Capítulo 11 - Acordado

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GABRIEL

Eu estava sentado em um canto do meu quarto escuro. Olhei para o teto de forma vazia, meus olhos passearam ate a janela que mostrava as estrelas que brilhavam no céu. Estiquei minhas pernas e deixei que elas relaxassem. Cocei meus olhos e devagar juntei forças para me levantar. Caminhei cambaleante para cama e me joguei nela. Não havia forças em mim, eu fui trazido pelos pais de Alex para casa e desde aquela manhã eu estava naquele canto, absorto na ideia de perder Alex.

Tudo parece ser estranho, mas acredito que viemos a esse mundo por alguma razão. Com algum propósito e descobri o meu, há algum tempo atrás.

Era inverno. O vento chicoteava o capo das arvores que rangiam em protesto, eu estava agasalhado e caminhava pela trilha do parque, quando vejo um garoto. Ele olha para a água do rio que corre por debaixo da ponte de uma forma vazia. Ate aquele momento não havia nada de mais na cena, mas ele subiu na grade proteção da ponte e mais uma vez olhou para a água gelada.

Corri. O mais rápido que eu pude e sem me importar com nada. Ele continuava parado e estático quando me aproximei.

- Esta tudo bem?

Silencio.

- Oi... – esperei uma resposta, mas nada. – Será que você pode descer?

Inerte.

Então ele pegou impulso para trás. Ele iria se jogar. O agarrei pelo braço e ele caiu por cima de mim no chão frio. Então ele começou a se debater e a chorar enquanto meus braços o seguravam com força. Ele tentou se desvencilhar de todas as formas possíveis e o seu choro ficou mais alto.

- Você vai ficar bem – sussurrei.

Ele apenas chorava e continuava se debatendo, ate que finalmente cansado ele desistiu. Seus olhos estavam inchados e arroxeados. Ele não dormia a algum tempo. O peguei no colo e me levantei do chão, fui ate um dos bancos da praça e o segurei contra meu corpo. Ele estava gelado e poderia ter hipotermia. E abraçado comigo ele dormiu, sem se importar onde estava e com quem estava.

Desde aquele dia eu o vigiava de certa distancia. Ele sempre foi um garoto frágil ao mesmo tempo que era muito forte. Descobri alguma coisas sobre ele nesse tempo. Alex sofria de “angina de peito” que é uma dor no peito devida ao baixo abastecimento de oxigênio ao músculo cardíaco; geralmente é devida à obstrução ou espasmos. Os ataques de angina que pioram ocorrem durante o descanso e que duram mais de 15 minutos podem ser sintomas de angina instável ou mesmo de um enfarte do miocárdio popularmente conhecido por ataque cardíaco ou enfarte do coração. E ainda tinha crises depressivas.

Conheci os pais dele naquela época, e garanti que os ajudaria a cuidar dele, já que eles não poderiam ir para todos os lugares que ele vai e então eu me tornei o anjo da guarda dele. O irmão mais velho. E mesmo que ele não se lembre de mim naquela época foi necessário para que eu o mantivesse seguro ate agora. Mas tudo fugiu ao controle e tanto eu quanto os pais dele temos um único medo.

Perde-lo.

Cansado fechei os meus olhos, esperando por dia melhores. Por uma vida para meu amado irmão.

Como de costume eu sempre chegava ao hospital as seis da manhã, o cheiro de detergente impregnava os corredores e as minhas narinas. Adentrei o quarto de Alex no segundo andar e vi Airton segurando sua mão enquanto dormia sentado na poltrona. Aproximei-me e cutuquei-o.

- Você já pode ir... – sussurrei.

Ele abriu os olhos devagar e sonolento me respondeu.

- Eu posso ficar mais um pouco.

- Não já esta na sua hora e além do mais você vai ficar todo quebrado.

Ele suspirou e abriu a boca ao se espreguiçar.

- Já estão.

Olhei para as mãos dele na de Alex.

- Desculpe. – disse Airton sem jeito as soltando.

- Não faça as escolhas por ele. – disse serio. – Espere ele esta consciente da realidade.

- Isso me preocupa.

- Porque?

- E se ele não sair desse estado nunca?

- Então a sua pouca fé nele, não merece nem ao menos um abraço dele.

Ele abaixou a cabeça.

- Eu tenho medo.

- Todos nos temos.

Então ele se levantou e se espreguiçou novamente. Ele se afastou em direção à porta e acenou.

- Ate daqui a pouco.

Respondi com um meneio de cabeça enquanto sentava na velha poltrona e observava a face tranquila dele, enquanto dormia. Segurei sua mão.

- Por favor, não desista. Eu não posso admitir deixar você ir por causa de idiotas, se algo acontecer a você a culpa será...

Ele apertou minha mão.

- Minha... – Alex sussurrou. – A culpa será minha.

Ele abriu os olhos devagar e bocejando. Coçou os olhos e me olhou.

- Não culpe ninguém pelas minhas fraquezas e meus temores. – disse ele esboçando um leve sorriso.

Querido Diário: O Poder - Livro II (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora