- Capítulo 41 -

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Alcatéia Lua Cheia - 21/04/2019

Bellamy disse que não seria bom eu sair da caverna hoje, então tudo o que fiz foi deitar e olhar para o teto, enquanto ele foi buscar algo para eu comer.
Eu deveria ter trazido algo alimentício dentro da minha mochila, que lástima.

Ouvi um barulhinho na entrada da caverna e olhei para lá rapidamente, na esperança de ser Bellamy. É sério, eu estou com muita fome.
Mas não era ele, era um pequeno lobo de pelos cinzentos, parecia o Bellamy em uma versão menor.

__ Oi! - ela falou, mas não na minha mente.

__ Oi? - sorri levemente. Ela se aproximou mais de mim, sentando ao meu lado na pele - Qual seu nome?

__ Lunara.

Ela parecia angustiada com algo, sua calda estava inquieta e ela mexia as patas sempre que podia.

__ Como é ser uma lobisomem?

__ Am...normal. Como é ser humana?

__ Normal. - ela solta um barulhinho que mais pareceu uma risada.

Minutos depois, Bellamy voltou com uma vasilha, trouxe alguns pedaços de carne e algumas frutas, que tenho a leve impressão de ter visto nas árvores da entrada.
O dia se passou rápido, e logo a noite havia caído. Eu descobri que Lunara é irmã de Bellamy, e que faria sua transformação hoje mesmo.

Depois de me lavar na pequena poça da caverna, visto um vestido branco e brilhoso, que fica na altura do meu joelho. Amarro meu cabelo em um coque frouxo e saio para o lado de fora, seguindo alguns lobos em forma humana.
Todos eles pararam perto de uma fogueira, e eu parei junto, observando tudo.

__ Hoje, debaixo da sagrada lua, muitas de nossas crianças terão sua transformação completa, faremos a prece para que tudo dê certo. - Bellamy, que estava no centro da roda, fala. - Skormin puleramin, sdeidare sumuk tritoun, celarinius! - quando ele termina de citar as palavras, todos os outros repetem.

Logo uma fileira de lobinhos se coloca ao redor da fogueira, sentando no chão.
Bellamy caminha até mim e se coloca ao meu lado, colocando seus braços atrás das costas.
Lunara estava empolgada, dava para perceber por sua inquietação. Muito diferente de Bellamy, que estava passando de tenso.

__ Você está bem? - assentiu.

Uma mulher com um tambor se posicionou perto dos lobinhos, e logo começou a tocar seu instrumento. Eu iria preferir esquecer o que aconteceu nos próximos minutos. Todos os lobinhos uivavam de dor, seus ossos estavam em pedaços, alguns até perfuravam a pele.

Lunara era a que mais uivava, mas, de uma hora para outra, seus uivos cessaram. No lugar da pequena lobinha que vi mais cedo, estava uma adolescente de cabelos esbranquiçados e de pele branca. Ela estava deitada ao chão, nua e desmaiada.
Bellamy afastou-se de mim e foi até ela, pegando a mesma nos braços.

__ Tudo ocorreu bem, não tivemos nenhum imprevisto. Acomodem-se.

Alguns homens foram buscar as crianças e Bellamy caminhou até mim, fazendo sinal para que eu o seguisse. Voltamos para sua caverna.
Observo Bellamy enrolando Lunara com uma das suas camisas e deitá-la na pele. Ele é um irmão tão carinhoso, muito diferente dos que eu já conheci por aí - e olha que nem tenho irmãos.

Caminho para perto da prateleira, observando Bellamy sussurrar algo para a irmã inconsciente. Passo delicadamente meus dedos sobre os frascos com líquido colorido. Mais ao canto da prateleira, havia um livro de capa preta e com um símbolo conhecido por mim, era um que aparecia repetidas vezes nos ombros de Bellamy. Estava todo empoeirado, então ao pegá-lo em minhas mãos, precisei dar uma leve soprada.

A Sucessora Perdida • Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora