Recomeço

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— Até amanhã, Park.

Simpatia era algo que Jimin já não estava mais acostumado a ver direcionada a ele. A voz cansada de seu colega pronunciando seu sobrenome e acenando enquanto saía do elevador o pegou de surpresa, e ele ficou alguns segundos parado, com os olhos piscando, observando o homem atravessar a recepção com passos apressados, ansiando o momento em que estaria em casa. Jimin engoliu em seco e murmurou uma resposta quando nem podia mais ser ouvido, e precisou colocar seu braço em frente às portas metálicas depressa antes que elas fechassem e o levassem de volta para os andares superiores do enorme edifício.

O segurança alto e de expressão séria que sempre lhe desejava um bom dia sorriu ao vê-lo passando pela recepção, e Jimin, que tentava se lembrar a todo momento de que não precisava bater continência para cada homem maior e mais sério que ele, abriu um sorriso de volta, sentindo algo em sua barriga formigar de maneira agradável. A recepcionista mexia em seu celular e não disse nada, mas não importava, porque Jimin sabia que, normalmente, ela sorriria e o desejaria um bom dia de trabalho, ou então uma boa noite de sono, dependendo da hora que marcava no relógio. Ela só estava distraída. E, para falar a verdade, ele já não gostava mais tanto de receber atenção depois que voltou para casa.

A noite morna de Seul e os passos apressados de Jimin fizeram com que pequenas gotículas de suor se acumulassem em seu rosto no caminho até a estação de metrô. Parado na plataforma esperando o trem chegar, ele observava cada uma das pessoas ao seu redor da maneira mais discreta possível. Diferentes estaturas, diferentes cortes e cores de cabelo, diferentes vestimentas, diferentes posturas, diferentes traços e diferentes passatempos. Nenhuma daquelas pessoas era parecida com outra que estava ali. Cada uma possuía alguma coisa, algum brilho que as distinguia dos outros. Jimin sabia disso. Sabia que aquilo se aplicava a ele também, mas, depois dos dois longos anos que passou longe de casa e depois de sua volta conturbada, ele começou a acreditar que era só mais um rosto comum em meio a todos os outros distintos.

Enquanto segurava a barra de ferro para se manter equilibrado dentro do vagão que não parava de chacoalhar, Jimin sentiu seu celular vibrando dentro do bolso da calça, e se apressou em pegá-lo para saber quem estava o ligando. Ele não tinha muitas opções, mas as poucas que tinha podiam causar diferentes reações em seu emocional. Ao ver um nome conhecido no visor, e um que não o traria dores de cabeça nem o faria querer tomar diferentes tipos de chá para se acalmar, ele soltou um suspiro de alívio e deslizou seu dedo da esquerda para a direita sobre a tela, ouvindo um grito vindo do outro lado da linha antes mesmo que pudesse levar o aparelho ao seu ouvido.

— Park Jimin, você está sendo formalmente convidado a comparecer no luxuoso palácio das famílias Jung-Kim para um delicioso jantar. — a voz do outro lado da linha era conhecida, e soava mais animada do que o normal. Jimin abriu um sorriso ao tentar imaginar a falsa expressão aristocrática que o amigo tinha no rosto, e soltou um murmúrio rápido, indicando que estava ouvindo a proposta. — Jantar este composto por saborosas sobras do melhor restaurante de Seul, segundo a revista eu, trazidas em uma elegante embalagem de isopor dentro de uma refinada sacola plástica.

— É difícil recusar uma proposta dessas. — Jimin disse em um tom de voz baixo, tentando conter o sorriso que crescia lentamente em seu rosto. Ao fundo, ele conseguiu ouvir uma segunda risada familiar, e soube que, se aceitasse o convite, teria excelente companhia para sua noite. — Estou a duas estações da sua casa. Devo chegar aí em dez minutos.

O luxuoso palácio das famílias Jung-Kim não passava de um apartamento de pouquíssimos metros quadrados localizado nas alturas de mais um prédio enorme daquela cidade, e não pertencia a nenhuma família poderosa, apesar de pertencer a dois dos amigos mais importantes que Jimin tinha. Foram Jung Hoseok e Kim Namjoon que ficaram ao seu lado assim que ele saiu do exército e voltou para casa depois de dois longos anos afastado, e foram eles que permaneceram e o ajudaram quando Jimin viu o fundo do poço. "Gratidão" era uma palavra fraca demais para expressar o que ele sentia pelo casal que sempre fazia questão de saber como ele estava, mas era a única que ele conseguia pensar para lembrar aos amigos como ele se sentia com tudo que faziam por ele.

De Volta à Primavera • yoonminWhere stories live. Discover now