07. Ajuda

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ʜᴀᴢᴀʀᴅ

ᴅᴇᴍᴏʀᴏᴜ ʜᴏʀᴀs para Snow finalmente abrir os olhos. Eu usei toda a força que restou dos meus poderes.

Estávamos na sala do nosso chalé em um lugar protegido da floresta. Ela estava nos meus braços e Flake adormecido ao nosso lado, com traços de lágrimas em suas bochechas.

Quando Snow se remexeu de leve, eu faltei expressar todo o desespero instalado em meu peito. Sacudi Flake e ele despertou agitado assim que ouviu sua gêmea resmungar, como se ela estivesse simplesmente acordando de um cochilo.

— Snow! — pegando-a pelos ombros, Flake a sacudiu.

— O que foi, Flake? — Snow levantou a cabeça, esfregando os olhos apenas para se arregalarem e ela se virar para mim — Haz! A Primavera! Ela...

— Eu sei, Snow, eu sei. — a abracei, mais para me acalmar do que qualquer coisa. Flake começou a chorar de alívio e eu o puxei para o abraço também.

Respirei fundo, sentindo meu coração retumbar. Minha irmã estava salva e meu irmão ileso. Relaxei na mesma hora. Eles não entenderiam se eu demonstrasse alívio demais, ou se chorasse, já que não se lembravam do nosso parentesco. Nem nossos pais se lembravam.

Quis socar alguma coisa com o pensamento. Até quando aquilo iria continuar?

— Flake, cuide da sua irmã por um tempo. Eu vou fazer uma pequena patrulha para ter certeza de que está tudo seguro. Snow, não se esforce, descanse. Eu já volto.

Os dois assentiram e o espírito do vento me acompanhou até o quarto, onde coloquei Snow em sua cama. Reforcei para os dois que, caso acontecesse alguma coisa, era para eles gritarem que eu viria correndo e, até eu chegar, para ficarem no porão.

Quando coloquei os pés do lado de fora, deixei que as lágrimas escorressem. Eu já sabia que Primavera não estava por perto, ao menos não ali, então usufruí da oportunidade para me recompor. O guarda-costas não poderia chorar em frente aos seus protegidos.

Mais um descuido que não pude evitar. Eu havia deixado os gêmeos praticando magia na parte de trás do chalé enquanto "resolvia algumas coisas", que implicava em eu apagar por mais ou menos duas horas.

Desde a maldição de Primavera, que levou embora minha família e minha força, meus poderes ficavam mais fracos a cada dia. Sentia minha energia sumir ao ponto da exaustão.

E o que era o Guardião sem seus poderes? Nada, tanto que me tornei uma lenda sem espaço no mundo dos espíritos. As luzes nem mais apareciam no céu.

Inclusive, fazia uma semana que eu não mais conseguia ouvir as almas que chegavam até a Aurora Boreal e nem conseguia manter aquilo funcionando. A paz deles era a minha paz e vice-versa, mas nem isso eu poderia proporcionar a eles agora.

Também tinha o detalhe de que eu não fazia ideia do que aconteceria caso eu fosse deteriorado pela maldição. Para onde as almas iriam? Eu não queria pensar muito, mas era inevitável, estava num beco sem saída.

Ou eu não queria enxergar a saída. Pois, quando Ruan Heather chegou às Luzes do Norte eu soube que, com ele, algo mudaria em minha vida. Era somente uma daquelas coisas que um espírito sabe sobre o futuro, e eu não estava errado.

Estranhamente, depois de conhecer a alma dele, meus poderes começaram a vibrar pelos arredores, como se tivessem encontrado uma nova fonte. Demorei mais do que o esperado para perceber do que se tratava.

Kaira. Filha de Ruan.

Eu já estava sentindo a presença de alguém havia alguns dias, até que fui checar o que era. Deveria ter percebido do que se tratava assim que notei que ela podia me ver.

Quando cai a última folha ✓Where stories live. Discover now