gente consegue!- eu tento animá-lo.

-E depois huh?- ele fala ainda com um semblante triste sem me encarar- E se ela decidir que eu não sou humano o suficiente? E se ela decidir me descartar igual a minha antiga fam...Meus antigos donos?- ele se corrige.

- Você não pode viver pelos "Se" Bryan. E outra, ela realmente gosta de você, te respeita e sabe o que você é e mesmo assim gostou de você. Ela não vai te deixar e se deixar, você toca a sua vida, livre desse lugar.

-Você não entende- ele fica cabisbaixo- Ela vai me abandonar.

Eu abro a boca para retrucar, mas ele continua.

-Eventualmente, com o tempo, talvez uma doença, um acidente ou apenas de velhice, ela vai me abandonar.

Eu já havia pensado nisso, quando eu estava com o Kevin, mas na época tudo parecia tão distante, tão perfeito que eu não me importei.

-Mas você prefere nunca ter tentado? Nunca ter vivido nem que seja um pouco com ela, ao invés de tentar ser feliz?

-É uma felicidade com prazo de validade- ele fala com raiva.

-Mas mesmo duas pessoas não tem certeza, como você mesmo disse algo pode acontecer e um ir...-eu dou uma pausa procurando a palavra certa- Partir, primeiro. Eles podem ter diferença de idade entre outras coisas.

-Eu tenho que pensar...- ele fala triste.

-Você tem uma semana meu amigo- eu falo em advertência, pois Janet voltaria mais ou menos em uma semana.

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