Capítulo 8

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Desliguei o celular aos prantos e corri para o quarto, passando a socar as roupas na mala de forma desordenada. Não me importava, só precisava viajar ainda naquela noite, eu tinha que ver meu pai.

— Hina, o que houve? — Naruto surgiu na porta com os olhos arregalados.

Enquanto eu fungava e socava as roupas, ouvi passos em minha direção.

— Ei, eu estou aqui, pode contar comigo. — gentilmente, suas mãos grandes tocaram meus ombros.

— Meu pai... — foi só o que consegui formular.

Não foi preciso mais.

Como se tivéssemos traçado uma conexão sem fio, Naruto pareceu entender meu pranto e começou a me ajudar com a mala. Enquanto eu pedia um Uber.

— O que está fazendo? — perguntou, vendo-me entretida no celular.

— Vou chamar um Uber. — sussurrei com a voz falha.

— Não, eu te levo. — informou, fechando minha mala. — Só vou pegar uma mochila e as chaves do carro.

— Que isso, Naruto. — balancei a cabeça em negação. — Você têm suas obrigações, não vou prejudicá-lo. — funguei uma vez mais, tentando controlar minhas emoções.

— Eu não vou te deixar viajar sozinha a essa hora da noite, nesse estado. — Sua frase soou convicta, por isso decidi aceitar a ajuda.

Não estava em condições de discutir.

Naruto correu até o apartamento dele, enquanto eu fechava o meu. E, meia hora depois, após eu colocar no GPS o endereço correto, já estávamos na estrada. Mandei mensagem pra Sakura, para ela não ficar preocupada e Naruto alegou que avisaria Shion quando chegássemos. Não havia palavras a serem trocadas, eu não queria falar. Naruto, percebendo meu estado, respeitou o silêncio confortável que preenchia o carro. Apenas ligando o rádio, onde Half A Person tocava baixinho. Eu ainda não podia acreditar, meu pai sofrera um infarto e estava à beira da morte. Pior, eu sequer pude vê-lo no último ano de tanto que trabalhei.

Culpada, logo senti lágrimas quentes escorrerem pelo meu rosto, eu soluçava baixinho, não querendo assustar Naruto. Mas foi em vão. Tanto que, para me confortar, ele passou a acariciar minha bochecha sem nada dizer. Eu agradecia por isso. Nenhuma palavra de consolo me faria sentir melhor naquele momento. Não com a culpa corroendo meu ser por abandonar a única família que me restava, para obter uma vida melhor. No final de tudo, continuar o mesmo zero a esquerda que eu sempre fui. Nada aplacaria minha dor; mas, com certeza, ter Naruto ao meu lado confortou mesmo que minimamente meu coração.

De tanto chorar, acabei dormindo no banco do carro, com o cabelo grudando em meu rosto. Acordei com a movimentação lá fora, notando que Naruto abastecia o carro e comprava algumas coisas, como um pacote de lenços e um chá quente. Sorri com o gesto, como um homem podia ser tão fofo e atencioso assim? Eu jamais conheci alguém parecido.

Naruto era único.

— Desculpe, não quis te acordar. — murmurou me entregando o chá.

— Tá tudo bem, obrigada por tudo Naruto. — finalmente me ouvi dizer — Obrigada mesmo — e dei um gole no chá quentinho que tinha gosto de camomila.

— Não me agradeça, Hina. — tornou a acariciar meu rosto pegajoso. Eu devia estar horrível, com a cara toda vermelha, mas não me importei — Seu pai ficará bem.

Apenas assenti e continuei a bebericar o chá. Naruto pagou tudo e seguimos. Olhei o relógio do celular e vislumbrei várias mensagens da Sakura, porém, não estava em condições de dar mais informações. Por isso, preferi não visualizá-las. Suspirei e decidi contar tudo o que ouvi ao telefone, sobre o infarto do meu pai e como minha irmã parecia calma, apesar da situação crítica que ele se encontrava.

— Eu não sei o que pensar, estou angustiada — relatei, sentindo novas lágrimas se formarem em meus olhos. — Mas a Hana está tão tranquila, isso me incomoda um pouco.

— Você não pode culpá-la ou pensar que sua irmã não está preocupada o suficiente, provavelmente ela tem fé de que ele ficará bem logo. — ponderou e eu assenti.

— Eu realmente sou uma péssima irmã, filha e pessoa — funguei, sem conseguir controlar o choro que veio com força.

— Ei, você não é uma má pessoa, nem nada disso — garantiu, puxando-me para um abraço e prensando-me contra seu peito rijo. — Vai ficar tudo bem — afirmou, rente ao meu ouvido, eu podia alegar que fiquei arrepiada com o contato.

Mas Naruto não tinha segundas intenções naquele instante, seu foco era apenas me confortar. E eu estava deprimida demais para pensar em qualquer coisa.

Apenas me ajeitei em seu abraço, bem mais tranquila ao sentir seu calor ao redor de mim. Naruto fez um movimento rápido, em busca dos lenços e me entregou. Limpei o rosto e senti um beijo demorado na testa, em seguida uma carícia sutil em minha bochecha.

— Obrigada, Naruto. — escondi o rosto em seu peito, e notei que ele cheirava a loção pós barba. — Não sei o que faria sem sua ajuda.

— Pode contar comigo para o que precisar — afirmou, acarinhando meus cabelos. — Sabe, quando eu perdi meus pais, achei que minha vida não faria mais sentido. Só que hoje eu entendo que eles sempre serão eternos para mim — eu assenti contra seu peito e olhei para cima, focando em seus olhos azuis.

— Você foi um anjo que Deus colocou na minha vida — agradeci em pensamento por tê-lo conhecido.

Ele sorriu.

— Você está melhor? Está bem tarde, se não sairmos agora, vai ficar difícil chegar ainda hoje.

— Eu tô bem, melhor irmos, eu quero vê-los o quanto antes — me ajeitei no meu banco.

Naruto anuiu e ligou o carro.

Aproveitei que estava me sentindo melhor e resolvi ligar para a Sakura e contar à ela que eu sumiria por alguns dias, devido a situação do meu pai. Ela ficou muito preocupada e brigou comigo por não ter pedido ajuda, mas garanti que Naruto estava comigo e pedi que se acalmasse.

Pois eu estava razoavelmente bem, dentro dos limites do possível. Também liguei para a Hanabi e expliquei que estava a caminho, ela informou que a condição do meu pai era estável no momento.

Suspirei e desliguei o telefone.

Quando o amor aconteceWhere stories live. Discover now