Apenas humana

496 40 16
                                    

Em um minuto Evie estava procurando a sua sala enquanto andava pelo corredor movimentado de Dragon Hall, e num piscar de olhos estava numa sala vazia sendo colocada contra a parede pela filha de Malévola. Evie estava a todo custo tentando controlar a respiração falha, com o corpo de Mal pressionando o seu.
— Então é verdade? — Mal sussurrou no ouvido de Evie, por fim soltou um risinho, podia sentir Evie fechar os olhos e sua respiração falhar.
—  O-O quê? — ela gaguejou.
— Sua mãe vai adorar saber que quer "alguma coisa" comigo — Evie arregalou os olhos.
Mal deitou a cabeça no ombro de Evie, deixando sua respiração atingir em cheio aquele pescoço nu, sua mão segurava firme a cintura de Evie.
— Vai negar, blueberry? — Mal tocou o pescoço de Evie com a ponta do nariz. — Sabe o que é mais prazeroso? — Mal encarou Evie, enquanto enrolava madeixas do cabelo azul em seu dedo. Evie, tendo consciência ou não, colocou suas mãos na cintura da baixinha. — Não importa o que eu faça, ninguém acredita em você — ela aproximou tanto os lábios, que com uma respiração brusca, eles se tocariam. — Te vejo na festa? — os lábios se roçaram, a azulada sentiu suas bochechas queimarem. Queria muito beijar aqueles lábios rosados. Mal sorriu maleficamente, um sorriso sedutor aos olhos de Evie.
Mal depositou um beijo maroto na bochecha da filha da Rainha Má e saiu, sem dizer mais nada. Evie ficou ali, do jeito que a herdeira da ilha a deixou.

Quando o relógio bateu à meia-noite, os convidados de Mal começaram a chegar em peso. Não havia carruagens de abóbora ou escravos roedores à vista em nenhum lugar. Nada fora transformado em nada, ou pelo menos nada que alguém considerasse um veículo interessante.
O que havia eram vários pedestres, usando todo tipo de calçado gasto.

Mais de uma hora depois que o evento havia oficialmente começado, ouviu-se uma batida seca na porta. Não estava claro o que distinguia essa batida das outras, mas que era diferente, era. Carlos pulou do sofá como um soldado convocado de repente.
Carlos controlou seus nervos e abriu a porta.
— Vá embora! — gritou, usando a saudação tradicional da ilha.
Mal estava parada na entrada. Iluminada pela luz do salão, vestida de couro púrpura brilhante dos pés à cabeça, ela parecia ter não uma aura, mas um foco de luz trêmula em torno de si, como o vocalista de uma banda em um show particularmente bem iluminado – com fumaça, neon e outros efeitos pirotécnicos brilhantes.
— E aí, Carlos — disse ela — Estou atrasada?
— De forma alguma — disse Carlos. — Entre.
— Feliz em me ver? — perguntou Mal com um sorriso.
Ele assentiu. Só que não. Felicidade não era um termo apropriado.
Ele estava morrendo de medo.
Em algum lugar, lá no fundo, ele queria o colinho da mamãe.

