Capítulo 14 - Tempestade

2.6K 244 15
                                    

“Há uma luz em seus olhos, não posso negar e aqui estou num barco naufragando, ficando sem tempo. Sem você nunca sairei vivo dessa, mas eu sei, sim, eu sei que vou ficar bem. Há algo diabólico em seus olhos me perseguindo e cada vez que olho para trás isso fica mais rápido. Chega um momento em que você finalmente percebe que não há como mudar o tempo que está passando, mas eu sei, sim, eu sei que vou ficar bem”. – Ready to Run (One Direction)

O vento rugia do lado de fora do meu quarto, à copa das arvores balançavam descontroladamente. Nuvens densas e escuras encobriam o céu enquanto raios e relâmpagos dançavam no céu turvo. O frio inundava meu quarto enquanto eu tentava me esquentar com meu cobertor.

Já havia alguns dias que eu havia voltado para casa, mas as coisas não haviam mudado muito na verdade. Eu estava trancafiado no quarto, eu não queria ver ninguém, o único que entrava no meu quarto era Gabriel que me trazia as refeições. Que queria ficar sozinho sem as perguntas se estou bem ou não e Gabriel não as fazia, ele sabia que eu não precisava disso.

Então como de costume a porta se abriu às oito e meia da noite, Gabriel adentrou o quarto com duas xícaras de chocolate quente que emanava calor e uma fumaça branca. Ele se sentou ao meu lado e me entregou uma das xícaras e observamos o tempo pela minha janela.

- Porque não sai um pouco? – ele me olhou preocupado.

- Eu não quero sair, estou cansado. – disse dando de ombros.

- Cansado? – ele me olhou surpreso.

Dei de ombros e tomei um gole do chocolate.

- Sim. – disse olhando para o céu escuro. – É isso o que as pessoas dizem quando desistem de algo. Pelo menos eu falo.

- E do que desistiu? – ele me olhou curioso.

Suspirei.

- De tudo.

Bebi mais um pouco de chocolate e ele se mantinha quieto em sua posição na cama.

- Foi por isso que disse aquilo ao Airton no hospital?

Ele me olhou e eu o olhei de volta.

- Do que esta falando? – falei sem entender nada.

- Você dispensou Airton.

- Espera quem? – disse incrédulo. – Eu não estive em nenhum hospital e muito menos conheço nenhum Airton.

Ele se levantou apressadamente.

- Não pode ser. – ele parecia transtornado.

- O que?

- Alex o que você fez na semana passada?

- Pra que quer saber?

- Responde.

- Estive em casa, escola.

- Como? – ele parecia não acreditar.

- Ta “zuando” com minha cara Gabriel?

Ele começou a andar de um lado para outro.

- Marcos!

- Marcos?

- Sim. Lembra-se dele?

- Do que esta falando? Acho que você bateu a cabeça em algum lugar. – disse rindo da situação.

Ele continuou serio e sua expressão me deixou preocupado.

- Algo errado?

- Sim... Quero dizer não. Responda-me uma ultima coisa.

- Pode falar.

- Você esta namorando?

- Claro. O Lucas esqueceu?

Um trovão ecoou.

Gabriel caiu sentado na cama com as mão no rosto.

- O que houve? – perguntei.

- Alex você não namora o Lucas já faz meses?

- Como assim meses?

- Não! Isso não é verdade. Não gostei dessa brincadeira de mal gosto.

- Mas é a verdade.

- Não é!

Gabriel pegou o celular no bolso e me estendeu.

- Ligue para ele.

- O que?

- Ligue para ele, mas que droga!

- Porque esta gritando?

- O que esta havendo aqui? – minha mãe adentra o quarto correndo. – Porque essa gritaria?

Ela olha para mim e depois para Gabriel.

- Gabriel?

- Esta acontecendo. – ele disse.

- Não pode ser. – minha mãe disse atônica.

Um clarão iluminou o céu.

Porque todos estavam mentindo para mim? Porque estavam fazendo essa brincadeira de mal gosto. Peguei o celular esquecido na cômoda. Ele estava desligado, apertei o botão para liga-lo então a tela se acendeu.

- Não Alex. – Gabriel gritou.

Eu não podia acreditar no que estava vendo.

Era dia vinte e nove de novembro.

E eu estava beijando um homem.

Algo como um turbilhão adentrou a minha mente, vi cenas e momentos passarem rapidamente e de forma embaralhada. Então meus olhos se encheram de água e comecei a chorar. As lagrimas transbordavam, minhas pernas cederam, cai no chão. Gabriel me amparou e minha mãe se aproximou. Desesperado eu gritei:

- O que esta acontecendo comigo?

Querido Diário: O Poder - Livro II (Romance Gay)Where stories live. Discover now