XXII. Carpe Vita.

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— Eu não posso deixa-lá machucar a Lena – falei indo para a porta para ir atrás da Scorcher.

Mesmo com a porta aberta eu não conseguia atravessar como se uma parede invisível estivesse me barrando.

— O que é isso? Merda – digo tentando atravessar a porta.

— Lembra que eu disse que se você escolhe-se ficar você se tornaria um espírito que se esqueceria até mesmo da sua origem? – a Morte me questionou me olhando de lado.

— Lembro e daí? – perguntei ainda tentando atravessar a maldita barreira.

— Existe um nome para esses espíritos, atualmente vocês os chama de Hollow que significa "Oco" – ela falou se virando para mim – eles se tornam tão vazios que atacam qualquer um...  Esses espíritos, nós os eliminamos.

— Aonde você quer chegar com isso? – falei finalmente parando de tentar atravessar.

— Se você ficar... Eu terei que destruir seu espírito! – ela falou séria.

— Mas eu não posso deixar ela matar a Lena – falei em desespero.

— E como você vai impedir ela? Vamos me diga, como você vai fazer isso com o seu corpo naquela cama? – ela falou apontando para a cama – matar ela não vai resolver nada.

— Mas eu preciso impedir ela! – falei – não me importa o que vai acontecer comigo.

— Aqueles que seguem o caminho da vingança nunca acabam bem. Você só se destrói, ainda que tenha sucesso com isso, você se vinga e o que sobra com isso? – ela perguntou – nada. Apenas um vazio!

— Você apenas carrega as pessoas para a morte, o que sabe sobre a vida? Sobre o amor? – falei alto – você não sabe nada!

— Acha que eu sempre fui a morte? Não, eu nasci humana, cresci humana e me apaixonei mas eu quebrei as regras, então fui castigada por isso – ela falou séria.

— O quê? – falei em tom de choque.

— Há muitos, muitos anos atrás... Antes mesmo da humanidade saber o qual vasto era o mundo e o que havia nele, haviam duas tribos. Essas duas tribos viviam em guerra, os corpos de seus mortos geravam doenças que matavam em poucos dias mas então chegou um inverno avassalador que acarretou a fome para as duas tribos, a mulher do líder da tribo do sul estava grávida e durante a noite mais fria daquele ano onde muitos morreram na guerra, por fome e pela peste, nasceu a segunda filha do líder e ela foi chamada de Morana – ela falou calma – também conhecida como uma deusa da mitologia eslava, ela era deusa do inverno, da morte e da peste.

— Então você é... – perguntei.

— Sim, eu sou Morana, este foi o primeiro nome que eu recebi ao chegar a este mundo – ela respondeu.

— Se você era humana como se tornou... Isso? – questionei olhando para ela.

— Após o meu nascimento, meu pai propôs ao líder da tribo do norte paz, ele argumentou que seria melhor parar a guerra para que não houvessem mais mortos para espalhar a doença e que deveriam unir forças para sobreviver ao inverno, então a proposta foi bem aceita e eles uniram forças, poucos meses depois o inverno começou a ir embora, a peste acabou, a paz estava indo bem e logo a melhor época de colheita chegou, o tempo era repleto de alegria e então durante a melhor época daquele ano ao nascer do sol, nasceu a mulher pela qual eu aceitei o castigo da imortalidade, Elisa – ela falou dando um sorriso – Enquanto eu era o próprio sinônimo dos cavaleiros do apocalipse, Elisa era o sinônimo de abundância e paz.

— Mas por que você foi castigada?

— Eu me apaixonei por Elisa e tive a sorte dela ter gostado de mim. Eu conseguia saber quando as pessoas iam morrer e de que, quando eu estava por perto as flores morriam e as pessoas brigavam. Então eu me acostumei a ser sozinha, eu acabei criando hábitos de passear pela floresta e foi lá que eu encontrei... Ela me ensinou a manter a vida – ela falou saindo de perto da parede e se sentando na poltrona no quanto do quarto – por muito tempo vivemos um romance escondido mas logo isso não duraria para sempre pois nossos pais decidiram unir as tribos e para isso nossas famílias se juntariam... Só que para isso ela teria que se casar com meu irmão.

Ela parou de falar e ficou encarando a parede por alguns segundos.

— Eu tentei fugir com ela mas meu irmão nós encontrou antes e... Ele ia mata-lá mas eu não podia deixar, então nós brigamos mas ele era mais forte do eu... – ela parou novamente – na hora em que ele foi me apunhalar ela entrou na frente mas isso não impediu a espada de atravessar meu corpo, a espada não só me deixou no caminho da morte, ela também levou Elisa junto.

— E o que houve? – perguntei séria.

— De alguma forma eu a estava impedido de morrer. Eu não valorizei a vida e o tempo dela, então fui castigada a viver eternamente – ela falou voltando a olhar para mim.

— E o que aconteceu com Elisa? Ela morreu? – perguntei curiosa.

— Então, ela...

— Ela está viva e bem, obrigada! – falou a mulher loira de vestido branco que havia aparecido ontem.

— Então você é... – falei processando a informação.

— Elisa! – falou se apresentando – apesar de me conhecerem com a Vida hoje em dia.

— Então você também se tornou imortal? – questionei.

— Pelo mesmo motivo que a Morana, eu não valorizei o tempo e fui castigada a viver eternamente com ela – falou calma.

— Veja pelo lado bom, você me ama! – falou a Morte.

— Egocêntrica – respondeu Vida.

— Então, vocês tem vivido juntas durante todos esses anos? – perguntei.

— Sim, nosso trabalho é quase como uma biblioteca, as pessoas pegam os livros emprestados com ela e eu vou buscá-los quando o tempo acaba – falou a Morte.

— Falando em buscar, seu trabalho aqui acabou querida! – falou Vida olhando para a Morte.

— Qual foi a decisão? – ela perguntou.

— Se você levar ela morrer mais duas morrem e o tempo de vida não bate, você sabe disso! – ela séria olhando para a morena sentada.

— Certo, certo, farei o que quiser – falou morena ainda sentada.

— Não estou entendendo... – falei olhando para elas.

— É bem simples, ela está deixando o livro com você, então você não vai morrer – falou a Morte se levantando.

— Você não vai se lembrar de nada do que viveu como espírito – falou a Vida.

— Mas a Scorcher...

— Não se preocupe, nós vamos resolver isso – falou a Vida me cortando – ela está atrapalhando nosso trabalho.

— Está tudo bem pirralha, você não precisa se preocupar com nada – falou a Morte rindo.

— Como vocês tem tanta certeza? – perguntei preocupada.

— Muitos anos de experiência! – falou a Vida dando um sorriso.

— Kara. O ontem é história, o amanhã é um mistério e o hoje é uma dádiva, por isso que o chamamos de presente! – falou a Morte colocando a mão no meu ombro – viva um dia de cada vez, viva cada dia como se ele fosse o último para que quando você chegar no fim, não haja arrependimentos!

— Bom, está na hora – falou a Vida – Carpe vita.

Ela então apenas estalou os dedos e eu novamente, apaguei.

Ao abrir os olhos, senti uma luz forte atravessar minha pupila fazendo meus olhos doerem.

Onde eu estou?

Continua...

Carpe vita significa "Aproveite a vida" em latim.
E bom, o capítulo demorou pra sair por que eu estou ocupada aproveitando a minha vida, mesmo que haja dias ruins.
Pois eu não tenho tempo para ficar lamentando tudo de ruim que eu tô passando, eu ando muito ocupada tralhando duro para que no futuro que não hajam dias ruins.
E é isto, eu espero que vocês aproveitem o capítulo e a mensagem que o trouxe nele.
2020 foi um ano horrível e muito difícil, eu espero que todos nós possamos continuar fortes em nossas lutas diárias para que no futuro possamos mover montanhas.

You Make Me Feel So High | SupercorpWhere stories live. Discover now