Capítulo 6

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O Mercedes marrom entrou em Santa Clara e parou diante do único semáforo local, à espera de que a luz mudasse para verde. Empurrando os óculos escuros para cima, o motorista esfregou os olhos. Christian Grey estava cansado da longa viagem de Houston à sua terra natal, no vale do Rio Grande. Ele havia passado as duas últimas semanas trabalhando, sem descanso, no projeto para o novo hotel e, naquela manhã, ao terminar os desenhos preliminares, decidira tirar alguns dias de folga. Sem saber por quê, sentira vontade de rever Santa Clara e a família.

Christian mexeu os ombros, para afastar a rigidez muscular causada pelas longas horas de viagem e, num impulso, virou à direita em vez de seguir diretamente para a casa da mãe. Após percorrer dois quarteirões, entrou no pátio de estacionamento da Grey Chevrolet. Quatro anos atrás, tinha comprado aquela loja do único vendedor de carros da cidade e a entregara ao irmão mais novo, para que tomasse conta dela. Para espanto de todos, o alegre e despreocupado Lúcio saíra-se muito bem. Usando o charme que lhe permitira cursar o ginásio todo sem abrir um só livro, e um tino comercial que ninguém jamais imaginara que ele pudesse ter, o rapaz transformara-se num ótimo vendedor, capaz de convencer qualquer pessoa a trocar de carro. Depois de dois anos, ele tinha se oferecido para comprar a parte do irmão na sociedade, e Christian havia concordado, feliz com o sucesso e a independência financeira do irmão.

Descendo do carro, Christian caminhou para o edifício de fachada moderna. Desde que ficara sozinho, Lúcio havia repintado as paredes da revendedora e trocado as portas de madeira por outras de vidro fume. A sala de exposições estava vazia, e ele dirigiu-se à escada de corrimão de ferro batido, que levava aos escritórios, no andar superior. Havia três deles, todos com largas janelas, que se abriam para a sala de exposições, lá embaixo. O de Lúcio era o maior e mais distante.

— Oi, Christian Quê pasa? — o rapaz gritou assim que viu o irmão, levantando-se de um salto para cumprimentá-lo.

Os dois eram bastante parecidos, embora as feições de Lúcio fossem mais delicadas e perfeitas, sem as linhas que Christian tinha em volta da boca e dos olhos. No entanto, aos vinte e sete anos, o rosto dele já estava começando a mostrar uma certa flacidez, provavelmente resultante da vida desregrada que costumava levar antes de se dedicar à revendedora.

— Acho que estou me saindo melhor do que você — Christian comentou, indicando a sala vazia lá embaixo.

Lúcio fez uma careta e abraçou o irmão com um gesto afetuoso.

— Não sei se sabe, mi hermano, mas o negócio de carros não está atravessando o seu melhor período.

Christian fingiu pena.

— Acha que terá que vender a revendedora?

— Nããão... Quem seria tolo o suficiente para comprá-la? Mas sente-se. Quer um café? Um refrigerante?

— Prefiro uma dose de uísque. Puro.

— Teve um dia duro?

Abrindo a porta de um barzinho, Lúcio tirou uma garrafa de rótulo preto e dois copos de uísque. Serviu o irmão de uma dose generosa, entregou-lhe o copo e, depois, colocou uma dose menor para si mesmo.

— Uma semana dura. Duas, na verdade. — Christian sorriu. — É incrível! Vocês, executivos, sempre têm uma garrafa de uísque escondida no escritório.

Lúcio ergueu as mãos com as palmas para cima, sorrindo também. Mas, logo em seguida, perguntou com seriedade:

— Qual é o problema?

— Você não acreditaria se eu lhe contasse.

— Experimente.

— Uma mulher.

Sonhando com Christian GreyWhere stories live. Discover now