Vermelho No Prata (Mareven)

Capítulo Seis

Mare Barrow

O Calore vira seu rosto lentamente na direção do meu e seus olhos me acertam como facas, estão intensamente azuis e assassinos, ele se aproxima ficando apenas um palmo de distância, e me arrependo de ter lhe acertado na face, recuo um passo para trás e ele segura em meu braço, sua respiração ofegante e quente bate em meu rosto e sinto meu corpo se arrepiar em resposta.

-Agora você sabe que sou um monstro, sabe o quão cruel eu sou capaz de ser e sentiu na pele isso quando eu te marquei como um animal.- ele cospe maldoso em um tom contido e  aproxima ainda mais seu rosto do meu. Tento me soltar de seu aperto mas ele me mantém firme no lugar. E sussura de maneira lenta e mortal: -Agora você resolveu me querer.

Dito isso ele me soltou, de maneira brusca, eu nunca tinha visto Maven tão descontrolado, as palavras dele me acertam como tapas na cara. Sustento seu olhar transtornado, não tenho o que falar, ele tem razão, o tempo presa com ele fez sentimentos novos surgirem, talvez eu esteja louca. Afinal meu amor é Cal, mas Maven também ocupa grande parte do meu coração e mente, desde sempre e agora isso se tornou algo forte, avassalador e assustador.

-Você me da nojo.- acuso em um fio de voz, Maven está de costa, as mãos na cintura, uma delas pousa no encosto da poltrona que antes ele estava sentado, seus ombros estão tensos e por mais que o ambiente esteja pesado, algo mantém meus pés pregados no chão.

-Não em todos os momentos.- diz zombeteiro, com certeza por causa do ocorrido  na banheira, senti meu rosto esquentar. -Por que ? Por que resolveu ceder a mim? Por que só agora?- indaga aparentemente aflito, me olhando de esguelha, vejo parcialmente seu rosto.

-Não sei, não cedi completamente.- penso alto demais, infelizmente. -Acha que eu gostaria de me sentir assim com relação a alguém como você?- questiono de volta realmente sem entender, eu me aproximo dele com passos incertos.

-Talvez tudo fosse mais fácil se naquela época você tivesse me escolhido.- ele lamenta, seus ombros parecem cair em derrota e ele evita me olhar.

-Então eu estaria escolhendo um alguém que nunca existiu.- afirmo e o outro solta um riso forçado, ficando de frente a mim. Seus olhos brilham intensamente mesmo com a pouca iluminação, em algum momento a bola de fogo que Maven arremessou se apagou. Não desviei daquela imensidão azul de seus olhos, eu jamais os esqueceria.

-Mas agora, você escolhe um monstro.- sua voz soa suave e profunda,  como um monstro agia dessa maneira tão suave?

-Então cancele o casamento, me deixe livre, renuncie a coroa e mantenha sua palavra de não entrar em guerra.- suplico e ele se aproxima com passos presunçosos e lentos, seu queixo está erguido, ele parece colocar sua máscara de inabalável e astuto Maven Calore, ardente Rei de Norta, mas seus olhos dizem algo completamente diferente e eu sei que só enxergo isso, por que ele quer que eu enxergue. Ele tira a coroa de sua cabeça e a encara me olhando de relance, uma chama forte se ascende da mão que ele segura a coroa e começa a derretê-la aos poucos, as labaredas de fogo iluminam seu rosto pálido.

-Minha obsessão não é mais o trono Mare, eu abri mão dele, no momento que decidi ter você comigo.- a coroa se desmancha aos poucos e começa a pingar no chão. -Eu abri mão da minha coroa no momento em que você aceitou se casar comigo, claro que eu não sabia na época, mas agora vejo, que você se tornou algo que eu desejo muito mais do que me manter no poder.- ele sussurra me olhando de cima a baixo, neste ponto há apenas resquícios do que um dia foi sua coroa.