Carros, estudantes e abelhas rainhas

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Eu caminhava em direção da porta de casa, pronta para o primeiro dia de aula em Sunset Pier High School (um nome bem estranho, cá entre nós. Cais do Sol? Por quê?).

Uma buzina soou do lado de fora. 

- Vai logo, Manuela! - a voz de Bruno disse.

Nem me dei o trabalho de responder, só revirei os olhos e passei pela porta, com a mochila na mão. 

O carro era novo. Meu irmão mais velho tinha vendido o carro que ele tinha no Brasil, e comprado um novo, que era muito mais barato aqui. O prateado do automóvel brilhava com sol, meio que me cegando por alguns segundos. 

Coloquei a mão na frente do rosto, protegendo-o e tentando imaginar como a estrela podia brilhar tanto nessa parte do mundo e ainda assim não dar nem metade do calor que irradiava em minha terra natal. 

Suspirei, sem saber se agradecia ou não. 

Abri a porta do passageiro e entrei, colocando o cinto de segurança. 

Meu pai já estava no hospital desde manhã, cumprindo o plantão, então quem nos levaria até a escola seria Bruno. 

No banco de trás, Lucas colocava os fones de ouvido, enquanto Ben estava animado e inquieto como um animalzinho. 

O caçula da família estudaria em uma escola diferente da minha e de Lucas, portanto teria que  passar o dia sozinho. Mas eu tinha certeza que não seria um problema para ele. Ben era o mais comunicativo e social de toda a família, mesmo tendo seus 6 anos de idade. 

Bruno deu a partida no carro, nos colocando em movimento. 

- Animado com a escola nova, Benny? - perguntei, rindo com a dancinha que ele fazia. 

- Aham, aham, aham - ele disse, com os cabelos enrolados e escuros balançando conforme ele movia de um lado para o outro, dançando. 

- E você, Luca? - perguntei, olhando para ele.

Meu irmão deu de ombros.

- Sei lá - respondeu - Não muito. 

Lucas era o único dos quatro que tinha herdado a pele clara do pai. Nem sequer parecia muito nosso irmão. Os cachos escuros tinham vindo da mãe, com certeza, como todos os outros, mas o resto... Luca era uma cópia do pai mais jovem. 

- Vamos - Bruno disse - Se anime! Escola nova, vida nova, certo?

Franzi a testa.

- Não foi um incentivo muito bom, considerando que não tínhamos nada contra nossa vida velha - falei, baixo, olhando pra ele. 

Bruno suspirou. 

- Gente - ele disse, parando num farol vermelho - Vocês sabem que por mim não estaríamos aqui. Mas papai precisa do nosso apoio. Dizem que ficar com um sorriso no rosto por cinco minutos desperta felicidade. Lembrem disso. Não podemos mudar, mas... podemos fazer com que essa mudança seja boa. 

Ele olhou para todos nós. 

Assentimos. 

- Muito bem - falou, com um meio sorriso - Então...

A frase de Bruno foi cortada por um barulho alto de acelerador. 

Do meu lado direito, um carro vermelho e caro parou, esperando o farol se tornar verde. Mas ele continuava acelerando parado, e tocando uma música altíssima, causando um arrepio na minha espinha e uma raiva quase incontrolável. 

O motorista do carro era um adolescente. Tinha que ser, não é mesmo? 

Os cabelos claros caíam sobre a testa, e os óculos de sol impediam que eu enxergasse seus olhos. 

Clichês, amor e Girl PowerDonde viven las historias. Descúbrelo ahora