39. Memórias

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Alguém uma vez me disse que para ser quem eu queria ser teria que abdicar daquilo que amava, gostava ou que acreditava, que para ser como uma Joana D'Arc ou uma Rosa Park, teria que chorar em silencio, aceitar em silêncio e questionar em silêncio. Disseram-me que pelo caminho iria ver muitas injustiças a acontecer, mas que deveria de me calar e continuar a lutar. Que um dia o homem que eu havia dito sim no altar me iria trair e eu teria que engolir e aceitar, perdoar, disse-me essa pessoa. Ou seja o meu mundo seria de lutas e derrotas, por ser mulher seriam mais derrotas que vitórias, e que no final eu iria perder e aceitar e talvez até agradecer por não ser promovida naquele trabalho que eu queria, por não receber igual ao homem do mesmo escalão que o meu, por ser traída depois de ter dado de tudo de mim àquela relação. E acho que no fim disto tudo foram aquelas pessoas que eu esperava que me negassem tudo isto, que acabaram por me o dizer.

Adam – Aqui está!

Bia – Obrigado!

Ele entregou-me a minha comida e sentou-se do meu lado em cima da manta a observar o mar.

Adam – Está quente?

Bia – Um pouco!

Ele sorriu para mim.

Bia – Obrigado por vires ter comigo assim tão depressa.

Adam – Não tens que agradecer, eu viria de qualquer das formas. Mas tu parecias alterada ao telemóvel.

Bia – É eu não estava lá muito bem quando te liguei.

Adam – E posso saber o motivo?

Suspirei fundo.

Adam – Isto é claro, se te sentires à vontade.

Bia – Sabes eu acho que preciso de finalmente contar isto a alguém, senão acho que irei enlouquecer.

Adam – Parece sério.

Suspirei mais uma vez.

Bia – São os meus pais, o meu pai mais precisamente.

Adam – O que ele fez?

Bia – Ele traiu a minha mãe... duas vezes.

Adam – A sério?

Bia – Sim! Da primeira vez foi o meu irmão, Logan, que descobriu e contou à minha mãe, ela ficou mal, bem mal, ele jurou não o voltar a fazer e passados uns tempos voltou a acontecer. Mas desta vez fui eu que descobri e guardei para mim.

Adam – Isso deve de ter sido horrível.

Bia – Ao mesmo tempo que eu queria contar, eu sentia medo de perder o meu pai, que ele saísse de casa e decidisse começar uma vida nova, todos sabemos que isso corre mal em algum ponto.

Adam – Só para a ex-família.

Olhei para ele.

Adam – Eu sou resultado de uma traição. O meu pai era casado com uma mulher e tinham três filhos, e enquanto a sua ex-esposa cuidava do filho mais novo deles, ele dormia com a minha mãe. A sua ex-esposa descobriu e expulsou-o, 9 meses depois eu nasci. Os meus meios irmãos não falam comigo e sempre que o meu pais nos tenta unir eu só recebo olhares matadores.

Eu tinha pena do Adam ele não tinha culpa dos pais que tinha.

Bia – Ela está grávida, a amante do meu pai.

Adam – Lamento ouvir isso.

Bia – E eu só quero que aquela criança e ela desapareçam.

Manual de Sobrevivência à Adolescência - CompletoWhere stories live. Discover now