CAPÍTULO CENTO E UM

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CHRISTOPHER

Audiência marcada, agora Dulce, o advogado e um detetive particular corriam contra o tempo para averiguar a situação do suposto irmão que ela passou a vida inteira sem saber que tinha. Precisávamos encontrar esse homem antes que Fernando pudesse fazer algo a ele e antes que ele fosse devidamente julgado pelos crimes que havia cometido.

Dulce estava passando os dias à flor da pele pois enquanto o detetive viajava, de maneira sigilosa até o México em busca do irmão perdido, ela estava travada para assinar o divórcio. Eu a entendia, afinal, depois de se casar e passar anos em um pesadelo como o que ela viveu, não assinaria qualquer papel com tanta facilidade.

— Quer ler de novo? — Questionou o advogado, sentado na cadeira de frente para ela.

— Acho que sim. Desculpa, eu... isso parece mentira.

Eu estava parado perto da porta, apenas observando a cena. Dulce estava nervosa, ansiosa e isso não era nada bom para a saúde dela e do bebê. Além do mais, eu via como estar na minha casa a deixava mal. A maneira como ela olhava pela janela e via a própria casa, era como se ela tivesse visto, sei lá, alguma espécie de assombração.

Caminhei alguns passos e parei atrás dela, massageando-lhe os ombros. — Dulce, eu sei que está com medo, e tem toda razão, mas acho que se sentirá mil vezes melhor quando assinar esses papéis. É a sua carta de liberdade.

— Eu sei. — Ela deixou os papéis sobre a mesa, apoiou os braços ali e consequentemente seu queixo sobre eles. — Eu estou nisso há tantos anos que estou travada. Eu quero muito fazer isso, mas eu não consigo acreditar que tenha sido assim tão fácil.

— Fácil?

— É! Ele apenas cedeu.

— Dulce, vê tudo que você passou. Nada disso foi fácil, tá? Aquele cara tentou a buscar de você e juntamente com o seu pai te sequestrou e te manteve presa dentro de um quarto frio por cinco dias.

— Ainda não descobriu quem mandou a mensagem pra você?

— A sua mãe.

— Ah... é, faz sentido. — Ela soltou um suspiro e voltou a pegar a caneta. — Eu vou assinar, eu vou...

— Estou bem aqui com você, amor.

— Fico feliz que quem está aqui ao meu lado é você, e não aquele imbecil, pra não dizer nomes piores.

Então, depois de hesitar mais alguns segundos, eu vi quando ela rabiscou o papel no local esperado e depois soltou a caneta, levantando-se em seguida.

Dulce passou para o outro cômodo feito um vulto, deixando-me sem entender nada. Olhei para o advogado que também parecia confuso e então eu fui atrás dela, e depois de procurá-la nos cômodos mais próximos, a encontrei, no banheiro, abaixada no chão, vomitando como se estivesse ainda nas primeiras semanas de gestação. Já fazia tanto tempo que eu não a via vomitando que fiquei preocupado.

— Está tudo bem?

— Sim. — Ela se levantou limpando o canto da boca com uma mão e dando descarga com a outra. — Eu só estou tensa, tudo isso parece mentira.

— Mas é verdade, ok? — A puxei para meus braços e depositei um beijo no alto da sua cabeça. Nós quatro vamos ser felizes juntos e em um lugar que só vai nos dar lembranças boas.

— Nós cinco.

— Isso.

— Mamã!

Ouvi a voz de Maya que provavelmente tinha acordado de sua soneca vespertina. Dei um beijo na testa de Dulce e saí, indo na direção do quarto dela. Ela estava no berço, de pé, coisa que eu não a via fazer há um bom tempo.

Vizinhos | VONDY (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now