Capítulo 18

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— A culpa é sua, bem sabe disso — Christian fitou com olhar severo a custosa lápide funerária de mármore que fora erguida sobre a campa de seu avô, no pátio da igreja de St. Owen. — O senhor encheu a cabeça de Anastasia com todas aquelas bobagens sentimentais a meu respeito. E agora ela deve achar-se na obrigação de cumprir os últimos desejos de seu amigo, e por isso persiste no noivado.

Os últimos raios do sol de outono escondiam-se no poente, entre o avermelhado a oeste e matizes de púrpura, o azul-escuro e o negro aveludado a leste. A ausência de nuvens permitiria que Christian se entretivesse, mais tarde, com o seu telescópio.

A brisa mais forte — um pequeno aviso das noites frias que se avizinhavam — farfalhava entre as gramíneas e os ramos das árvores. O som lembrou a Christian a voz do avô em uma gentil reprimenda.

Nem mesmo isso ele quis ouvir.

— Foi o senhor quem disse que eu não deveria casar-me com Anastasia, se fosse para comprometer-lhe a felicidade. Pelo menos nisso o senhor estava certo. Agora eu o entendo. Mas como poderei dissuadi-la de continuar com esse noivado?

Como?

Anastasia recusara-se de maneira definitiva a ir para Londres ou para Brighton ou para qualquer lugar que Christian sugerira. Em vez disso, instalara-se na aldeia, para grande consternação de lorde e lady Bulwick, em um dos chalés que o conde deixara para ela.

Freqüentava Helmhurst várias noites por semana e Christian não pensava em impedi-la de vir, com receio de causar escândalo. No começo, recusara-se a admitir a ansiedade com que esperava as visitas. Recentemente, antecipava-as até com desespero.

Anastasia parecia ter herdado, além dos bens materiais, a persistência calma e obstinada do falecido conde. Aos poucos e sem pressa, ela começava a vencer a firme resolução de Christian. Se ele não encontrasse logo uma maneira de fazer Anastasia desistir de seu intento, acabaria cedendo a um momento de fraqueza, como já acontecera uma vez.

Com resultados igualmente desastrosos.

— Nem sei por que venho até aqui — Christian resmungou para si mesmo, afastando-se do túmulo. — O senhor não me ajudou nem mesmo quando estava vivo, seu velho intrometido.

— Olá! — o vigário chamou da entrada da igreja. — Quem está aí?

— Sou eu. — Christian caminhou a passos largos em direção à luz que se derramava pela porta aberta de St. Owen. Recusava-se a admitir que estava ansioso por uma companhia. — Vim ver se a lápide do sepulcro de meu avô valeu o dinheiro que foi gasto. Não gostaria de ir a Helmhurst para uma partida de xadrez?

— Ficarei encantado de aceitar sua hospitalidade. — O vigário mostrou-se feliz pelo convite. — Eu estava mesmo aborrecido de ir para casa e ter de enfrentar uma

lareira fria. Minha governanta teve de ausentar-se por uns dias, por motivo de doença na família.

Enquanto o sr. Michaeljohn assoprava as velas do candelabro e fechava a igreja, Christian não resistiu à idéia de provocá-lo.

— Nathan, está na hora de pensar em uma esposa. Assim não terá de ficar refém dos caprichos das governantas e de suas famílias. Não será difícil encontrar uma boa moça, se resolver aceitar a idéia. Aposto como qualquer jovem solteira da paróquia aceitaria seu pedido na maior felicidade.

O vigário desceu os degraus, e os dois homens encaminharam-se em direção a Helmhurst.

— Talvez milorde esteja certo — o sacerdote respondeu com tristeza, como se Christian lhe sugerisse o trabalho missionário em uma tribo de canibais. — Um homem com o meu cargo deve ser mesmo prático em determinadas coisas.

Lord Christian GreyWhere stories live. Discover now