Capítulo 2

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Anastasia não definiu se ficava aliviada ou pesarosa pelo fato de não estar com as luvas à mão. Se ainda as estivesse segurando, certamente não teria resistido à vontade de atingir lorde Grey com elas, depois de que ele ousara atraí-la com outro enigma. Ele estava mesmo brincando de cabra-cega! Esconder suas intenções e seus sentimentos! Provocar, chegar perto a ponto de quase revelar-se e depois afastar-se estrategicamente, deixando-a tão longe de descobrir o objetivo quanto antes.

— Milorde, será que, ao acordar, decidiu que o dia de hoje seria maravilhoso para irritar seus vizinhos?

Christian Grey riu novamente, sem se dar conta do perigo que corria de ser estrangulado.

— Srta. Steele, se eu houvesse pensado nisso, a senhorita ficaria na última linha da minha lista de vítimas em potencial. Perdoe-me por não ter usado de maior franqueza desde o início. Meus anos de convivência com a sociedade não fomentaram muito esse tipo de aptidão digna de louvores.

Christian pareceu estranhamente pesaroso. O olhar verde, antes frio e impenetrável como o jade, suavizou-se como um gramado em um amanhecer orvalhado de verão

A irritação de Anastasia cedeu, contra a sua vontade.

— Eu deveria ter imaginado que milorde não iria propor casamento a alguém como eu.

— Ao contrário. — A voz hipnótica mostrou-se um pouco áspera. — "Alguém como eu" é que não deveria fazerlhe semelhante proposta.

— Mas o senhor disse...

— Eu lhe pedi para que aceitasse ser minha noiva, não minha esposa. E antes que a senhorita me acuse novamente de tentar irritá-la, imploro sua atenção para o fato de que um não precisaria estar sempre junto com o outro.

Na verdade, apenas em cada cem oportunidades, a menos que o casal desejasse provocar um escândalo.

Mais de uma vez, Anastasia acalentara fantasias infantis de casar-se com um homem como Christian Grey. Nobre, rico e muito atraente. Sempre com o sentido de um conto de fadas em que ela deixava Netherstowe, onde não se sentia em nível muito superior ao de uma criada.

Atualmente, sua visão do mundo permitia-lhe entender que nenhum homem casar-se-ia com uma jovem do campo sem dote, sem preparo e que nunca freqüentara a sociedade. Também já concluíra que o matrimónio poderia não ser a tábua de salvação que ela imaginara. Por tudo isso, resignara-se a uma vida tranqüila de celibato e procurava ser prestativa para seus parentes, para que eles não se ressentissem de prover-lhe casa e comida.

Anastasia ficaria feliz enquanto houvesse sol, ar fresco, música e amizade.

Por que lorde Grey tivera de vir com aquela proposta absurda que só servira para revolver as cinzas das aspirações tolas de sua infância e fazê-la desejar o impossível?

— Embora possa não ter sido essa a sua intenção, devo dizer-lhe que milorde deixou-me ainda mais confusa.

Não apenas com as palavras.

Era uma situação totalmente inusitada. A mesma pessoa que a irritava em um momento, em seguida a atraía de uma maneira irresistível. Aquilo poderia levar uma jovem à loucura ou... direto para a cozinha. Como seria agradável sufocar a ansiedade com uma fatia grossa de bolo inglês tão substancioso quanto indigesto!

— Lorde Grey, não consigo imaginar o que o senhor quer de mim. — Anastasia teve de engolir a salivação conseqüente à ideia da guloseima, antes de continuar. — Não tenho a menor dúvida de que muitas outras jovens estariam dispostas a agradar-lhe.

O barão abriu a boca para responder, mas Anastasia o interrompeu:

— Eu lhe desejo um bom dia, milorde. Recomendações afetuosas a seu avô.

Lord Christian GreyWhere stories live. Discover now