CAPÍTULO QUARENTA E DOIS

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Dulce Maria

A brisa fresca tocava minha pele, a lua cheia brilhava tão forte lá em cima que sua claridade atrapalhava-me observar as estrelas. Eu estava ali, recostada à sacada enquanto entrava em conflito com meus pensamentos. Eu tinha que conversar com Christopher antes que voltássemos pra casa, mas não queria arruinar todo um final de semana.

Já era tarde, o homem que havia me feito tão bem nas últimas horas descansava em um sono profundo no quarto, e de onde eu estava eu conseguia ver sua silhueta movendo-se pela respiração pesada.

Virei-me novamente de costas e voltei a pensar em como explicaria a ele o que eu havi decidido fazer. Talvez ele não ficasse feliz, e talvez até resolvesse parar por aqui, mas naquele momento era a única saída cautelosa que eu estava encontrando.

Fiquei mais um tempo ali, incapaz de me deitar e finalmente adormecer porque meus oensamentos martelavam constantemente na minha cabeça. Pensamentos esses que foram interrompidos quando Christopher acordou e sorrateiramente veio até mim, abraçando-me por trás.

— O que faz acordado?

— Sentinque estava frio do meu lado e vi que não estava lá. Está tudo bem? Perdeu o sono?

Senti ele apoiar seu queixo no meu ombro direito, o calor de sua respiração aqueceu meu colo. — Preciso te contar uma coisa, mas precisa prometer que não vai me jogar da sacada ou me afogar no lago.

— O que foi que você fez?

— Eu conversei com o Nicolas.

— Conversou? Por que não me disse antes?

— Porque estava pensando em como contar pra você que eu disse pra ele voltar pra casa.

— Você o quê?

Ele se afastou e eu fechei meus olhos. Deixei alguns segundos em mudo para ele perceber que eu não queria discutir. — Eu fui até a empresa e conversei com ele, disse que sabia das fotos e que se ele ousasse fazer algo, com certeza ele não sairia impune.

— Não entendi a parte do "ele voltar pra sua casa". O que isso tem a ver?

— Eu meio que contei a ele sobre a gente. — Mordisquei o lábio inferior esperando o surto dele.

— Dulce!

— Qual é, ele não é idiota, Christopher, e por mais que eu negasse que realmente tinha algo rolando, ele ia descobrir.

— E o que ele disse?

Dei uma risada fraca lembrando-me das palavras dele. — Ele não se importa, desde que isso não atrapalhe nosso casamento. — Fiz uma careta. Cada dia que se passava a ideia de estar casada com Nícolas me parecia pior. — Falso casamento.

— Então?

— Então eu vi uma oportunidade. Uma gigantesca oportunidade de fazer nosso plano dar certo.

— Não entendi.

— Vamos continuar vivendo sob o mesmo teto, ele não irá desconfiar que existe um plano para eu simplesmente sair desse pesadelo. Eu não o incomodo com a secretariazinha dele e nem ele me incomoda com nós dois. Teremos tempo de sobra para fazer o que quisermos sem que ele e muito menos o meu pai desconfiem.

— Não sei se gosto disso. — Senti um peve tremor na sua voz.

— Ele não vai fazer nada comigo, Christopher. É uma coisa que vai ficar entre nós dois, meu pai não precisará saber disso.

— E quando ele se cansar?

— Espero que seja tarde demais pra ele. Eu não pretendo ficar muito mais tempo nessa não relação.

Virei-me de frente pra ele e então o abracei. — Eu não consigo confiar nele, não vou conseguir dormir em paz sabendo que os dois estão dormindo sob o mesmo teto.

— Não se preocupe, serei cautelosa. E eu tenho tranca extra no meu quarto por dentro, ele jamais entraria lá sem minha permissão.

Christopher soltou um suspiro e assentiu. — Osso significa que você vai ter que voltar a se mostrar a esposa feliz para os outros verem, não é?

— Quanto a isso, eu não poderei deixar de fazer até que finalmente coloque um ponto final nessa história.

Ele se afastou novamente, encostando-se ao parapeito na sacada e olhando a pisagem escura. — Maravilha! Vou ter que ficar vendo você sair deslumbrante em seus vestidos que valem mais que meu rim para posar ao pado dele como a esposa fiel e feliz.

— Está com ciúmes?

— Estou sim, pra ser sincero. — Ergui minha sobrancelha e ele me olhou. Dei uma risadinha vendo suas bochechas corarem. — Acha que gosto de estar nessa situação? Eu queria apresentar você aos meus pais, aos meus amigos, queria que isso fosse uma relação por inteiro, sem nada a esconder.

— Me desculpa, mas acho que desde o primeiro momento já imaginava que iria ser assim, não é?

Afastei-me um tanto chateada. Mesmo que eu simplemente abrisse mão de tudo, não seria simplesmente juntar minhas coisas e ir morar com ele.

— Desculpa.

— A gente entrou nessa sabendo que não seria fácil, Christopher. Talvez a gente tenha dado um passo maior que a perna.

— O que quer dizer?

— Que a gente foi rápido demais com tudo isso, era pra ser algo sem compromisso, sem sentimentos e olha só pra gente agora.

— Não acho que tenhamos ido rápido demais, talvez a gente só tenha demorado demais a se conhecer.

— Acha que se tivéssemos nos conhecido antes a gente teria se apixonado?

— Tenho certeza que nos odiaríamos com todas as  nossas forças. Eu o garoto pegador, você a garota mimada. Não teria dado certo.

— É, talvez não. Eu nunca tive queda por prostitutos.

Christopher soltou uma gargalhada gostosa e voltou a me abraçar. — Acho que os últimos anos por mais difícil que foram fizeram super bem pra gente. A gente amadureceu muito, não foi?

— Acho que sim. — Ergui minha cabeça e dei uma peve mordida em seu queixo. — Tá um pouco frio aqui, vamos lá pra dentro.

Vizinhos | VONDY (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora