Capítulo 26 🐸 Que bicho é?

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"Antes de ser um homem da sociedade, sou-o da natureza."

( Marquês de Sade)

O dia amanheceu chuvoso na fazenda. Olho pela vidraça da janela de meu quarto e dou graças aos céus pela chuva providencial que garantirá o fim de qualquer possível foco que ainda tenha ficado na mata. Os pingos da chuva que escorrem pela vidraça assemelham-se à lágrimas de lamento pelo estrago que a queimada causou.

Meu coração está apertado por tudo que presenciei ontem. Animais assustados, outros com queimaduras ou mortos. Parte da plantação perdida e o proprietário da fazenda totalmente inerte, sem forças para lutar à frente, como é de seu costume. Isso por causa dos traumas que precisa enfrentar, toda vez que se depara com algo que lhe traga à memória o dia fatídico em que perdeu a mãe e irmãos em um incêndio.

Durante o café da manhã fico sabendo através de Dodô, que Bruno saiu bem cedo para o centro da cidade. Ele tem pressa que a polícia inicie o mais rápido possível as investigações sobre a queimada.

__Se existe alguém tentando sabotar a fazenda, será descoberto. __ Explica Dodô.

__ Como ele estava?__ Pergunto preocupada.

__ Taciturno como sempre!__ Quem responde é Vladimir.

__ Ele estava muito preocupado.__ Dodô responde olhando Vladimir com cara feia por criticar o sobrinho.

__ Pediu para que deixássemos você dormir o quanto quisesse, pois se esforçou muito ontem e deveria estar muito cansada.__ Diz Betina.

__ Foi muito triste ver os estragos que a queimada causou, principalmente sabendo que alguém sem coração foi responsável por tal ato cruel...

Após o café-da-manhã, subo para meu quarto, envio um e-mail para meu professor com meus últimos relatórios do trabalho de conclusão do curso. Troco de roupa e vou de carro para o haras da fazenda. Quero ver como está osso potro recém-nascido e os animais resgatados.

Antônio está bastante atarefado. Quando me vê reaje como se tivesse recebendo a resposta de uma prece.

__ Graças a Deus chegou! __ Passa o braço por meu ombro e me guia para uma das baias.__ Esse lugar está um caos. Preciso vacinar um bezerro, fazer o curativo em um filhote de tamanduá mirim e ainda dar uma examinada no potro de Estrela...

__ Calma Antônio. Estou aqui para  ajudar. É só dizer o que precisa. Se eu não souber como agir em algum procedimento, te chamo.__  O tranquilizo.

Antônio dá um de seus sorrisos largos e pega minha mão.

__ Já te disseram que é um verdadeiro anjo, Lizandra?!__  Beija minha mão.

__ Segura tua onda!__ Sorrio e dou um tapinha em seu braço musculoso.

Quando viro para começar minha tarefa, dou de cara com Bruno nos encarando com uma expressão fechada.

__ Temos muito trabalho ainda para ser feito, não acha Antônio?!__  Bruno o observa.

Antônio vira dando um assobio e se retira.

__ Se veio para cá é para ajudar, não para ficar distraindo os funcionários. __ Diz seco, agora se dirigindo a mim.

Não acredito que tem a audácia de me tratar assim! Depois de tudo o que fiz ontem enquanto ficou a maior parte do tempo estático! Voltou com a postura arrogante e grosseira. Não tenho medo dele e vou lhe mostrar isso!

Respiro fundo e tiro coragem não sei de onde, mas mantenho uma distância segura.

__ Sempre dou o meu melhor no trabalho. Sabe muito bem disso. Mas  também sabe que não é minha obrigação fazer tudo o que tenho feito. Faço porque gosto de ajudar e estou com pena dos animais feridos, não porque você quer. Não sou sua empregada.__ Viro as costas e saio andando. Fico com a última palavra.

Fazenda 3 irmãos-No Vale do Café. Vol.1 Onde as histórias ganham vida. Descobre agora