Margot Young, debilitada em seus longos anos de vida, mantinha-se sentada em sua confortável poltrona de veludo verde, aconchegada por almofadas macias e uma coberta a proteger suas frágeis pernas. A velha senhora encontrava-se em sua residência, exatamente na sala de visitas escurecida pelas cortinas em tom amarronzado. Enquanto aguardava a chegada de intrusos a perturbar-lhe o sossego, a anciã mirava o retrato pintado a óleo que um dia fora sua jovial tez. Nada mais tinha daquela moça de outrora: nem a beleza, tampouco a espiritualidade. Com o tempo, a Sra. Margot Young foi-se corrompendo em amarguras e pessimismos. Perdera o marido, ainda muito cedo; e, o único filho do casal, morrera há mais de cinquenta anos, por uma doença desconhecida.
E lá estava ele, o pequeno Bernard, de olhos celestiais e os cabelos da cor do trigo. Era um menininho tão rosado e alegre! Por que precisava partir tão cedo?
— As jovens chegaram, Sra. Young.
Uma mulher de meia-idade tirara a velha senhora de seus devaneios, recebendo uma reprimenda por tê-la assustado.
— Já falei para não chegar de mansinho, Theodora! Mata-me de susto!
— Perdoe-me, senhora — envergonhou-se a sua acompanhante. — Apenas vim informá-la da chagada das jovens senhoritas.
— E o que está esperando para chamá-las aqui?
— O seu consentimento, senhora.
— Já o tem, agora vá!
Melindrada por ter incomodado sua senhora, a Srta. Theodora Campbell saíra da sala, e, em um minuto, retornara com duas moças a fazer-lhe grupo. Após deixar as visitas sob as farpas de sua patroa, a mulher pedira licença, na promessa de retornar com a bandeja de chá. As damas, então, direcionaram-se à velha de semblante azedo, e, cada qual, sentou-se em um assento.
— Como está, titia? — perguntou Georgiana, por educação.
— Viva — cuspiu com amargor.
— Percebo que sim — ironizou a moça. — Embora, não muito bem.
— Espinhosa assim como eu o sou — gargalhou a Sra. Young. Depois, finalmente, deu-se conta da presença da outra mocinha. — E quanto a você, Ophelia, nada irá perguntar-me?
— Bem... — pensou a Srta. Stanhope. — Já que diz estar viva, que tal abrirmos as cortinas para apreciarmos a luz do dia?
— Está doida, menina? Não vê que estamos quase no inverno?
— Não irei abrir as janelas, Sra. Young, apenas as cortinas.
— Não, obrigada — resmungou. — Prefiro a penumbra.
— Céus, que dramática! — Georgiana revirou os olhos.
— O que querem aqui, além de me incomodarem? — perguntou, impaciente. — Estava muito feliz sozinha, acomodada em minha casa.
— Feliz? — satirizou a moça Young. — Não consigo imaginá-la assim.
— Já fui jovem, assim como vocês. Saibam que a velhice vem para todos. Um dia, saberão o que é estar prestes a morrer.
— Ora, titia, é certo que a senhora irá morrer brevemente...
Neste momento, Ophelia censurou a insensível amiga por meio de uma cotovelada. Georgiana, limitando-se a fazer-lhe um esgar, continuou:
— Mas a senhora precisa viver os últimos dias que lhe restam nessa depressão?
— Se fossem viúvas, de marido e filho, entenderiam o que eu sofro.
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Casamento Branco
Historical Fiction[VENCEDORA DO WATTYS2020 | CATEGORIA FICÇÃO HISTÓRICA] Frederick e August Blackall são irmãos gêmeos não-idênticos. Aos doze anos, iniciam aulas particulares com o reverendo George Stanhope, um homem viúvo com três filhos: Thomas, Arthur e a caçula...