Capítulo 38

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"Meu amor, eu tive que ir embora, tive que te deixar, infelizmente. Espero que esses dois meses passem rápidos, estarei estudando, entrando ao segundo módulo da faculdade. É, eu sei, vai demorar um pouquinho até eu me formar, depois, ficará tudo bem.
Ah, combinei com a sua mãe que, você irá me mandar cartas neste endereço, que deixarei no final desta carta. Quero acompanhar a gestação todinha, me mande fotos da nossa pequena crescendo, eu quero guardar tudo, bem aqui, no meu coração.
Caso precise de alguém, chame Lua, ela não é a melhor opção mas precisamos dela por perto.
Se minha irmã tiver qualquer surto, chame a polícia, não chame minha mãe em hipótese alguma.
Pare de comer chocolates em excesso, eu sei que você tem uma caixa de bombom no seu criado mudo. Não brigue comigo, andei mexendo por lá!
O que precisar, ligue para mim, a qualquer hora. Estarei disponível à você.
Me avise de tudo, estou de longe, te acompanhando.

Amo você!
Com amor, Micael Borges."

— Dá pra parar de ler isso? Estamos no meio do shopping. — Lua irritou-se enquanto empurrava um carrinho de compras.

Estávamos em uma loja de móveis para criança, escolhendo o que colocar no quartinho.

— É do Micael. — Suspirei. — Eu não me canso de ler, nunca.

— Deus me ajude. — Revirou os olhos. — Você já escolheu o que quer levar?

— Precisamos de cômoda, guarda-roupas e um berço. — Encarei a lista que tinha feito. — Você conversou com o pintor?

— Eu mandei mensagens à ele, deve ir no fim do dia.

— No fim do dia? — Paramos em um corredor. — Eu precisava de tarde.

— Então você ligue pra ele e mude o horário, oras. — Voltou a andar. — Olha esse aqui, parece tão... Fofo! — Pegou um abajur de florzinhas.

— Vamos comprar o necessário.

— Seu marido é milionário! Você entendeu? M-I-L-I-O-N-A-R-I-O. — Soletrou. — Vamos comprar a loja toda se for possível.

— Quanto exagero, ela é só uma criança. — Olhamos os guarda-roupas. — O que você acha desse? Parece espaçoso e vai combinar com a tintura do quarto. — Sorri.

Eu nunca imaginei estar vivendo aquilo, com dezessete anos, escolhendo móveis para o quarto da minha filha.

Era esquisito até demais.

— Posso ajudar vocês? — A atendente mais velha me recepcionou, estava usando o uniforme da loja.

Ficou interessada na nossa compra.

— Eu estava vendo um guarda-roupas. — Sorri. — Preciso montar o quarto da minha filha.

— Ah, claro! Vocês já viram estes? — Mostrou a infinidade de guarda-roupas.

Quase caí pra trás quando vi o preço. Era sério aquilo?

— Dois mil dólares? — Cerrei os dentes.

— Esse é lindo, Sophia! — Lua abriu as portas. — Vamos ficar com esse. — Bateu palmas, animada.

— Lua! São dois mil dólares em um guarda-roupas. — Achei o cúmulo. — Vamos ver outro...

— Você quer que eu soletre ou não precisa? — Sussurrou em meu ouvido.

Eu fiquei quieta, era difícil não ficar calculando as coisas que comprava. Sabia que Micael era milionário mas não estava acostumada a gastar tanto dinheiro daquele jeito.

Era... inútil, e ao mesmo tempo interessante.


— Acho que compramos tudo. — Entramos no carro, colocando o cinto.

Ficamos mais de seis horas fazendo compras. Foi o meu record!

— Gastamos mais de oitenta mil dólares em móveis. — Me choquei. — Isso é errado demais!

— Relaxa, você não vai ficar pobre. — Lua começou a dirigir. — Você precisa se acostumar com essa vida, eu sei que é diferente e tudo mais... Só que, você precisa se acostumar. — Disse calma.

— Eu nunca vou me acostumar. — Cerrei meus olhos. — Me sinto uma estranha, gastando o dinheiro do Micael.

— Ah, para com isso. — Pausou. — Vocês são tecnicamente casados, quer dizer, você entendeu, não entendeu? — Assenti. — A filha de vocês...

— Eu já sei o que você vai falar.

— Exatamente! Agora só resta você usufruir do dinheiro, sem preocupação. — Sorriu.

Ainda sim, era difícil.

Mais trinta minutos e estávamos em casa, seguras. Lua me ajudou com algumas compras.

— Onde a maluca está?

— Não chame ela assim. — Deixei tudo no sofá. — Depois vamos subir com isso, eu preciso descansar. — Coloquei minha mão na barriga.

— Eu subo depois. — Lua avisou, assenti em agradecimento.

Lidiane havia aparecido, tinha acabado de sair do banho.

— Ajuda? — Sorriu para mim.

— Preciso colocar essas sacolas lá em cima.

— Eu te ajudo. — Lidiane pegou várias sacolas, subimos sem Lua.

Paramos no segundo quarto, ao lado do meu, estava vazio e precisava ser pintado, antes da bebê nascer.

— Você já escolheu um nome? — Deixou as sacolas no chão.

— Ainda não, preciso escolher com o seu irmão. — Suspirei.

— Por que precisa escolher com ele? — Foi até a sacada, encarando a vista incrível.

Fui até lá.

— Porque entramos em consenso, sem brigar. — Sorri. — Você briga muito com ele?

— Ele não gosta de mim.

— Se ele não gostasse de você, ele não te trataria assim.

— Ele sente raiva porque eu uso drogas. Mas, eu uso pra esquecer os meus problemas. — Me encarou. — Aguentar a minha mãe não é fácil, e ela, ela alimenta os meus problemas de uma forma fácil.

— Alimenta?

Passei a transparência à Lidiane, me tornando uma ótima psicóloga.

— Ela me dá dinheiro pra usar drogas, ela me acalma com drogas. O Micael sempre quis achar um jeito de... Me fazer parar, mas eu não consigo.

— Por causa da sua mãe?

— É. — Tinha a face triste. — Eu sinto falta do meu pai. As coisas não eram assim.

— Sinto muito pelo seu pai. — Fiz carinho em suas costas. — Eu também perdi o meu, quando era mais nova. Vocês se davam bem?

— Sim. Não tinha brigas em casa. — Disse calma. — Eu e Micael nos dávamos bem, minha mãe então... Ela era completa com o meu pai.

A menina suspirou, lembrando. Uma história triste, todos achavam que os Borges eram felizes.

Mas na verdade não eram.

— Você é legal, Sophia. — Lidiane sorriu. — Melhor do que a Rayana. — Rimos.

— Eu cai de paraquedas nessa história louca. — Pausei. — Minha vida mudou completamente.

— Quando tudo isso acabar, vai ficar tudo bem. — Lidiane me abraçou, alisando minhas costas.

Ela não era ruim, só tinham que ter cuidado com ela. Um cuidado especial.

Young and the Restless - Jovens e Inquietos Where stories live. Discover now