Capítulo 10

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Caminhamos em direção ao quarto do meu pai. Peguei a mão da Hanabi e entramos juntas, encontrando-o ligado a alguns aparelhos, enquanto seu peito subia e descia lentamente. Ele parecia bem, tranquilo.

— Papai... — sussurrei, aproximando-me da cama.

Hanabi me seguiu e juntas nos prostramos de frente para ele, que sorriu, ao voltar os olhos para cada uma de nós.

— Minha filha. — respondeu, com a voz arrastada, porém firme. — Que saudades, peço perdão por te preocupar a ponto de fazê-la vir até aqui.

Sorri, era bem a cara dele mesmo temer nos dar trabalho.

— Não diga isso, pai — protestei. — Eu devia ter vindo te ver antes. — assumi, pegando sua mão.

— Não se culpe. — pediu, abrindo um sorriso confortador. — Está tudo bem, não vê? — brincou, indicando o aparelho que monitorava seus batimentos cardíacos.

Achei graça e devolvi o sorriso, fazendo menção de lhe dar um abraço. Receosa de machucá-lo, abaixei cuidadosamente ao ponto de me deitar em seu peito e recebi um afago na cabeça.

— Venha aqui também, gatinha. — solicitou, enquanto envolvia meu corpo em um abraço desajeitado.

Senti quando minha irmã, que até o momento permanecia em silêncio observando nossa interação, aproximou-se e colou o rosto no peito do nosso pai.

— Ah, papai... — lamentei, com os olhos inchados das lágrimas que queriam escorrer a todo custo. — Eu devia ter vindo antes, me perdoa!

— Shiuuu... — me cortou, sua voz parecia satisfeita. Eu podia jurar que havia um sorriso em seus lábios, mas estava bom demais aquele afago, para que eu ousasse levantar a cabeça. — Eu tenho tanto orgulho de você, sempre tão corajosa, determinada. Eu me orgulho de vocês duas, nunca duvidem sequer um minuto. Eu já sou um velho, meu coração já não é lá essas coisas, não se culpem por isso, minhas filhas. — por fim, beijou o topo da minha cabeça e na sequência a da Hanabi.

Lentamente, levantei o rosto ao mesmo tempo que minha irmã e encontramos o olhar amoroso de nosso pai sobre nós.

Eu o amava tanto!

— O senhor precisa ficar bom logo, para voltar pra casa comigo. — Hanabi ordenou e seu tom soou quase como um ultimato. — Fica tudo muito solitário sem o senhor.

— Claro, meu bem, prometo que em breve estarei recuperado e pronto para a próxima. — piscou o olho direito e eu reprimi o impulso de lhe dar um tapa por tal brincadeira.

Mas recaiu na minha irmã o dever de censurá-lo.

— Não diga isso! — Hanabi exclamou com a testa franzida. — Não terá uma próxima nunca.

Crispei os lábios e notei o quão abalada minha irmã estava, ela fazia o possível para se manter calma. Contudo, eu podia notar o alívio em seus olhos, por constatar que nosso pai estava fora de perigo.

— Tudo bem, não vou mais aborrecer nenhuma de vocês, não precisam brigar comigo. — dessa vez seu tom saiu carregado de divertimento.

Era típico do papai fingir que não se preocupava com sua saúde, mas no fundo eu sabia. Ele não queria deixar Hanabi sozinha, não ainda.

— Agora me diga, coelhinha, como você chegou tão rápido aqui?

Meu pai me chamava de coelhinha desde que me entendia por gente. Já Hanabi era a gatinha. Nunca quisemos saber o motivo dos apelidos, somente aceitamos e jamais me importei por ela ser a gatinha, enquanto eu era apenas um coelho.

— Um amigo me trouxe. — desconversei com as bochechas coradas de vergonha.

Papai e Hanabi sorriram ao mesmo tempo.

— Um amigo? — sua sobrancelha esquerda se arqueou.

