Palácio

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A segunda-feira de Jimin começou gelada, apesar de seu corpo estar todo aquecido, da cabeça aos pés, sem deixar um único fio de cabelo escapar.

O teto branco de seu quarto o encarava e questionava como havia sido seu sonho dessa vez. Mãos dadas? Sorriso frouxo? Vagas memórias de toques em sua pele? Jimin não tinha certeza. Ele se lembrava de ver Yoongi em algum momento, lembrava-se de ver Junghwa em outro, mas não sabia ao certo as imagens que seu cérebro havia formado enquanto ele dormia. Não se lembrava de sons nem sensações. Mas Yoongi estava lá, sempre sorrindo, sempre cercado de luz e alegria. Por dois segundos, o coração de Jimin doeu em seu peito, e ele soube que não estava nem um pouco preparado para lidar com seus sentimentos naquela semana. Não sabia se um dia estaria.

A conversa da última sexta à noite com Junghwa ficou martelando em seus pensamentos durante o fim de semana inteiro, a todo momento. Ele pensava nos elogios que fez a Yoongi com tanta facilidade enquanto Hoseok pedia ajuda para escolher um filme, pensava em sua falta de entusiasmo em estar com Junghwa enquanto Namjoon fazia críticas pontuais sobre como sua profissão era retratada na tela. Estava tudo errado, indo de mal à pior. Jimin sempre foi uma pessoa de ouvir o que seu coração lhe dizia, mas, naquela situação, ele queria que seu lado racional lhe desse uma luz, uma explicação para tudo que estava acontecendo. Ele sentiu atração por Junghwa, mas também acreditava que nutria sentimentos românticos por Yoongi.

De volta à segunda-feira, enquanto seu celular despertava pela terceira vez – dane-se a academia, Jimin pensou –, o engenheiro tentava imaginar como olharia nos olhos de Yoongi durante o almoço depois de sua fatídica sexta-feira. A confissão implícita a Junghwa, a maneira que sua mente nervosa ansiou por uma mísera conversa com o advogado. Se Jimin estivesse em negação ainda maior, desconfiaria que tinha uma certa dependência com Yoongi. Mas não, não era aquilo. As reações físicas que ele mostrava ao simplesmente pensar em Yoongi diziam de forma clara o que estava acontecendo. E, na sexta-feira, ele deu apenas mais um passo no caminho para aceitar tudo que estava acontecendo.

Precisava ir devagar, de preferência quase parando. Jimin já tinha visto seus amigos andando pelo território antes, mas ele próprio nunca havia colocado os pés ali, e tudo que era novo podia ser assustador. Aquilo era assustador, muito mais do que qualquer outra coisa que ele havia vivido durante todos aqueles anos. Assustador como quando entrou na faculdade, assustador como quando percebeu que estava perdidamente apaixonado por Eunju, assustador como quando percebeu que não queria viver uma vida sem Taehyung como seu amigo. E, mesmo que assustadores, nenhum daqueles momentos foi inteiramente negativo. Jimin estava completamente apavorado agora, mas de um jeito familiar. Um jeito que, bem, bem lá no fundo o trazia certa paz.

Eram transições cansativas. Em um momento, sorrisos bobos surgiam em seu rosto de maneira inesperada, mas em um piscar de olhos, uma dúvida angustiante podia surgir em seu peito e trazê-lo para baixo. Vai e volta, sobe e desce. Nunca parado em um lugar, nunca inerte para entender e aceitar tudo que estava acontecendo.

— Trabalho vai ser dobrado essa semana. — Jeongguk murmurou com certa impaciência em seu tom, deixando uma pilha de folhas em cima da mesa de Jimin sem cerimônias. — Caiu para a gente consertar o erro dos outros. Espero que esteja com a mente e o corpo descansados, porque vai ser bem desgastante.

Estar com a mente descansada era uma realidade distante de Jimin havia meses. Ele não conhecia mais o que era ter paz dentro de sua cabeça há tempos, e sentiu uma vontade enorme de rir quando Jeongguk deu meia volta e andou até a própria mesa. A verdade é que trabalho o ajudava a relaxar, de certa forma. Ele preferia se estressar com números e clientes da empresa do que pensar em seus próprios problemas. Aquilo tudo, aquele ambiente cinzento e frio, tudo vinha do lado de fora, era fator exógeno. Mas todas as nuvens que o atormentavam diariamente estavam dentro de sua cabeça, de seu peito, e não sumiam a partir do momento em que ele saía de um lugar e ia para o outro. Pelo contrário, às vezes só piorava dependendo de onde estivesse.

De Volta à Primavera • yoonminWhere stories live. Discover now