Lágrimas

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Severo olhava a cena sua frente com total incredulidade, aquela pessoa fria e insensível que acabara de magoar Lilian de uma maneira tão grotesca não era sua Valerie. Ele olhava sem reação enquanto Lilian saia da sala em prantos sendo acompanhada por suas amigas da grifinória. O professor Slughorn parecia igualmente chocado com o modo que Valerie tratou Lilian e mandou que todos os alunos saíssem exceto Valerie.

Severo esperou do lado de fora da sala por o que pareceu uma eternidade antes de ver sua namorada sair da sala do professor de poções.

− Valerie...

Severo viu que ela ficou surpresa por encontra-lo ali.

− Oi Severo, porque não está na aula?

Valerie tentou contornar o moreno, pois não estava preparada para falar com ele agora.

− Porque estava preocupado com você.

− Não precisava se preocupar Slughorn me deu uma detenção, mas o que mais me irritou mesmo foi o monologo chato que tive que ouvir.

Valerie sabia o que iria acontecer se não saísse dali agora mesmo, por isso tentou contorna-lo, mas notoriamente Severo não tinha a mínima intenção de deixa-la ir.

− O que está acontecendo Valerie? Essa não é você.

− Não está acontecendo nada. Lilian e eu tivemos um desentendimento.

− Porque ofendeu Lilian daquele jeito Valerie? Aquilo foi cruel, você sabe como ela se sente sobre aquela palavra.

− Veio aqui tomar as dores da sua preciosa Lilian? Será que vai ser sempre o cachorrinho dela pro resto da sua vida?

O sonserino se assustou com as palavras de sua namorada. Ela tinha entendido tudo errado, ele não estava do lado de ninguém. Mas ela tinha que entender que o que ela fez não tinha sido certo. Ele não iria apoiar tal atitude.

− Não é nada disso Valerie. Você está distorcendo a situação. No fundo você sabe que foi injusta com a Lilian.

− Pra mim já chega. Não vou ficar aqui e ouvir você defender a Evans com unhas e dentes. Se acha que sou uma pessoa tão ruim assim é só voltar para Lilian. Merlin sabe que nosso namoro não ia durar muito mais mesmo.

Severo ficou momentaneamente sem reação ao ouvir as palavras de Valerie. Será que ele tinha ouvido corretamente? Ela estava terminando com ele?

− O que você disse?

− Ouviu bem Severo. Acabou. Foi divertido, mas nós dois sabíamos que não iria durar. Temos apenas dezessete anos e uma vida inteira pela frente. Não achou mesmo que iriamos passar a vida inteira juntos, não é?

As palavras queimavam sua boca ao serem pronunciadas, mas nada poderia se comparar com a dor de ver a expressão devastada que estampada o rosto de Severo. Por Merlin como era difícil fazer aquilo. Ela o amava tanto e estava ali em pé desprezando o amor dele. Valerie sentia seu coração virar uma pedra negra de carvão a cada palavra que saía de sua boca.

− Você não sabe o que está dizendo, vamos conversar depois quando estiver mais calma.

− Por Merlin, será que você não tem amor próprio? Estou te dizendo que você foi apenas um passa tempo e nada mais. Será que terei que ser mais específica do que isso?

− Pare Valerie... eu sei que não acredita no que está dizendo, vamos nos acalmar e amanhã você recuperara a razão.

− Olhe para nós Severo. Eu fui criada em Nova York, a cidade mais cosmopolita do planeta, cheia de oportunidades e diversão. Acha mesmo que eu ficaria feliz morando em um bairro trouxa sem graça no subúrbio de Cokeworth?

Valerie viu quando as palavras acertaram em cheio o coração de Severo. Suas feições ficaram duras e a dor em seus lindos olhos negros era quase palpável.

− Acho que já entendeu Snape. Para uma brincadeira aos dezessete anos tudo bem, mas você não é bom o suficiente para algo duradouro. Você não é bom o suficiente para mim.

Severo sentiu uma dor transpassar o seu peito. As palavras de Valerie ainda ressoavam em sua mente. Viu quando a garota o contornou e saiu o deixando sozinho no imenso corredor vazio, tão vazio quando o seu coração. No fundo ele sabia que era bom demais pra ser verdade, ele nunca tinha sido feliz antes e não seria agora, era tudo uma ilusão.

As palavras, “Você não é bom o suficiente” se repetiam em sua mente como um disco arranhado. Ele já as tinha ouvido antes, e a voz de seu pai adentrou a sua mente dizendo as mesmas palavras. Quando era pequeno sempre as ouvia, por isso nunca se sentiu digno de Lilian. E agora seus piores medos estavam se concretizando, ele realmente não era o suficiente, Valerie também não o considerava digno.

Por alguns minutos vagou sem rumo pelos arredores do colégio. Caminhou para a mais longe possível de qualquer pessoa, se sentia vazio. Se sentia sozinho. E naquele momento ele se permitiu fazer o que não fazia a anos, Severo Snape chorou.

Valerie correu para o seu quarto, correu como se os demônios do inferno estivessem em seu encalço, pois sabia que se não o fizesse daria meia volta e iria atrás de Severo. Ela estava indo contra todos os seus instintos e correndo para o lado contrário da pessoa que ela amava. O rosto de Severo ainda estava gravado a fogo em sua mente, ele parecia realmente arrasado. Não sabia como tinha conseguido forças para falar todas aquelas mentiras e ser convincente.

Valerie sentiu um aperto na garganta e uma repentina falta de ar, a dor em seu peito se intensificou quase ao ponto de leva-la a insanidade. Lembrou mais uma vez das palavras que disse a Severo e sentiu nojo de si mesma. Se encostou em uma parede ao sentir sua frequência cardíaca se elevar de modo intenso e todo o seu corpo começou a tremer enquanto lágrimas escorriam por seu rosto.

Sabia que estava tendo um ataque de pânico mas não se moveu e nem pediu ajuda. Ela merecia passar por aquela dor. Merecia por ter feito duas pessoas que amava sofrer. E naquele momento Valerie se perguntou o quanto uma pessoa poderia aguentar até o ponto de sucumbir a insanidade.

The Half-Blood Prince - Severo SnapeWhere stories live. Discover now