Chamadas, reis e rainhas

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Estávamos reunidos no campo de futebol no horário marcado, apenas esperando por Malina e Olivia. 

Sentados nas arquibancadas, decidi que precisava falar com Lucas sozinha. Eu não sabia se deveria contar a recente descoberta para todos eles, não sabia como reagiriam. Parte de mim sentiu que estava os traindo por esconder aquela informação, mas eu não conhecia aquelas pessoas realmente. 

E, até onde eu sabia, elas podiam ter descoberto as mesmas coisas em suas buscas. Talvez todos já soubessem e tentavam encontrar um jeito de nos contar. 

Mas, de uma maneira ou de outra, eu precisava falar com Lucas. 

Eu até tinha cogitado a possibilidade de não contar, e deixar que ele se apegasse às lembranças felizes e adolescentes de nosso pai, mas eu sabia que me sentiria mil vezes mais culpada, e ele merecia saber da possiblidade tanto quanto eu. Não era um segredo meu para esconder, se é que realmente tínhamos um irmão perdido. 

Ele caminhou comigo até nos afastarmos do resto do grupo, onde eles não podiam nos ouvir. Mesmo assim, falei baixo. 

- Muito bem, o que foi? - ele perguntou - Você parece estranha e nervosa. 

Olhei pra ele. Meu irmão se parecia incrivelmente com nosso pai. A pele era clara como a dele, os cabelos escuros e meio enrolados. A única coisa que ele havia puxado de nossa mãe eram os olhos escuros e penetrantes, que nós quatro tínhamos, embora nossos pais sempre terem nos dito que Lucas nasceu com os olhos claros, mas foi ganhando o tom amarronzado escuro que eu e Bruno - depois Ben - tínhamos. Claro que, sua personalidade, na verdade, lembrava muito mais nossa mãe do que nosso pai. 

- Nós conversamos com o professor e ele contou uma coisa meio... estranha - comecei - Mas ainda não temos certeza, é apenas uma possibilidade. Um pouco intensa, mas uma possibilidade. 

- Fala logo, Manuela - ele disse, impaciente e em português. 

- Papai estava namorando uma garota antes de se mudar pra casa - falei.

Ele ergueu uma sobrancelha, esperando pelo resto. 

- Acontece que logo depois que ele viajou, ela apareceu grávida na escola - despejei. 

Ele piscou, e levou apenas um momento pra que meu irmãozinho juntasse dois mais dois. Então, os olhos escuros dele se arregalaram. 

- Puta que pariu - falou - Fudeu, Manuela. Fudeu demais. 

O menino passou as mãos pelos cabelos, olhando pro chão, depois pra mim. 

- Puta merda, mas isso faz tempo pra cacete - ele disse, exasperado. 

- 34 anos, na verdade - falei - Se esse bebê realmente nasceu, ele tem trinta e quatro anos hoje. 

- Ou ela - ele corrigiu - Merda, isso não importa, agora. Como podemos ter certeza? 

Engoli em seco. 

- Temos que continuar investigando, ou abordar papai sobre o assunto - falei - Mas nem sequer sabemos se ele sabe da existência dessa criança ou não. Ele pode não ter descoberto antes de viajar, pode nunca mais ter falado com a garota. Mas no momento precisamos descobrir como encontrá-la. 

- Tem razão - ele disse, colocando a mão no queixo da forma que fazia sempre que estava pensando demais - Precisamos encontrar a namorada, depois descobrir se esse filho é do papai, mesmo. E se for... 

- Se for, papai terá que dar seu jeito - disse - Mas não temos como acreditar que essa pessoa sequer está interessada em uma figura paterna, mais. 

Clichês, amor e Girl PowerWhere stories live. Discover now