— Dose de sangue de sapo! — anunciou Mal, adentrando o salão como se fosse só mais uma convidada. — Pra todo mundo!
E assim a festa recomeçou, tão rápido quanto havia sido interrompida. Foi como se todo o salão tivesse suspirado de alívio. Mal não é louca. Ela não vai banir a gente das ruas. Ela não vai chamar a gente de Horror.
Pelo menos não ainda.
Mal notou o alívio nos rostos e não culpou os convidados. Eles estavam certos. O jeito como ela se sentia era motivo para celebrar.
A multidão aplaudiu quando as doses de sangue de sapo foram oferecidas a todos e Mal, em uma demonstração surpreendente de espírito esportivo, bebeu o líquido viscoso junto com todo mundo.
Ela circulou pela festa, se abaixando por causa de um pirata entusiasmado no balanço do lustre, dando uma mordida no cachorro-quente de alguém e pegando um pouco de pipoca murcha. Ao voltar para o salão principal, deu de cara com Jay, esbaforido depois de vencer uma competição de dança.
— Está se divertindo? — perguntou ele.
Ela deu de ombros.
— Para onde foi o Carlos?
Jay soltou uma risada e apontou para um par de sapatos pretos aparecendo debaixo de um lençol que cobria uma enorme estante de livros.
— Se escondendo em sua própria festa. Típico.
Mal sabia como Carlos estava se sentindo, embora ela jamais fosse admitir. Na verdade, ela preferia estar em qualquer outro lugar em toda a ilha a estar nessa festa. Assim como sua mãe, ela detestava badalações. Diversão a fazia se sentir desconfortável. Risada? Era alérgica a isso. Mas uma vingança era uma vingança, e ela tinha planejado bem mais essa noite do que apenas Verdade Obscura ou Desafio Mortal.
— Vamos lá — disse Jay. — Eles estão jogando “Coloque o rabo naquele capanga” e Jace já tem, tipo, dez rabos. Vamos ver se chegamos aos 12.
— Só mais um minuto. Cadê a Princesa Mirtilo? — perguntou Mal. — Dei uma volta por toda a festa e não a vi em lugar nenhum.
— Evie? Não chegou. Ninguém sabe se ela vem mesmo ou não — Jay desconversou. — Sabe como é, esse povo de castelo…
— Ela tem que vir. Ela é a razão principal, o único motivo de eu estar dando esta festa ridícula. — Mal odiava quando seus planos malignos não saíam como esperado. Aquela era a primeira etapa e tinha que funcionar. Olhando para a porta, ela bufou. Fingir estar se divertindo em um tipo de evento que você abomina era a coisa mais cansativa do mundo.
Mal estava de pleno acordo com a mãe nesse ponto.
As maçãs podres estavam tocando agora seu maior sucesso, "Nunca me liguei".
Ela voltou de seu devaneio, não por causa da sidra ou da música, mas porque, no canto de seu campo de visão, notou a presença de Evie atrás da janela que ia do chão ao teto do salão. Ela vinha chegando pela rua em uma carruagem nova e sua linda trança brilhava com a luz da lua. Ela se acha especial. Vou mostrar a ela, pensou Mal. Ela vasculhou o ambiente com os olhos até identificar uma porta.
Era a porta que levava para um depósito de Cruela de Vil. Mal só sabia disso porque ela e Carlos haviam entrado acidentalmente quando trabalhavam em uma lição sobre árvore genealógicas malignas no 6º ano. Ela tinha ficado entediada e decidiu xeretar o Salão do Inferno. O depósito de Cruela não era para fracos.
Mal jamais esqueceria aquele dia. Era o tipo de depósito que assustaria qualquer um. Especialmente uma princesa que estava subindo as escadas da porta da frente e chegaria a qualquer momento.
— Jay — disse ela, indo em direção à entrada. — Me avise quando Evie chegar.
— Hã? O quê? Por quê?
— Você vai ver — disse ela.
— Faz parte do plano maligno, não é? — disse ele, feliz de poder fazer parte. Jay sempre estava a fim de pregar uma peça.
Mas Carlos ficou pálido ao ver para onde Mal estava indo.
— Não! — gritou. Ele se livrou do lençol, quase tropeçando no tecido para tentar chegar à porta antes que Mal a abrisse.
Ele bateu a porta com força. Bem na hora!
Mal cruzou os braços. Ela não ia desistir. Era perfeito demais. Ela olhou pela janela mais uma vez. A Princesinha Atrasada de Propósito estava na porta da frente.
Assim que Mal viu Evie entrar pela porta, ela entrou naquele armário, agora era só esperar Jay.
Jay disse em voz alta:
— Jogo novo! Sete minutos no Paraíso! E você nunca jogou para valer se não foi ao depósito do Salão do Inferno.
As palavras mal saíram da boca do filho de Jafar e algumas garotas praticamente passaram por cima dele para chegar à porta. Elas adoravam jogar Sete Minutos e estavam animadas para saber com quem ficariam presas lá dentro. Algumas delas até retocaram o batom e a maquiagem enquanto piscavam para Jay, que estava parado na frente da porta como um sentinela.
— Quem quer ir primeiro? — perguntou Jay.
— Eu! Eu! Eu! — gritaram as garotas.
— Ela quer — disse Jay, segurando uma capa azul.
— Eu? Eu quero o quê? — perguntou a dona da capa.
Mal sorriu de dentro do armário.
Evie tinha chegado.
— Evie, querida! Que bom que você veio! — disse Jay, abraçando a garota de forma teatral, cheia de falsidade. — Estamos jogando Sete Minutos no Paraíso! Quer participar?
— Ah, eu não sei — disse Evie, olhando em volta, tensa!
— Vai ser um máximo — insistiu Jay. — Venha. Quer ser minha amiga, não é?
Evie encarou o garoto.
— Você quer que eu seja sua amiga?
— Claro. Por que não? — Jay a levou até o depósito e abriu a porta.
— Mas um garoto não tem que entrar comi- — Evie ia perguntando, mas Jay fechou a porta.
A multidão no corredor começou a fugir de medo quando ficou claro que aquilo era um plano e que mais ninguém além de Evie ia ficar presa no depósito.
E Carlos continuou parado, com o rosto tão branco quanto as pontas de seu cabelo.
— Mal, o que você tá fazendo? — Ele sussurrou. Logo sentiu um aperto forte no ombro.
— Você vai me acompanhar durante a noite — afirmou o moreno, sorrindo. Era evidente que Jay faria de tudo para manter Carlos longe de Evie durante aquela noite.

Evie sentiu um abraço por trás, pensou em gritar, mas aquelas mãos em volta de sua cintura pareceram familiares.
— A noite está apenas começando para você, princesa — Mal sussurrou, a voz rouca no ouvido da azulada.
Evie engoliu em seco.
Mal começou a tirar o casaco de Evie, e o jogou entre umas armadilhas, um barulho infernal ecoou.
Mal segurou Evie pela cintura e foi a puxando entre os vãos das armadilhas até chegarem em uma porta.

A filha da Rainha Má não sabia como chegara naquele ponto, mas estava deitada numa cama com Mal em cima do seu corpo. O quarto tinha pouca iluminação, o que o iluminava eram velas coloridas, um roxo azulado, talvez.
— Espero que goste do fogo, — disse Mal descendo o zíper de seu vestido, Evie não conseguia resistir, era isso que ela sempre quis — pois você sentirá as chamas dele — Mal tirava o vestido de Evie enquanto olhava para ela, tão facilmente. Mal olhou o seio farto de Evie, nu, mordeu o lábio inferior. — Essa noite, eu serei o seu fogo — foi a última coisa que disse antes de abocanhar o grande seio de Evie.
Evie soltou um gemido baixinho e desejou que aquilo não fosse outro sonho.

Barreira do destinoWhere stories live. Discover now