Capítulo XXVII

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Na véspera do casamento de Frederick, Ophelia viu-se encarregada de ter uma conversação com o noivo. Este, chamando-a para Southfield Park, estava intranquilo quanto ao seu novo ser; atormentado pelo futuro cuja ventura era-lhe quase impossível. Frederick Blackall era apenas um rapaz que ainda não chegara à maturidade dos trinta anos; sentia-se um garoto temeroso diante do desconhecido; tinha em seu coração o medo carregado pela infelicidade de uma união por conveniência. Agatha não merecia um marido acovardado, pensou ele. Quais acontecimentos surtiriam de um casamento precipitado?

Assim que adentrou à sala de Southfield Park, Ophelia encontrou Cassandra a brincar com a filha. Ao avistá-la, a Sra. Blackall radiou-se por ter a visita de sua amiga. Nos últimos anos, Cassandra e Ophelia fortaleceram uma amizade extremamente sincera. A esposa de August tinha a gratidão carregada consigo desde o nascimento da filha; mas, além disso, Ophelia Stanhope era-lhe uma excelente ouvinte e confidente, na qual Cassandra conseguia despejar seus sentimentos em relação aos seus infortúnios diante do casamento precipitado. Acontece que August mostrava-se um marido e um pai ausente. Sempre viajando a Londres, passava semanas longe de casa; e, ao retornar, pouco ficava no aconchego do lar. Cassandra acreditava que o marido passava tempo demasiado na boemia, esquecendo-se de seu papel de homem da família. A mulher desconfiava que, além do excesso de álcool, August vivia na orgia. Intrigada pelas incessantes visitas a Londres, a Sra. Blackall conjecturava que o marido tinha uma amante. Tais pensamentos enfraqueciam Cassandra diante da humilhação e do desrespeito; Ophelia, ao escutar todas aquelas informações, enchia-se de pesar pela amiga. Quanto ao gêmeo, se um dia Ophelia preencheu seu coração com sentimentos amorosos em relação a August, estes haviam se esgotado de vez. Era-lhe, na verdade, uma decepção ter como histórico amoroso alguém tão frívolo e mesquinho; imaturo o bastante para corromper-se nos pecados, abandonando sua família.

— Querida, como é bom revê-la! — abraçou-a a anfitriã, sinceramente feliz pela visita.

— Ophelia está cada dia mais encantadora — sorriu a Srta. Stanhope.

— É bom ter alguém, além de Fred, que repara na menina — suspirou Cassandra, infeliz. — O avô e a avó não são carinhosos com a neta; o Sr. Blackall queria um neto homem. Já August, bem... Você sabe...

— Eu sinto muito, Cassandra.

— São arrependimentos que precisamos aprender a lidar.

Ao ter essa resposta, Ophelia pensou que um casamento por conveniência realmente era algo a nunca ser cogitado por ela. Detestar-se-ia caso viesse a ter tais arrependimentos, iguais aos de Cassandra.

— Desculpe-me por não poder ficar mais tempo com vocês duas — informou Ophelia, educadamente. — Mas Fred havia convocado-me; e, pelo tom do bilhete que o rapazinho levou-me até minha residência, deve ser algo sério.

— Pobrezinho, deve estar assustado por conta do casamento, amanhã. Posso confessar-lhe uma coisa, Ophelia?

— Claro.

— Sempre pensei que Fred e você casar-se-iam. Realmente pensei!

— Fred e eu? — riu Ophelia, divertindo-se com a ideia. — Somos amigos. Quase irmãos!

— Pode ser — refletiu Cassandra. — Mas eu sempre jurei que Fred fosse apaixonado por você. Sempre pensei que ele um dia fosse propô-la.

— Fred compartilha dos mesmos sentimentos. E, caso viesse a propor-me, eu jamais aceitaria! Como eu disse: tenho-o como um grande amigo.

Ophelia pensou em acrescentar que nunca se casaria sem ser por amor, mas sua mente ágil a impediu de comentar algo que pudesse entristecer Cassandra. Desta forma, despediu-se da moça e caminhou pelos corredores, em direção à biblioteca — no bilhete, Frederick informava a estar aguardando por lá. Ao anunciar sua chegada, o cavalheiro pediu para que Ophelia fechasse a porta. Ela, pois, o obedeceu, e, quando o fez, assustou-se com o abraço repentino de Frederick, apertando-a em seu peito, na tentativa de absorver o que Ophelia supôs ser um pouco de paz e tranquilidade.

