05. Perdão

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ǫᴜᴀɴᴅᴏ ᴀ chamada de vídeo se iniciou, eu não imaginei que ficaria tão mexida. A imagem da minha mãe, de alguém que aparentava ter chorado por dias, estava estampada no meu computador.

Ela ainda tinha o mesmo brilho nos olhos de que me lembrava e o cabelo cor de fogo, única característica marcante que eu não tinha puxado dela. Valquíria começou a falar, trazendo-me à realidade.

— Kaira, eu.. Eu fiquei sabendo pelo seu avô que você está aí há quase um mês e meio já. — uma fungada — Mas eu só descobri o que aconteceu com Ruan ontem quando voltei de viagem, por uma amiga em comum nossa.

Ela inspirou fundo, os olhos reluzindo de repente. Controlei o nó que surgiu em minha garganta.

Confesso que ver Valquíria naquele estado de desolação me acalmou um pouco por saber que, mesmo tendo ido embora, ela ainda se importava com meu pai. E, para estar ligando, colocando a cara à tapa daquela forma, importava-se comigo também.

Mesmo assim não era muito fácil, porém, eu entendia o que a fez partir. Eu não fui um bebê planejado, meus pais já estavam juntos há três anos quando resolvi aparecer e minha mãe tinha apenas 22.

Valquíria estava no último semestre da faculdade, seus sonhos sendo colocados em modo de espera. Pelo lado do meu pai, ele já era formado em medicina e estava no início da residência de cirurgia geral, mas não tornou as coisas tão mais fáceis.

Depois de enxugar algumas lágrimas, ela falou:

— E eu nem imagino o que está se passando pela sua cabeça agora, mas muitas coisas cruzaram a minha. — um suspiro — Aí não tem muitas oportunidades, e talvez você queira seguir algum sonho, como eu um dia quis.

Sorri um pouco. Eu sabia ao que ela se referia.

Meu pai dizia que Valquíria tinha um espírito aventureiro, queria conhecer vários países e não negava o mundo que a chamava a plenos pulmões.

Isso se iniciou quando meus avós se opuseram ao fato dela ir morar sozinha na capital durante o último ano do ensino médio para conseguir ingressar em uma boa faculdade. Eles brigaram e Valquíria foi embora sem olhar para trás.

Esse rancor parecia perdurar por um tempo. No entanto, foi graças ao meu pai que ela voltou a ter contato mais direto com a família, que também a apoiou no período da gravidez.

Seu sonho era ser uma fotógrafa de pontos turísticos, viajando e fazendo o que mais amava. Hoje era essa sua função, mas antes acontece que Valquíria só conseguiu trabalhar em eventos. Ela aguentou isso até eu completar quatro anos.

Então, quando o chamado do mundo ficou alto demais para os ouvidos dela ignorarem, ela foi.

Essa era uma das poucas memórias que eu tinha dela. Era verão, meu pai estava dormindo, e eu acordei com a porta do meu quarto sendo aberta. Valquíria se aproximou e me abraçou apertado, pedindo desculpas e chorando. Ela partiu naquela noite.

A partir daí, eu só conversava com ela por ligações, até que nem meu pai aguentou manter a situação daquela forma, os dois discutiram feio e decidiram seguir sem manter contato.

Nenhum dos dois tentou reverter a situação ao longo dos anos.

— Quero dizer... Eu finalmente percebi o quanto estava afogada nesse arrependimento, porque eu de verdade achei que seria melhor para você e Ruan que eu ficasse longe. Eu já os tinha machucado, não tinha como apagar isso.

Foi minha vez de sentir meus olhos lacrimejarem. Meu pai a havia perdoado há muito tempo, mas as lembranças ainda ardiam.

— Você podia ter tentado. — não aguentei e cortei sua fala, minha voz saindo embargada.

Quando cai a última folha ✓Där berättelser lever. Upptäck nu