— Isso, ele está ali fora esperando. — expliquei, tentando soar o mais natural possível. Sem entregar minhas segundas intenções quanto a Naruto. — Não era possível entrar, só pessoas da família.

— Se ele a trouxe aqui, eu quero muito conhecê-lo. — papai afirmou, olhando de rabo de olho para Hanabi.

— O senhor vai adorá-lo, o amigo da Hina é tão educado e bonito. — frisou o adjetivo e rolei os olhos, já sabendo o que me aguardava.

Com papai melhor, óbvio que ambos cairiam em cima de mim com piadinhas sobre eu e Naruto.

— Não comecem com essas graças — censurei, mas ria. — Vão assustá-lo!

— Parece que alguém está apaixonada. — Hana gracejou, com um sorriso zombeteiro nos lábios.

— Não estou não. — protestei, cruzando os braços feito uma garotinha. — Naruto é apenas um amigo.

— Um amigo, sabemos. — meu pai respondeu, dando uma piscadela de cumplicidade para a Hanabi.

Ela correspondeu sacudindo a cabeça em confirmação, num claro gesto de ironia.

— Vocês parem! — ordenei, mas achei graça e dei uma risadinha baixa.

— Minhas duas princesas juntas, estou tão feliz de acordar pra poder ver vocês. — ele mudou de assunto, com os olhos brilhando de felicidade.

— Ah, papai! — Hanabi e eu exclamamos em uníssono e nos ajeitamos novamente em seu abraço.

(...)

Uma semana havia se passado e finalmente papai receberia alta. Precisaria ficar em repouso, controlar a alimentação e tomar alguns remédios, mas ficaria bem. Com tudo isso acontecendo, precisei explicar que fiquei desempregada. Não havia motivos para mentir a essa altura do campeonato. Temi preocupar papai e piorar seu estado, porém, o médico que lhe deu alta informou que ele podia receber esse tipo de notícia. Portanto, fui convencida de que a verdade era a melhor opção nesse caso. Hanabi, como sempre, se preocupou e se culpou por ser um peso morto, no entanto, tratei de confortá-la com a ajuda de Naruto. Garantindo que em breve teria outro emprego. Afinal, se eu realmente ficasse com a vaga dele no supermercado, minha vida enfim voltaria aos eixos. Infelizmente, Naruto precisou retornar por causa do trabalho e eu fiquei com minha família um pouco mais. Pelo menos até papai sair do hospital e eu convencê-lo de que não estava me dando trabalho, que eu o ajudava por prazer, não obrigação.

Pedi para não se preocupar se preocupar, que eu tinha dinheiro guardado — pouco, mas tinha — e que logo estaria em um novo cargo, graças a Naruto.

Por falar nele, como Hanabi disse, papai o adorou. Eles se deram tão bem, que meu pai o convidou para voltar quando Naruto estivesse de férias. Prometendo pescar juntos e tudo. Achei fofo, apesar de recear essa aproximação, eu e Naruto ficamos em suspenso até eu voltar, não definimos nada. Ou seja, nem sabia em que pé estávamos no momento. Continuamos nos falando pelo telefone e whatsapp. Enquanto eu relatava a recuperação do meu pai e conversávamos sobre coisas bobas. Percebi que verdadeiramente nos tornamos uma espécie de amigos. Eu sabia que podia confiar em Naruto, ele até informou que já deu meu nome para o RH.

Portanto, assim que eu estivesse de volta, teria minha entrevista. Então não devia demorar muito e voltaria amanhã mesmo, não podia abusar da sorte e perder a vaga. Além disso, Naruto meio que dependia de mim para por seus planos em ordem. Eu só precisava ter certeza de que papai ficaria bem e a salvo.

Mais tranquila, finalmente poderei continuar com meu plano de levá-los para perto de mim. E, claro, descobrir o que Naruto representa, preciso entender o que meu coração está pedindo.

Quando o amor aconteceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora