Menina Má

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- Vai ficar tudo bem. Mal prefere ficar sozinha - disse ele - Ela não é tão durona quanto parece... é jogo de cena.

- É mesmo? E você? - perguntou a princesa de cabelo azul.

- Eu não faço jogo de cena. A não ser que você considere ser surrado e arrastado por aí como jogo de cena, o que, de certo modo, acho que pode ser. Mas não é tão engraçado, a não ser que seja você batendo e arrastando.

- Eu sou a Evie. Qual é o seu nome? - ela perguntou.

- Oi, Evie. Sou Carlos de Vil - disse ele. - Nós nos conhecemos na sua festa de aniversário. - ele a reconheceu no minuto em que ela entrou. Ela continuava igual, porém mais alta.

- Ah, me desculpe. Não me lembro de muitas coisas sobre aquela festa. Exceto a forma como terminou.

Carlos assentiu.

- Bem, somos vizinhos. Eu moro no fim da rua, no Salão do Inferno.

- É mesmo? - os olhos de Evie se arregalaram -Mas achei que ninguém morava lá, a não ser aquela velha maluca e seu...

- Não diga! - ele a interrompeu.

- Cachorro? - disse ela, ao mesmo tempo.

Carlos ficou arrepiado.

- Não... Não temos cachorro - disse ele com a voz trêmula, sentindo sua testa transpirar só de pensar. Sua mãe havia dito a ele que cachorros eram animais perversos que viviam em bandos, os bichos mais perigosos e aterrorizantes da terra.

- Ela está sempre chamando alguém de Pet. Achei que vocês tinham um ca...

- Já falei, não diga! - avisou Carlos. - Essa palavra é um trauma pra mim.

Evie levantou as mãos.

- Tudo bem, tudo bem. - ela piscou. - Mas como você cabe na casinha à noite?

Carlos respondeu com um olhar fulminante.

A primeira aula era Introdução ao Egoísmo, ou "Selfies", e a professora era Mamãe Gothel, que adorava fazer autorretratos com uma velha câmera Polaroid.

As fotos estavam espalhadas por toda a sala: Mamãe Gothel fazendo biquinho, Mamãe Gothel com os olhos semi-fechados, do tipo "acabei de acordar", mas a Mamãe Gothel na verdade não estava lá. Ela sempre atrasava no mínimo meia hora, e ficava irritada porque os alunos chegavam antes dela.

- Por acaso eu não ensinei vocês a chegar estilosamente e irritavelmente atrasados para todos os compromissos? - ela perguntou ao entrar, soltando um suspiro e se deixando cair dramaticamente em sua cadeira, levando a mão direita à testa.

Na meia hora que se seguiu, eles estudaram os retratos do mal, comparando as semelhanças dos vilões mais famosos da história, muitos deles moradores da Ilha e, alguns deles, pais de alunos. A aula de hoje era sobre Cruela de Vil.

Evie não conseguia prestar atenção sobre o que Mamãe Gothel falava sobre o quadro de Cruela, cheia de jóias finas, com o cabelo para cima ao lado de seu belo carro vermelho, olhos selvagens e peles voando ao vento.

Evie escrevia o nome de Mal, como se fosse um desenho, era roxo com sombreamento preto.

- É... - Carlos chamou sua atenção, e foi aí que ela percebeu que ele olhava o que ela escrevia, ela fechou os cadernos rapidamente, ficou pálida, tão branca quando Branca de Neve.

- Ah, uou... - Carlos fitou os olhos de Evie. - Você... gosta dela? - ela arqueou as sobrancelhas.

- Por favor - Evie manteve sua cabeça baixa, sentia suas bochechas queimarem de vergonha. - Não conta, te imploro.

Barreira do destinoWhere stories live. Discover now