O abraço fora demorado. A princípio, apenas Frederick mantinha o calor da ação; depois, Ophelia compreendendo as aflições do amigo, retribuiu na mesma intensidade. Os dois ficaram unidos por um prolongado tempo; Ophelia, por estar com a cabeça encostada no peito de Frederick, conseguia escutar as batidas do coração do rapaz. Ambos fecharam os olhos e renderam-se às emoções que aquela ocasião proporcionava.

— Agradeço por estar aqui — disse Frederick, por fim.

— O que houve? — questionou Ophelia, encarando-o nos olhos. — Por que está assim, Fred?

— Amanhã, origina-se um novo Frederick Blackall. Amanhã, outro ciclo vicioso se inicia.

— Seja forte, Fred, é apenas o que posso desejar. Não se permita amargura-se por esse casamento. Encha-se de otimismo diante da imagem que Agatha será uma esposa companheira e graciosa. Insista na esperança de uma união auspiciosa. A felicidade somos nós quem fazemos, Fred. Você, como escritor criativo, deve escrever sua própria história; fazer-se protagonista de um enredo repleto de acontecimentos lindos.

— Escritor! — desdenhou o rapaz, afastando-se da amiga. — Meu pai tirou-me tudo, Ophelia: a escrita, o livre-arbítrio e a esperança de um casamento melhor. Eu, assim como você, minha amiga, desejava ter-me casado por amor. Eu acreditava que conseguiria realizar isso com a mulher dos meus sonhos.

— A união por amor não será possível, mas você pode desenvolver esse sentimento por Agatha. O amor tem muitas formas, Fred. Você e Agatha encontrarão a de vocês.

— Está dizendo-me isso apenas para animar-me. A hipocrisia nunca fora de sua personalidade, Ophelia.

— Tampouco o amargor o seu — rebateu a moça. — Por que me chama de hipócrita?

— Ora, justamente você, que nunca acreditou em casamentos por negociação, está a tentar convencer-me de que tudo será maravilhoso!

— Eu realmente não acredito em casamentos por negociação, mas acredito em suas exceções. Não apenas acredito, como temos uma histórias assim, em Hampshire. Os Young casaram-se pela formação de uma aliança entre suas famílias; o que fora um casamento por conveniência, tornou-se um laço por amor. Por isso, Fred, insisto: — aproximou-se do rapaz e segurou-lhe a mão, docemente. — não se precipite, pois boas surpresas poderão surgir em sua vida.

— Você também não gosta de surpresas — zombou Frederick.

— Mas você sim — sorriu Ophelia. — E sei que gostará de cada uma.

Frederick e Agatha casaram-se em um dia chuvoso e ameaçador. A futura Sra. Blackall tinha a tez pálida e amedrontada. Frederick não parecia a mesma pessoa; Ophelia tinha a impressão de que algo havia moldado no interior de seu amigo. Por fim, o casal declarou suas respectivas aceitações dos termos de casamento diante do reverendo Thomas Stanhope — quase um não no lugar do sim fora dito pelo noivo. A chuva intensificava-se lá fora; os convidados viram-se obrigados a permanecerem na Igreja. Apenas Frederick e Agatha — esta protegida pela casaca do marido — partiram para as núpcias.

Ao cessar da chuva, Ophelia retornara ao lar na companhia do Sr. MacBrayne. Este notara que sua sempre tão falante amiga, encontrava-se calada e pensativa.

— Como se sente em relação ao casamento de seu amigo? — perguntou, quebrando o silêncio.

— Preocupada.

— Por quê?

— Eu sempre fico preocupada com uniões por negócios — apontou Ophelia, recebendo a atenção do Sr. William. — Tudo leva a crer que o casal terá uma vida tão vazia e insignificante.

— Isso depende muito do casal — contrapôs o Sr. MacBrayne. — Às vezes, de uniões por conveniência, podem surgir grandes parcerias. A felicidade de um lar dependerá da determinação de cada um.

— Eu concordo, e espero que esse novo casal firme um laço fortalecido pelo companheirismo e pelo respeito.

— E o amor, se assim se permitirem — finalizou o Sr. William, conduzindo Ophelia à uma caminhada reflexiva.

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