CAPÍTULO SESSENTA E NOVE

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DULCE MARIA

Olhei mais uma vez pela janela, tentando visualizar a paisagem do lado de fora. A chuva caía tão forte que eu mal conseguia ver as árvores passarem há poucos metros. À minha esquerda, Christopher parecia concentrado na estrada, tentando manter o carro na pista sem que o mesmo derrapasse, a atrás da gente, Maya e Kevin assistiam a algum desenho animado, entretidos e sem passar um terço do nervosismo que eu estava passando naquele instante.

— Não acha melhor a gente parar e esperar a tempestade diminuir? — Perguntei, enquanto tentava não demonstrar medo.

— Não está tão ruim assim, Dulce.

Sacudi com ombros. A gente mal podia ver se tinha carro à nossa frente, mas era ele quem estava dirigindo, e se fosse eu, um completo desastre no volante, com certeza já teria parado o carro no acostamento e esperaria a chuva e a ventania diminuírem. Estava previsto chuva para quando saíssemos, mas não imaginei que seria assim tão forte.

Olhei para baixo e vi o celular dele acender a tela, chegando várias mensagens. Juro que não queria ler, mas ele tinha as notificações desbloqueadas, e pude ler algumas das mensagens que chegavam. A maioria em nome de Nathalia.

— Nathalia não era aquela vara pau que chegou dando em cima de você aquele dia?

— Que? — Ele me olhou, depois olhou para o celular. — Lendo minhas mensagens, Dulce?

— Desculpa, eu preciso distrair com algo e as mensagens começaram a chegar.

— É a outra Nathalia.

— E por que ela está pedindo desculpa pra você?

— Eu não sei, eu não li a mensagem. — Ele não pareceu gostar, mas o que eu podia fazer? Estava presa, dentro do carro com ele, no meio de uma tempestade e com os nervos à flor da pele. — Mas provavelmente foi pelo que houve na segunda, lembra? Eu te falei que ela derrubou café em mim.

— Ah, sim. — Me encolhi em meu canto, pegando meu celular e começando a mexer.

Fiquei calada o resto da viagem, ficou um clima tenso entre nós dois, mas não li as mensagens por maldade, entretanto, ele não interpretou assim. Já estávamos quase saindo da auto estrada quando o carro deu uma derrapada. Christopher segurou firme o volante enquanto o veículo deslizava pela estrada inundada. Já eu, pressionei meu corpo contra o assento e fechei meus olhos, enquanto sentia minha alma sair do meu corpo. Provavelmente esses segundos de terror duraram mais em minha mente do que provavelmente aconteceu, mas fora o suficiente pra mim.

— Está tudo bem? — Questionou ele quando neutralizou a situação.

— Para o carro. — Falei, ainda com os olhos fechados.

— Dulce.

— Eu mandei parar a porra do carro, Christopher!

Alterei a voz e então ele reduziu a velocidade e parou fora da pista. Sem pensar duas vezes eu saí do veículo, as pernas mais trêmulas que vara de bambu, e sem me importar em me encharcar pela chuva, afastei-me dali, curvei meu corpo para a frente e comecei a vomitar.

— Dulce!

Apesar de ele falar alto, sua voz estava abafada pela tempestade. Ele segurou meu cabelo para trás e ficou esperando-me colocar tudo pra fora, depois me levou para dentro do carro.

— Está melhor?

— Eu quase pari teu filho, Christopher! Não fala comigo.

Respondi grossa. Eu apavorada e o desgraçado simplesmente começou a rir enquanto seguia viagem.

Quando chegamos na casa, eu saí do carro e fui direto me trocar, sentindo um frio do caralho e uma cólica irritante. Deixei que ele se virasse em tirar as crianças do carro, tudo que eu queria naquele momento era um banho quente e me encolher em cima da minha cama.

Fiquei pouco tempo embaixo do chuveiro, porque simplesmente não fui capaz de me sustentar de pé, isso sem contar que vomitei mais uma vez depois que saí do banho e quando saí, lá estava ele, colocando nossas bolsas no quarto.

— Desculpa.

— Eu preciso me deitar, sai.

— Está se sentindo bem?

— Não.

Me joguei na cama, apenas enrolada no roupão. Christopher deixou nossas bolsas no chão e veio até mim. — Está um pouco pálida.

— Eu vomitei de novo.

— O que está sentindo?

— Enjoo e cólica.

— A gente precisa marcar um médico pra você, Dulce. Até hoje não fomos.

— Eu fui. — Desviei o olhar. — Ontem.

— Como assim? E não me falou nada? Dulce?

— Eu queria que você tivesse ido comigo, mas não podia fazer você faltar ao trabalho. Eu não quero ser um peso pra você, Christopher.

— Meu Deus, Dulce. Peso? Sério? — Ele se sentou na beirada da cama, tirando meu cabelo do meu rosto.

— Sai da minha cama, você tá ensopado.

— Desculpa. — Ele se levantou. — Eu vou tomar um banho rápido e a gente conversa.

— Cadê as crianças?

— Lá embaixo brincando com a Triana. Eu já tenho.

Não sei o quão rápido ele foi no chuveiro, mas sei que eu apaguei antes mesmo de ele sair. Depois do estresse que passei, eu só precisava deixar meu corpo acalmar.

Quando acordei, senti um cheiro forte de comida. Seja lá o que for, parecia estar bem gostoso. Me levantei e me vesti com algo bem confortável e desci. Triana, como sempre, veio toda serelepe na minha direção, abanando seu rabo enorme e pesado, tentando me escalar e lamber meu rosto.

— Também senti sua falta, garota. — Acariciei sua cabeça, e então ela começou a me chegar e então a latir, enquanto se afastava. Ela estava agitada, rodava e pulava.

— O que deu nela? — Perguntou Christopher.

— Ela sabe. — Pousei a mão sobre meu ventre.

— Sabe o quê? — Perguntou Ana, semicerrando seus olhos, enquanto entregava uma garrafinha de água para Kevin. — Dulce Maria, você está grávida?

Assenti, sentindo meus olhos se umedecerem instantaneamente. Droga. — Sim.

— E por falar nisso, a gente precisa conversar, né? Você apagou, se sente melhor?

— Sim, só foi o estresse mesmo. Estou sentindo cheiro de comida, posso comer? Estou com fome.

A chuva havia passado, mas ainda assim o tempo estava fechado. Quando decidimos ir para a casa do lago era porque queríamos passar um final de semana legal, curtir um pouco a água, dar um passeio de barco, mas pelo que percebi, ficaríamos ali, presos dentro de casa.

Depois que comemos, Christopher e eu montamos um mini acampamento em um quarto para Maya e Kevin, e ficamos lendo alguns livros com os dois até que eles finalmente pegaram no colo, depois os deixamos ali e fomos pra sala.

— Tá bravo comigo?

— Por que estaria?

— Por ter ido na consulta sem te falar.

— Chateado, diria, mas já era né? Haverá outras oportunidades. — Ele pegou minha mão e deu um beijo. — Como foi?

— Tudo bem. A doutora me receitou algumas vitaminas e pediu alguns exames para a próxima semana, fora isso tudo bem com o bebê. — Mordisquei meu lábio inferior. — Eu acho que quero explodir de amores, eu chorei tanto quando ouvi o coraçãozinho batendo.

— Você vai ser uma mãezona, sabia?

— Sim. — Ele começou a rir junto comigo. — Vai dar tudo certo, não vai?

— Vai sim. Logo estaremos juntos e ninguém vai nos separar mais. 

Vizinhos | VONDY (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now