Capítulo 12🌾A flor do café.

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"Cada pessoa é um mundo."

(Clarice Lispector)

A maioria das pessoas costumam detestar as segundas-feiras. Reclamam por ter que retomar à rotina corrida depois de um fim de semana de descanso. E precisar acordar cedo, correr no café da manhã para não se atrasar, se desdobrar para atender vários compromissos e ainda contar com serviços públicos lotados e que quase sempre não atendem a demanda.

Eu mesma já reclamei várias vezes de ter que enfrentar o trânsito caótico do Rio de Janeiro e de todos os excessos que a vida urbana nos impõe. Mas essa segunda-feira começou diferente. Em lugar das estrindentes buzinas, o canto dos pássaros. Ao invés da fumaça sufocante dos motores, inspiro o ar puro que entra por minha janela.

Parece distante a lembrança daquele café da manhã corrido em que quase engulo a torrada para não me atrasar. Não dá para comparar com a satisfação da mesa farta em minha frente, café quentinho coado na hora por Dodô e Bruno sentado na cabeceira me encarando com um discreto sorriso no rosto. Em uma mão tem uma fatia de pão, na outra, uma faca cheia de geleia.

Retribuo o sorriso. Ficamos nessa por um tempo.


__ Menina Lizandra! Vai entornar o café! __Dodô alerta. Estou com a xícara quase transbordando.

__Ah, desculpe! Que distração!

Já é a segunda vez que quase entorno café por causa dele...

Olho de lado, Bruno ri da situação.

__E você? Vai comer esse pão ou não? Está sujando minha toalha de mesa rendada com essa geleia pingando!__ Dodô chama atenção de Bruno também, deixando-o muito sem graça para minha vitória.__ Pior que geleia de Amora é difícil de sair a mancha!

__Desculpe Dodô.__ Bruno tenta secar com um guardanapo.

__ O que está havendo com vocês? Estão cansados por causa da festa?__ Dodô continua reclamando enquanto trabalha. Abaixo a cabeça para não me denunciar.

__ Você que está ranzinza hoje! É só uma toalha! Depois compro outra para você. __ Bruno tenta se defender, mas não tira o sorrisinho presunçoso dos lábios.

Tio Vladimir, até agora só nos observa. O homem parece acordar com uma fome de leão. Devora quase tudo que está na mesa.

__ Não, não, não, Doralice tem razão! Você está muito estranho hoje, meu sobrinho. Está de bom humor. Isso é raro. __ Engole um sequilho em seguida.

Seu comentário é o suficiente para Bruno fechar a cara.

__ O senhor em compensação não mudou nada, não é? Continua com o mesmo apetite de leão. __  Bruno o alfineta.

Vladimir não se abala com o comentário crítico do sobrinho.

__ Ah, isso é verdade. Apesar dos meus cinquenta e poucos, tenho uma saúde de ferro, porque me cuido e me alimento bem. __ Vladimir se vangloria enquanto devora um pedaço de bolo de cenoura.

Dodô tira a cestinha de pão de perto dele para se servir.

__ Vá devagar homem! Parece que voltou da guerra!

Fazenda 3 irmãos-No Vale do Café. Vol.1 Onde as histórias ganham vida. Descobre agora