Lost In Your Eyes | ✓

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TRAVIS

Não vou tolerar o que Harrison Hammond fez com o meu pai. Ele deveria ter entendido que o problema dele não era com o meu pai, e sim comigo, e ele deve adorar brincar com o perigo só de mexer com a minha família. Mal sabe ele que Travis Lewis é bom no barraco quando precisa ser.

— Nossa faz tempo que eu não digo umas boas palavras para algum riquinho que se acha espertinho. — diz minha mãe do meu lado no carro. — Acho que se desenferrujar com Harrison Hammond vai ser até um pouco bom.

Sorrio para minha mãe.

— A senhora não tem noção de como meu sangue ferve. — digo.

Talvez eu usar hipérbole poderia ter sido demais, mas realmente sinto meu sangue ferver. Sabe quando seu ranço cresce demais e chega em um momento que você não consegue nem pronunciar o nome da pessoa que já sente a bile subindo para boca e um milhão de palavrões passando pela ponta da língua para serem proferidos.

Bem, esse sou eu nesse momento.

Minha mãe continua acelerando em direção a Hammond Seafood.

* * *

Chegamos na Hammond Seafood bem na hora em que Harrison Hammond está saindo da empresa. Acho que quando as gerações anteriores dos Hammond construíram a nova empresa na área do porto e do Grande Píer de Anchorwood eles não devem ter imaginado que em um futuro um pouco distante, Travis Lewis e sua mãe apareceriam para quebrar o barraco no estacionamento aberto da empresa.

Minha mãe começa a andar na minha frente. Ainda não consigo andar tão rápido, mas amém que vou conseguir dar um de Bolt daqui alguns dias.

— Senhor Hammond!? — diz minha mãe firme.

Chego atrás dela. Harrison Hammond olha para nós com expressão de tipo: “Que esses Pés Rapados fazem aqui?” e acho que nossas expressões querem dizer: “Esses Pés Rapados estão aqui para te dar uma lição seu sem coração filho de uma égua” (desculpa vó do Noah se a senhora tenha sido boa enquanto viva — espera, a senhora está viva?).

Os homens igualmente de terno como Harrison, nos olham sem entender nada. Acho que são possíveis compradores, já que temos uns arianos, árabes e negros por ali.

— Sra. Lewis? — pergunta Harrison e me pergunto como ele sabe quem é minha mãe.

— Não se faça de bonzinho com esse tom de voz. — diz minha mãe alto.

— Não estou entendendo... — começa Harrison.

Um dos sócios — o árabe — diz na língua dele alguma coisa que nem em uns cinco anos aprenderei o que é, mas deve ser relacionada ao espanto dos tons de voz, pude observar pelo olhar dele.

— Não está entendendo? — pergunto.

Harrison me olha de cima a baixo.

— Ah, o pecador que está levando o meu filho pelo mau caminho. — murmura ele.

— Como é? — pergunta minha mãe.

— Margareth... — começa Harrison.

— Margareth é o cu, para você eu sou Sra. Lewis como antes. — interrompe minha mãe.

— Não está entendendo? — repito minha pergunta. — Pois bem, eu explico, o que é um pouco engraçado até. Porque eu, o pecador e corruptor de filhos prodígios, sei muito bem separar o pessoal com o profissional. E pela minha PROXIMIDADE com o seu filho, você resolveu de alguma forma me atacar...

— Não... — começa Harrison Hammond, mas não estou a fim de escutar as palavras dele então o interrompe com um “Shhh” bem alto.

— Nessa forma de me atacar, resolveu despedir o meu pai que era um dos seus empregados mais antigos e mais experientes. — digo. — Eu e minha mãe aqui estamos experts em processar as pessoas e empresas ultimamente, então sugiro que se prepare Harrison Hammond.

— Está me chamando para a guerra, pivete? — pergunta o Sr. Hammond.

— A guerra já começou, coroa. — respondo.

— Haha. — Harrison ri. — Até parece que tenho medo de você...

— Demitiu meu pai sem justa causa...

— Eu o demiti por que tenho poder sobre minha empresa, sobre essa cidade. — corta Harrison. — E tenho causa sim. Corte de gastos. O seu pai também está bem perto de se aposentar. Não iria mudar nada...

— Mudou tudo. — respondo. — Mas essa conversa não tem fim aqui.

— Digo o mesmo. — diz Harrison. — Meus advogados irão entrar em contato.

— Estarei lixando a minha unha para arranhar a sua cara. — diz minha mãe.

Viramos de costas, liberar algumas palavras às vezes é a melhor forma de soltar a raiva. Contrária a agressão física, que só deve ser usada em casos extremos. Não que eu esteja incentivando vocês, leitores, a alguma coisa. Longe disso, sou a pessoa mais serena que conhecerão, mas pisem no meu calo...

E Travis Lewis desperta o pivete barraqueiro dentro dele.

AMELIA

Clico no link do blog da escola. A última notícia é sobre uma entrevista que a treinadora das Red Sirens deu a emissora local de TV.

Gwendolyn Levens aparece sorrindo na tela ao lado da treinadora. Ignoro o sorriso de plástico dela e clico em criar um novo post. O bom do site é que qualquer um pode criar um post, apesar de alguns que são trotes serem apagados em média de seis a doze horas depois de postados, mas nesse meio tempo já rolou print de todas as maneiras.

Olho para os meus lados na biblioteca, não vou usar meu endereço de IP para fazer essa postagem, porque não sou burra nem nada.

Quando a caixa de digitar o novo post aparece, começo a trabalhar no meu textinho:

“Queridos alunos da Anchorwood High, sou uma aluna (ou aluno) em busca de passar uma fofoquinha para vocês. Alguns devem achar que o motivo de Gwendolyn Levens, ex-capitã das Red Sirens, estar saindo da cidade seja o vídeo de sexo dela rodando no Facebook, bem, um dos motivos é esse, mas Gwen também descobriu um segredinho sobre seu namorado, ops, foi mal, ex-namorado, Noah Hammond. Gwen deve ter dado um pé na bunda do herdeiro dos peixes assim que soube do que o namorado gosta de verdade. Afinal, Noah prefere quicar no colo de um rapaz do que se deliciar com as tetas de silicone de Gwen. Sei que posso soar um pouco invasiva, machista e homofóbica, mas acreditem, não sou nada disso. Só estou levando um fato que Noah Hammond está demorando demais para fazer. Que é, sair do armário. Bem, porém, para comprovar que essa história não é apenas um boato, resolvi de livre e espontânea vontade compartilhar com vocês um vídeo que prova sobre esse lado colorido de Noah Hammond com seu... Amante? Namorado? Ficante? Ou apenas um garoto por quem Noah quer experimentar a luxuria? Bem, seu nome é Travis Lewis que todos conhecem por ser um rapazinho que tem boca forte e gosta de andar pelos corredores com a amiguinha Nora e o namorado dela, Oliver, se achando o todo, todo. Porém, com essa pequena notícia sobre o Aquaman e o Gato Borralheiro, acho que os olhares mudarão. Beijinhos da XOXO.”

Depois de ver o meu trabalho finalizado, anexo o vídeo do meu iCloud e com o maior orgulho desse mês aperto “enter” e o post é publicado no blog da escola. Me recosto contra a cadeira almofadada e espero os comentários chegarem pelos próximos minutos.