Ophelia completava seus vinte e um anos de vida. Quando ela amanheceu naquele dia quente de junho, não imaginava que sentiria tristeza por completar a idade da maioridade. Seria mais um ano ou menos um, questionou pessimista. A moça espreguiçou-se na cama, incomodada pelos primeiro raios de sol a baterem em seus olhos. Quando começaram a irritá-la? Sentou-se na beira da cama e fez suas preces matinais. Fazia-as mecanicamente, sem as emoções de outrora. Quando começou a ter a fé diminuída? Depois, levantou-se, lavou-se, arrumou-se com o vestido separado para o dia e penteou-se. Quando havia começado a se importar menos com a vaidade? Por fim, mirou-se no espelho e simulou um sorriso. Quando havia usado sua primeira máscara social?
Suspirando longamente, Ophelia Stanhope — ou Srta. Stanhope — descera até a sala do desjejum para juntar-se a Thomas e ao pai. Quando a chamaram de senhorita pela primeira vez? Assim que ocupou seu lugar de costume à mesa, a jovem desejou um bom dia aos familiares, e estes retribuíram com felicitações pelo aniversário.
— Oh, por favor, esqueçamos esse dia — resmungou.
— Quando se tornara tão rabugenta? — ralhou Thomas.
— Devo ter aprendido com você — sorriu dissimuladamente. — Além disso, estou farta de tantas perguntas iniciadas com "quando". Acordei com vários questionamentos que se iniciavam assim.
— Então, irei fazer outra pergunta. — Ophelia observou o pai, e perguntou-se quando ele havia ficado tão envelhecido. — O que quer ganhar de aniversário?
— Nada, papai — respondeu gentilmente. — Já tenho tudo o que preciso.
— E tudo o que quer, você tem?
— Não — refletiu a aniversariante. — Mas nem tudo o que queremos é o necessário; o senhor mesmo ensinou-nos assim, papai.
— É, eu ensinei — riu, mordiscando o pão. — E orgulho-me por terem aprendido. Vocês três.
— Ophelia e eu, sim — rebateu Thomas, vestindo sua casaca. — Quanto a Arthur... Bem... Deixemos para lá.
— Arthur está em sua missão, Thomas — censurou-o o reverendo. — Deixemos ele em paz, sim? Ele não está aqui para se defender.
— Mas tem duas pessoas que fazem isso muitíssimo bem — remoeu-se o primogênito. — Enfim, não vou prolongar-me, pois Emma e seus pais aguardam-me.
O mais velho dos filhos do Sr. Stanhope despediu-se e saiu ao encontro da noiva.
— Não acredito que, daqui uma semana, esse senhor casar-se-á. — Ophelia bebeu um pouco do chá, queimando a ponta da língua. — Quente, quente!
— É por ter feito um comentário maldoso — piscou o reverendo George.
— O senhor acha que serão felizes?
— Acredito que sim.
— E que estão casando-se por amor?
— O amor tem muitas formas, Ophelia. A forma que Thomas ama Emma, e vice-versa, pode não ser compreendido por você. O amor não é definitivo; ele transforma-se, conforme a situação e o ser.
— O senhor sempre muito sensato — piscou Ophelia.
— E o que fará hoje? — quis saber o pai, levantando-se para retirar os pratos da mesa.
— Visitarei Frederick e August, e, depois, Georgiana. Todos fazem questão de minha companhia, no dia de hoje. — Ajudando o pai, Ophelia começou a lavar as louças. — Aproveitarei para devolver o livro que Georgiana emprestara-me. Ótima leitura, devo acrescentar.
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Casamento Branco
Historical Fiction[VENCEDORA DO WATTYS2020 | CATEGORIA FICÇÃO HISTÓRICA] Frederick e August Blackall são irmãos gêmeos não-idênticos. Aos doze anos, iniciam aulas particulares com o reverendo George Stanhope, um homem viúvo com três filhos: Thomas, Arthur e a caçula...